Olhando para trás parece fácil dizê-lo, mas o tempo de vida da chillwave e do "movimento" que provocou nunca seria longo. Não obstante alguns bons discos daí retirados, o género sempre soou mais a uma blueprint daquilo que determinado artista poderia vir a ser assim que deixasse de estar confinado às paredes do seu quarto e ao seu computador. Daí que a larga maioria dos artistas anteriormente com ela conotados façam, hoje em dia, música bastante díspar: Washed Out abraçou definitivamente a synthpop, Toro Y Moi apontou às pistas de dança e este mesmo Tropics, neste seu novo disco, pegou no r&b de cariz mais indie e deu uma volta completa à sua sonoridade original.

Já não é portanto a aura magnética dos sintetizadores de Nautical Clamor, de 2012, que nos prende a Tropics, mas sim a sua voz, que aparece aqui em primeiro plano acima dos beats lânguidos a fazer lembrar um The Weeknd melhor produzido; um timbre afeminado tão em voga nos dias que correm mas que resulta e faz eriçar a pele. Did I just let you go / It felt so wrong, o verso com que abre a bonita "Blame", é um óptimo exemplo daquilo que esperar de Rapture: uma ascensão sonora que, ao mesmo tempo, cai no abismo do romance mal medido e do coração quebrado do adolescente fanfarrão.

Rapture é um belo disco, mas, tal como com a chillwave, não se espere muito mais do que isto. Não que seja preciso; o lounge de "Hunger", a apontar a bandas como os Rhye, o pseudo-chillwave do tema-título e o espectro que paira sobre "Gloria" são todos eles bons motivos para apostar em Tropics como uma das revelações de 2015, ainda que não o seja por pleno direito dado o trabalho que já lhe conhecíamos. Mas fica o registo da sua salutar maturação e dos onze temas que compõem Rapture, ideais para os últimos dias de aconchego fofinho no inverno. Depois um tipo sua e já não quer abraçar ninguém.