Em 2012 a pianista Eve Risser apresentou-se ao mundo. O disco En Corps, gravado em trio com Benjamin Duboc (contrabaixo) e Edward Perraud (percussão), surpreendia o mundo da improvisação pela forma pouco comum da música apresentada. Apesar do cariz improvisado, o piano de Risser diferenciava-se desde logo: pelo som distintivo do seu piano preparado, pela dinâmica rara da música. Evitando clichés típicos, como os crescendos e explosões de energia, a música de Risser prefere evoluir tranquilamente, sem sobressaltos.

Nesta sua estreia pela editora portuguesa Clean Feed, Eve Risser estreia-se também no formato solo. Sem a companhia de Duboc ou Perraud, a pianista francesa trabalha sem qualquer rede de apoio, tem aqui a sua primeira investida solitária. Neste Des pas sur la neige Risser vai desenvolvendo uma música que, parecendo estática, vai evoluindo na sua própria forma. Como uma nuvem que, lá no céu, lentamente vai atravessando o nosso campo de visão, sem perder a forma, mas transformando-se lentamente quase sem darmos por isso.

Com Risser não ouvimos o som “puro” do piano clássico, há sem algo a perturbar, há sempre objectos aplicados sobre as cordas do interior do piano, distorcendo o som natural, gerando novas sonoridades. O som do piano é, tal como a música, trabalhado metodicamente, nunca nada surge de forma brusca. A música assenta em padrões repetitivos, que vão evoluindo como se fosse em forma de espiral, regressando a si mesmos mas acrescentado algo ligeiramente diferente da volta anterior.

Este novo disco continua a aprofunda o trabalho que a pianista já havia revelado em En Corps, dando aqui mais passos em frente - atravessando um campo de neve e pelo caminho deixando pegadas como mais ninguém. Esta é uma música atmosférica, elegantíssima e, ousemos dizer, estranhamente bela.