DISCOS
Earl Sweatshirt
I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside
· 11 Mai 2015 · 12:03 ·
Earl Sweatshirt
I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside
2015
Tan Cressida / Columbia
Sítios oficiais:
- Earl Sweatshirt
I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside
2015
Tan Cressida / Columbia
Sítios oficiais:
- Earl Sweatshirt
Earl Sweatshirt
I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside
2015
Tan Cressida / Columbia
Sítios oficiais:
- Earl Sweatshirt
I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside
2015
Tan Cressida / Columbia
Sítios oficiais:
- Earl Sweatshirt
Dazed and Confused.
Na sua obra O Cão dos Baskervilles, Sir Arthur Conan Doyle coloca o seu personagem Sherlock Holmes a relatar uma noite em que, embora o seu espírito tenha vagueado pelas charnecas de Devonshire, o seu corpo esteve no mesmo sítio, e consumiu “dois grandes bules de café e uma quantidade incrível de tabaco”. Substitua-se estas substâncias pelos charros – e algum álcool e Xanax - que sao referência constante na música de Earl Sweatshirt, e não será complicado imaginá-lo a passar uma noite em casa, rodeado das mesmas, a escrevinhar e a debitar os pensamentos e rimas que compõem o seu novo disco. Claro que Earl não se dedica a resolver crimes. A não ser que se ache que a malta que se quer aproveitar da fama e do talento dele sejam “criminosos”. Trata-se, isso sim, de visualizar o paralelo entre duas personagens que vivem por largos minutos dentro das próprias mentes, a usá-las para procurar algum sentido naquilo que está “lá fora”.
Tal como no anterior Doris (álbum do ano de 2013 deste vosso amigo), boa parte da produção de I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside é responsabilidade do próprio Earl. Que aqui se revela mais soturno e arrastado que nunca. Muito reverb nas guitarras, muita sujidade, baixos letárgicos. Os beats parecem submergir, repercutir como o som de balas, ou afogados em xarope espesso. Só a parte instrumental deste disco fá-lo-ia uma obra valiosa de se ouvir. Aliás, se um dia vier a ser editada, um pouco à semelhança das Special Herbs de MF Doom, ninguém deverá ficar espantado. Mas, tal como no caso do senhor da máscara de metal, Earl é um óptimo MC e letrista. E o disco, da forma em que nos é apresentado, deve ser ouvido como um todo coerente. Um todo onde o seu autor oscila entre diferentes pólos. Seja o pólo hedonista dos prazeres trazidos pela fama. Seja o pólo desconfiado dos falsos amigos que aparecem como cogumelos nestas alturas, que obriga a procurar refúgio naqueles que ele sabe serem verdadeiros. Seja o pólo da família, que sempre teve grande importância para Earl. Como a mãe que o mandou para uma escola/reformatório na sua Samoa natal.
Os versos de Earl Sweatshirt neste álbum andam geralmente à volta destas temáticas, sem nunca encontrar um ponto de equilíbrio que satisfaça o seu autor. Ou que, pelo menos, o faça parecer feliz e realizado. Earl sabe o talento que tem, e também sabe os riscos que ele lhe traz. Sabe que a vida é efémera, e também sabe que não a quer tornar mais efémera ainda. Sabe que conquistou um grande número de fãs que admiram o seu talento, e sabem as suas letras de cor e salteado. E esses fãs irão devorar I Don’t Like Shit… com sofreguidão. E ao mesmo tempo não tem a certeza de saber lidar com essa pressão.
O disco são 30 minutos que passam - mesmo - a correr. 30 minutos em que o flow de Earl se apresenta mais lento e pausado do que em ”Doris”, a combinar com as temáticas do álbum. As palavras parecem sair ao ritmo a que são postas em papel. E ele apresenta-se mais focado e introspectivo que nunca, a ponderar sobre qual é o seu verdadeiro estado de espírito no momento presente. Se calhar às vezes bastava-lhe ser um puto de 21 anos que gosta de charros, miúdas e estar com os amigos. Mas as suas músicas transmitem a nítida sensação de uma necessidade de se exprimir. De por cá para fora o que o diverte e o que o atormenta. De procurar algum sentido, ou de pelo menos perceber que ele não existe. Assim se formam os cultos. Assim se revelam grandes autores.
Nuno ProençaTal como no anterior Doris (álbum do ano de 2013 deste vosso amigo), boa parte da produção de I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside é responsabilidade do próprio Earl. Que aqui se revela mais soturno e arrastado que nunca. Muito reverb nas guitarras, muita sujidade, baixos letárgicos. Os beats parecem submergir, repercutir como o som de balas, ou afogados em xarope espesso. Só a parte instrumental deste disco fá-lo-ia uma obra valiosa de se ouvir. Aliás, se um dia vier a ser editada, um pouco à semelhança das Special Herbs de MF Doom, ninguém deverá ficar espantado. Mas, tal como no caso do senhor da máscara de metal, Earl é um óptimo MC e letrista. E o disco, da forma em que nos é apresentado, deve ser ouvido como um todo coerente. Um todo onde o seu autor oscila entre diferentes pólos. Seja o pólo hedonista dos prazeres trazidos pela fama. Seja o pólo desconfiado dos falsos amigos que aparecem como cogumelos nestas alturas, que obriga a procurar refúgio naqueles que ele sabe serem verdadeiros. Seja o pólo da família, que sempre teve grande importância para Earl. Como a mãe que o mandou para uma escola/reformatório na sua Samoa natal.
Os versos de Earl Sweatshirt neste álbum andam geralmente à volta destas temáticas, sem nunca encontrar um ponto de equilíbrio que satisfaça o seu autor. Ou que, pelo menos, o faça parecer feliz e realizado. Earl sabe o talento que tem, e também sabe os riscos que ele lhe traz. Sabe que a vida é efémera, e também sabe que não a quer tornar mais efémera ainda. Sabe que conquistou um grande número de fãs que admiram o seu talento, e sabem as suas letras de cor e salteado. E esses fãs irão devorar I Don’t Like Shit… com sofreguidão. E ao mesmo tempo não tem a certeza de saber lidar com essa pressão.
O disco são 30 minutos que passam - mesmo - a correr. 30 minutos em que o flow de Earl se apresenta mais lento e pausado do que em ”Doris”, a combinar com as temáticas do álbum. As palavras parecem sair ao ritmo a que são postas em papel. E ele apresenta-se mais focado e introspectivo que nunca, a ponderar sobre qual é o seu verdadeiro estado de espírito no momento presente. Se calhar às vezes bastava-lhe ser um puto de 21 anos que gosta de charros, miúdas e estar com os amigos. Mas as suas músicas transmitem a nítida sensação de uma necessidade de se exprimir. De por cá para fora o que o diverte e o que o atormenta. De procurar algum sentido, ou de pelo menos perceber que ele não existe. Assim se formam os cultos. Assim se revelam grandes autores.
nunoproenca@gmail.com
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