DISCOS
Ai Aso
Lone
· 25 Set 2014 · 16:25 ·

Ai Aso
Lone
2014
Ideologic Organ
Sítios oficiais:
- Ideologic Organ
Lone
2014
Ideologic Organ
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Ai Aso
Lone
2014
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Nossa Senhora da Solidão.
«Preciso de estar só. Preciso de meditar na minha vergonha e no meu desespero em reclusão; preciso do sol e das pedras das ruas sem companhia, sem conversa, cara a cara comigo próprio, tendo a acompanhar-me apenas a música do meu coração». Escreveu-o Henry Miller em Trópico de Capricórnio. Escreve-o agora Ai Aso, cantora japonesa que, ocasionalmente, colabora com os Boris. Não o escreve: canta-o. Canta a solidão, esse bicho feio e tremendo que não provoca qualquer lágrima - só choramos quando há alguém por quem chorar. Canta-a em Lone, disco ao vivo editado este ano, após quatro registos obscuros.
Mas como é que é possível que um disco ao vivo verse sobre a solidão? Qual é o truque de Ai Aso? Escutamo-la rodeada de gente que a aplaude. Aliás, começa precisamente o disco dessa forma: com o aplauso. Com o reconhecimento. Com a ideia de que Aso não está só, de que há ali pelo menos uma dezena de pessoas a acompanhá-la. Se não uma centena. Depois vem a voz, límpida como a neve e como a guitarra que a acompanha. A letra perde-se na tradução, a voz é universal; uma mágoa enorme e solitária (todas as mágoas são solitárias) que lhe atravessa a garganta. Falamos de "Agenda", a primeira canção, que podia perfeitamente ser a última tal é a falta de força que lhe percebemos.
A solidão é, também ela, a falta de uma força. Por vontade, ou por medo, a pessoa esconde-se do mundo. Aso decidiu inverter esse papel e apresentar-se ao mundo ainda solitária, mel no lábio e histórias para contar, à procura de um ombro amigo. Lone acaba por não ser um disco. É um registo terapêutico. E nós que o escutamos somos, todos, psicólogos de Ai Aso, ao mesmo tempo que tentamos esconder a nossa própria solidão, a nossa própria falta de força. Quando entra "Kamitsure No Ookina Mizutamari", a doçura mantém-se. A Aso, abraçamo-la com os ouvidos e com a alma. Mais ainda quando a guitarra pára por segundos e fica simplesmente a voz, ecoando em cadência. Canção tremenda e disco ainda maior.
Quando entra o teclado de "Most Children Do", se ainda não nos fomos abaixo ou apaixonámos por esta solidão, por esta figura de solidão, e por esta Nossa Senhora da Solidão que nos canta e cantará durante mais meia-hora, é sinal de que no peito guardamos um cemitério ao invés de um coração. Ai Aso é, em Lone, um fragilizado esqueleto cujas canções se constroem à medida que a luz se vai fechando e o tempo passa. Nem a procura pela alegria que enceta no silabar de "Colchicum" abrirá a porta. Se não a tirarem dali, será tarde demais para ela. Mas se a tirarem não voltaremos a ouvir um disco tão belo, tão intrigante e tão carregado de desespero quanto este. Há pessoas que têm a certeza que ficam melhor sozinhas e nessa situação não haverá Alice DeeJay que lhes valha.
Paulo CecílioMas como é que é possível que um disco ao vivo verse sobre a solidão? Qual é o truque de Ai Aso? Escutamo-la rodeada de gente que a aplaude. Aliás, começa precisamente o disco dessa forma: com o aplauso. Com o reconhecimento. Com a ideia de que Aso não está só, de que há ali pelo menos uma dezena de pessoas a acompanhá-la. Se não uma centena. Depois vem a voz, límpida como a neve e como a guitarra que a acompanha. A letra perde-se na tradução, a voz é universal; uma mágoa enorme e solitária (todas as mágoas são solitárias) que lhe atravessa a garganta. Falamos de "Agenda", a primeira canção, que podia perfeitamente ser a última tal é a falta de força que lhe percebemos.
A solidão é, também ela, a falta de uma força. Por vontade, ou por medo, a pessoa esconde-se do mundo. Aso decidiu inverter esse papel e apresentar-se ao mundo ainda solitária, mel no lábio e histórias para contar, à procura de um ombro amigo. Lone acaba por não ser um disco. É um registo terapêutico. E nós que o escutamos somos, todos, psicólogos de Ai Aso, ao mesmo tempo que tentamos esconder a nossa própria solidão, a nossa própria falta de força. Quando entra "Kamitsure No Ookina Mizutamari", a doçura mantém-se. A Aso, abraçamo-la com os ouvidos e com a alma. Mais ainda quando a guitarra pára por segundos e fica simplesmente a voz, ecoando em cadência. Canção tremenda e disco ainda maior.
Quando entra o teclado de "Most Children Do", se ainda não nos fomos abaixo ou apaixonámos por esta solidão, por esta figura de solidão, e por esta Nossa Senhora da Solidão que nos canta e cantará durante mais meia-hora, é sinal de que no peito guardamos um cemitério ao invés de um coração. Ai Aso é, em Lone, um fragilizado esqueleto cujas canções se constroem à medida que a luz se vai fechando e o tempo passa. Nem a procura pela alegria que enceta no silabar de "Colchicum" abrirá a porta. Se não a tirarem dali, será tarde demais para ela. Mas se a tirarem não voltaremos a ouvir um disco tão belo, tão intrigante e tão carregado de desespero quanto este. Há pessoas que têm a certeza que ficam melhor sozinhas e nessa situação não haverá Alice DeeJay que lhes valha.
pauloandrececilio@gmail.com
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