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Caustic Window
Caustic Window LP
· 04 Set 2014 · 10:00 ·

Caustic Window
Caustic Window LP
2014
Rephlex
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2014
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Caustic Window
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2014
Rephlex
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2014
Rephlex
A invulgar existência de Richard D. James?
Na primeira metade dos anos noventa, Richard D. James dividia a sua pessoa por múltiplos alter-egos: Aphex Twin, Bradley Strider, Polygon Window, Caustic Window (e sabe se lá mais o quê que ainda poderá estar enterrado no fundo de uma pilha de vinis de um qualquer melómano – agora mais preocupado em dar de comer à família). Richard D. James veio do nada como Aphex Twin em 1992, acolhido pela Apollo – subsidiária da R&S Records. Selected Ambient Works 85-92 foi o mostruário de apresentação oficial do talento do rapaz – que começou a brincar com máquinas sonoras com 13 anos de idade. Mas a ideia de menino-prodígio pairava há um ano desde que Richard apresentou o EP Analogue Bubblebath a alguém de quem a história agora não reza. The Aphex Twin Classics, de 1995, da R&S Records, fez o balanço dos primeiros anos de vida de Richard D. James como prodígio do novo mundo da electrónica.
Os EPs Digeridoo e On sucederam-se ao primeiro volume de Selected Ambient Works. Algures pelo meio, Richard D. James entalou um disco chamado Surfing On Sine Waves, assinado como Polygon Window, que se inseriu na perfeição na série Artificial Inteligence da Warp – que mais tarde acabaria por originar a designação IDM: Inteligent Dance Music. O estatuto de Richard, como pioneiro de uma nova linguagem electrónica experimental – que tanto podia cruzar subtilmente Brian Eno, Kraftwerk ou Model 500 –, cresceu de um mês para o outro. Aphex Twin agigantou-se e entrou, descontraída e meritoriamente, na grande liga dos intelectos (visionários) da nova música electrónica urbana, que transpirava por todos os poros o esforço para dar carácter ao que o boom do acid-house começara. A Rave, passada a histeria, não se podia resumir a algo unicamente desenhado para o corpo, e logo destinada apenas à pista de dança. Esta música tinha de ter outro significado.
808 State, KLF, Orbital, The Orb, B12, Black Dog, LFO, Underworld, Ultramarine, Underground Resistance, Aphex Twin – e toda a magistaral escola da Warp e da R&S Records (com nomes que infelizmente se perderam no tempo) – provaram com sabedoria que house, ou tecno, e qualquer variante das duas, não era música de "bolinhas". Entre o nervosismo do hardcore-techno, do acid-house, ou da génese do trance ou do jungle, e o rápido estafar de fórmulas, os pensadores arquitectavam o futuro – aquele que permite, hoje em dia, ter o House ou o Techno como linguagens competentes e respeitáveis na contemporaneidade da nossa música.
De Caustic Window LP - 2014pouco haveria a dizer se não tivesse Richard D. James como a alma por detrás do alter-ego; a assinatura. Há que ser sincero. Este disco, agora desenterrado, se não tivesse a assinatura de Richard D. James seria no máximo uma nota de roda de pé de um qualquer blog de um melómano a achar que encontrou uma pérola incompreendida por consequência do excesso de inventividade dos anos 90.
Dito isto, que fique desde já assente que este disco perdido é para mim completamente indiferente às voltas que deu para ver a luz do dia. No entanto, uma pergunta impõe-se: porque é que Richard e a “sua” editora Rephlex nunca levaram este disco para além da primeira (e única) prensagem em 1994? Uma dúzia de cópias andaram por aí, e a coisa começou a falar-se agora quando o senhor Minecraft comprou um dos exemplares. Tirando o crowdfunding na primeira metade deste ano para se conseguir cópias digitais originais para os investidores, tudo acabando no You Tube, torrents e pirataria generalizada, este surgimento mágico serviu exactamente para quê?
