Nasceu em S. Paulo, Brasil, em 1976. Quatro anos mais tarde, mudou-se para Barcelona, Espanha, onde continua a viver e a criar textos, sons e imagens. Seu nome é Dídac P. Lagarriga, mentor do projecto Un Caddie Renversé dans L’Herbe. Like a packed cupboard but quite… dá título ao seu quarto trabalho de originais, depois da edição, sem grandes paragens, de Toplop Pak (2000), de Some Nenu Songs (2002) e de Now there’s a weird taste in my mouth (2003) e do álbum de remisturas de temas de gente como DJ Olive, Stephen Vitiello e OnCe11, Polyhedric Tetrapac (2001). Quebrar com os preconceitos e responder à vacuidade que para o artista e ser viajante representam termos inventados pela indústria cultural como “música do mundo� ou “exótica� são, assumidamente, as ideias que acompanharam Lagarriga ao longo do processo de construção deste álbum.

Em Like a packed cupboard but quite… há espaço para um tudo e para um nada, sem nunca se adivinhar, na sua audição, um qualquer vestígio de sufoco ou aborrecimento. Há instrumentos africanos como o berimbau, a kalimba, a mbira ou o balafone, a conviverem apaixonadamente com instrumentos como o piano, a guitarra, o baixo, os sinos, o violoncelo ou o software electrónico. Há respirações e silêncios nos momentos certos, acima de tudo. Não há palavras, antes uma linguagem universal concretizada a partir de ferramentas conjugadas e transformadas vozes.

Minimalismo repetitivo, fluidez, simplicidade, levitação, tranquilidade e sonho. Múm, Matmos, Penguin Cafe Orchestra e Pascal Comelade. Inocência e pureza. Sons orgânicos, mas também electrónicos. Eis algumas das referências possíveis de detecção no universo de Un Caddie Renversé dans L'Herbe, um mundo feito de música sem um espaço e um tempo definidos, uma caixinha de surpresas em viagem.

Like a packed cupboard but quite revela-se, neste sentido, como um agradável e confortante conjunto de subtis exercícios de massagem que, ao final do dia, nos acaricia a alma, o corpo e o intelecto. Pode nos fazer voltar a sorrir depois um dia de trabalho exaustivo ou simplesmente nos adormecer, remetendo-nos para um sonho que nos recorda uma infância feita de reboliços na relva fresca, num dia de Verão, ou de castelos de areia ou de gelados de morango ou de papas Cerelac.

Um guarda-loiça que alberga peças de todo o lado e de lado nenhum simultaneamente, cuja criação foi inspirada aqui e ali, por isto e por aquilo, certamente nos dará uma imagem próxima do que a audição deste álbum nos proporciona - essencialmente, música em processo e em jornada, jamais hermética. Ou não estivéssemos a falar de um álbum com título inglês, idealizado por um brasileiro sediado em Espanha que deu nome francês ao seu projecto.

Por enquanto, relaxante, este álbum.