DISCOS
Damon Albarn
Everyday Robots
· 14 Out 2014 · 15:09 ·
Damon Albarn
Everyday Robots
2014
Parlophone


Sítios oficiais:
- Damon Albarn
- Parlophone
Damon Albarn
Everyday Robots
2014
Parlophone


Sítios oficiais:
- Damon Albarn
- Parlophone
Humano como nós.
Apesar de ter virado moda na internet o maldizer sistemático e automático de tudo o que esteja minimamente relacionado com a britpop e derivados, a verdade é que Damon Albarn continua a ser, quer queiramos quer não, um dos nomes cimeiros da pop feita na pérfida Albion nos últimos 30 anos. E se o corpo de trabalho nos Blur não chegasse para justificar por inteiro esse estatuto, a excelente música por ele parida nos Gorillaz e em The Good, the Bad & the Queen (2007) bastaria para que, num mundo sensato, estivesse tirada a definitiva prova dos nove.

Everyday Robots, estreia “a sério” do britânico nesta coisa dos discos a solo, só vem atestar esse mesmo estatuto de autor de excepção, e logo às primeiras notas da faixa-título que abre o registo percebemos que estamos novamente perante canções de um génio que sabe como poucos dissecar a fundo, para além do limite do conforto, as fragilidades da condição humana. Com uma base conceptual assente no conflito entre o analógico e o digital e a dicotomia “Homem vs máquina”, Albarn atira-nos ao tapete com melancólicos tratados sobre a alienação e a anomia em plena era da comunicação em rede.

Não se julgue, porém, que encontraremos aqui uma série de aborrecidos sermões e juízos de valor sobre a forma como nos estamos a deixar levar pelas falsidades do mundo digital, ou uma glorificação ridícula dos “bons velhos tempos”; longe de vestir a pele de um purista ou de nos chatear com saudosismos, Damon Albarn traz-nos, em peças como “Lonely Press Play”, “Hostiles” ou “Photographs (You Are Taking Now)”, pequenos pedaços de compaixão vindos de alguém que, tal como nós, também se vê emaranhado nestas contradições do mundo moderno. E basta ouvir a forma como a guitarra acústica e o piano se vão enrolando com os samples e com as máquinas de ritmos, num misto de folktronica e trip-hop, para percebermos que ninguém aqui está em posição de nos julgar.

É com pena, portanto, que vemos a cândida e inocentemente alegre “Mr Tembo” (canção supostamente escrita como prenda de aniversário para a filha de Albarn) a surgir como um ovni no meio de toda esta melancolia intimista e emocionalmente devastadora e a estragar o colosso conceptual de Everyday Robots. Não fosse isso, e um ou outro apontamento menos conseguido, e teríamos um álbum para a lista da década. Assim sendo, ficamos “apenas” perante um registo que se eleva sobre a maioria dos LPs lançados em 2014. E é impossível chegar ao final de “Heavy Seas of Love”, faixa que encerra o disco, e não pensar que assim é.
João Morais
joao.mvds.morais@outlook.com

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