DISCOS
Viet Cong
Viet Cong
· 31 Mar 2015 · 21:51 ·
Viet Cong
Viet Cong
2015
Jagjagwuar


Sítios oficiais:
- Viet Cong
- Jagjagwuar
Viet Cong
Viet Cong
2015
Jagjagwuar


Sítios oficiais:
- Viet Cong
- Jagjagwuar
Post-punk com cheiro a morte.
Será difícil ouvir o disco de estreia homónimo dos Viet Cong e não ficar com a ideia de que, polémicas à parte, o nome escolhido pelo quarteto é o seu melhor cartão-de-visita. Afinal de contas, este álbum de capa em tons cinzentos meio sombrios só nos traz, quer queiramos quer não, ideias muito macabras à cabeça, daquelas que nos povoam o imaginário assim que acabamos de ver um qualquer filme sobre a guerra do Vietname e os horrores aí praticados. O napalm, as chacinas de aldeias repletas de mulheres e crianças, as torturas, físicas e psicológicas, tudo isso, num pequeno instante, subirá à vossa memória. Isto, claro está, se forem como nós e também tiverem a mania de tentar encontrar referências em tudo o que é sítio.

Se não as quiserem ou conseguirem ver, a música de Viet Cong fará, ainda assim, tudo ao seu alcance para vos pôr numa posição incómoda. As descargas de distorção, os drones hipnóticos, os detritos digitais que pontuam a percussão, a produção lo-fi de sótão penumbrento e os rendilhados psicadélicos que vão despontando por entre o negrume, tudo isto se converte num post-punk frio e gélido que vai evocando, a espaços, o cheiro e o sabor a carvão e as atmosferas fantasmagóricas duma Inglaterra perdida entre os anos 70 e os 80 (e basta ouvir “Silhouettes” para sentir o peso da sombra de “Love Will Tear Us Apart”).

O desconforto é uma constante neste disco impróprio para os fracos de espírito (e de ouvidos), e só aumenta quando sabemos que estes Viet Cong nasceram dos restos dos Women, banda que conheceu o seu fim em 2012 com a morte do guitarrista Christopher Reimer e da qual este quarteto herda grande parte da estética. Fica assim explicado o tom fúnebre de canções como “Death”, “Continental Shelf” ou a já referida “Silhouettes”, apenas interrompido pela luzidia “March of Progress”, que, apesar do maquinal começo, acaba por desembocar numa resplandecente cavalgada. Posto isto, fica o aviso: os fãs de contemporâneos como Ought ou Iceage circa 2013 vão querer passar por aqui, mas é bom que preparem os estômagos para o cheiro a morte de Viet Cong.
João Morais
joao.mvds.morais@outlook.com

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