Tal qual vocifera Blixa Bargeld na mítica "Armenia", dos Einstürzende Neubauten, ainda acreditamos em vodu. Acreditamos no paranormal, naquilo que a ciência e a mente não conseguem explicar por falta de informação - ou imaginação -, acreditamos que há forças que escapam ao controlo da mão humana e nos dizem mais acerca da nossa condição que todas as obras de arte ou engenho que as precederam. Acreditamos no poder do som, deste som, propulsor de transes e misticismos vários. Ayahuasca é só nome para uma bebida.

Acreditamos que Throat Permission Cut, apesar do nome, não pede permissão para celebrar a sua magia negra connosco. Que o ritmo inicial, tribal, de "Isaac, The Throat", nos vai falar directamente ao espírito ainda que não possuamos provas de que essa coisa existe. Existem os HHY & The Macumbas, chave para as portas da percepção (que pensaria Aldous Huxley acerca deste disco?), enigma ainda por desvendar dentro do panorama musical nacional e que, muito provavelmente, nunca será desvendado, da mesma forma que não se desvendam os poderes de um xamã perdido no leste, e a leste, do mundo.

A percussão é a chave da vida; o ritmo está presente desde o primeiro bater dos nossos corações, ainda dentro do ventre materno. Aqui, esse ritmo é não raras vezes metálico, acompanhado por uma visão muito própria do dub, também ele um estilo potenciador. Em quarto fechado ou espaço aberto, no negrume ou iluminado por uma ténue chama proveniente de uma vela, Throat Permission Cut é magistral na abertura do corpo e do incorpóreo. O equivalente musical ao segundo capítulo, quarto versículo dos Atos dos Apóstolos: Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava. Sem hipótese de fugir.