DISCOS
Sleater-Kinney
No Cities To Love
· 13 Mar 2015 · 17:58 ·
Sleater-Kinney
No Cities To Love
2015
Sub Pop


Sítios oficiais:
- Sleater-Kinney
- Sub Pop
Sleater-Kinney
No Cities To Love
2015
Sub Pop


Sítios oficiais:
- Sleater-Kinney
- Sub Pop
Girls to the front? Não. Muito à frente.
Ouvi em tempos, durante uma fase turbulenta de uma viagem de avião, que o céu é como uma estrada. E como tal, tem as suas curvas e contracurvas, e devemos imaginá-lo assim para dominar o medo que possamos sentir. Já o mínimo que se pode dizer deste disco de regresso do trio de Corin Tucker, Carrie Brownstein, e Janet Weiss, é que se deseja que nunca esteja nos headphones de um piloto de linha aérea. Ou vai ser preciso mais que as palavras de uma hospedeira para me acalmar.

No final de 2014, nove anos depois do excelente The Woods, as Sleater-Kinney fizeram o favor de melhorar exponencialmente o ano com uma canção fabulosa chamada “Bury Our Friends”. Daquelas cujo refrão nos faz erguer os braços, espetar os indicadores no ar, e imaginar que estamos diante do palco onde as três senhoras fazem a sua performance. Em 2015, sai este No Cities To Love, composto de 32 minutos de riffs para abanar ombros, cinturas e tornozelos, bateria em propulsão vitaminada, e Corin Tucker a soar mais forte e vital que nunca nas suas melodias. Não havia nada de errado com o disco das Wild Flag, e voltarei a ouvi-lo com muito gosto. Simplesmente, as Sleater-Kinney pertencem a outra divisão.

Um bom exemplo aparece logo no modo como as guitarras de Tucker e Brownstein interagem na faixa de abertura, “Price Tag”. Veja-se a maneira como uma começa onde a outra “acaba”, tal e qual dois MCs de hiphop jogam ao “passa o mic”. Ou siga-se para “Surface Envy”, onde percebemos que esta, apesar de falar de assuntos sérios, não é música para olhar para o chão. Excepto para não pisarmos ninguém enquanto dançamos ou pulamos freneticamente. Isto é alimento vitaminado para a adrenalina, a fúria. “A New Wave” tem daqueles riffs que, basicamente, rendem pela vida. Serpenteante, cinético e contagiante. Tirando uma talvez mais “básica” “Gimme Love”, as restantes seis canções de ”No Cities To Love” têm todas esta capacidade de servir de conduta para uma atitude de desafio. É verso-refrão-verso. Mas todos eles debitados como uma onda gigante a puxar uma avalanche de grunhos para trás.

Quem já viu no YouTube (e se não viram, vejam) as actuações do trio nos programas de televisão norte-americanos, saberá que as três Sleater-Kinney cantam e tocam de forma entusiasta, e determinadas a demolir qualquer noção de acalmia. E que, vendo o que são capazes de fazer num estúdio, não será difícil supor que sejam ainda melhores num palco diante dos seus fãs. Pena que em Portugal pareça não existir suficientes para as levarem ao Primavera. Ficavam tão bem no lugar de certas inutilidades que lá estarão. A quem tiver a sorte de as ver, seja lá onde for, lembre-se, como em “Fade”: "f we are truly dancing our swan song, darling / Shake it like never before”. Saltemos novamente. ”We speak in circles / We dance in codes…".
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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