Caustic Window lançou dois EPs em 1993 e 1994; o momento alto da sua existência caustica foi quando “Cunt” foi oferecido ao alinhamento da mítica compilação da Volume, Trance Europe Express 3 – em 1994 – como uma coisa não muito importante.
Este Caustic Window LP - 2014 pode estar a ser encarado como uma obra perdida no imenso espólio de Richard D. James mas a verdade é que ela nunca esteve perdida. O próprio Aphex Twin considerou todo o alinhamento, à época, como uma colecção de restos de experiências que não estavam à altura do seu grande nome. A coisa passou; foram anos de indiferença. Restos?
Vou ser paradigmático: tempo volvido desde 1994, Caustic Window LP tem algo de pertinente para o nosso presente ou é música repleta de naftalina? O valor documental não pode ser ignorado; é fruto de uma geração: e o que poderá significar o lixo da época perante o vazio criativo do presente? As ironias são interessantes, e desconcertantes.
Quem conhece Surfing On Sine Waves, de Polygon Window, e ...I Care Because You Do de Aphex Twin, depressa concluirá que este Caustic Window foi apenas um tubo de ensaio para Drukqs (e que o assustador Richard D. James Album apareceu como uma indulgência conceptual imposto pelo mega-ego).
A inocência de Aphex Twin perdeu-se no meio da década de 90. A ideia de arquitecto empírico deu lugar a um académico obcecado, desligado da humanidade – a melodia quente deu espaço a retóricas frias e maquinais –, e que o levou a ser uma pálida sombra de si mesmo quando os aprendizes começaram a ser mais interessantes que o mestre. Este Caustic Window LP tem um sabor agridoce. Por um lado vem lembrar-nos do instante em que Richard se começou a perder na obsessão pela perfeição, por outro é um testemunho sério de um genuíno inventor – quantos destes temos hoje? – que conseguiu, a dado momento, imprimir tão forte impressão na electrónica que ainda hoje em dia paramos para perscrutar os restos>/i>. Sem ofensa para quem acha que encontrou uma obra de superior arte, este disco é apenas um documento que interessa aos fervorosos fãs de Richard D. James. A história já fez a contabilidade... e as medalhas já foram atribuídas. Resta agora esperar por SYRO para tentar perceber, ao final deste anos todos, quem Richard D. James é!
Rafael SantosOs EPs Digeridoo e On sucederam-se ao primeiro volume de Selected Ambient Works. Algures pelo meio, Richard D. James entalou um disco chamado Surfing On Sine Waves, assinado como Polygon Window, que se inseriu na perfeição na série Artificial Inteligence da Warp – que mais tarde acabaria por originar a designação IDM: Inteligent Dance Music. O estatuto de Richard, como pioneiro de uma nova linguagem electrónica experimental – que tanto podia cruzar subtilmente Brian Eno, Kraftwerk ou Model 500 –, cresceu de um mês para o outro. Aphex Twin agigantou-se e entrou, descontraída e meritoriamente, na grande liga dos intelectos (visionários) da nova música electrónica urbana, que transpirava por todos os poros o esforço para dar carácter ao que o boom do acid-house começara. A Rave, passada a histeria, não se podia resumir a algo unicamente desenhado para o corpo, e logo destinada apenas à pista de dança. Esta música tinha de ter outro significado.
808 State, KLF, Orbital, The Orb, B12, Black Dog, LFO, Underworld, Ultramarine, Underground Resistance, Aphex Twin – e toda a magistaral escola da Warp e da R&S Records (com nomes que infelizmente se perderam no tempo) – provaram com sabedoria que house, ou tecno, e qualquer variante das duas, não era música de "bolinhas". Entre o nervosismo do hardcore-techno, do acid-house, ou da génese do trance ou do jungle, e o rápido estafar de fórmulas, os pensadores arquitectavam o futuro – aquele que permite, hoje em dia, ter o House ou o Techno como linguagens competentes e respeitáveis na contemporaneidade da nossa música.
De Caustic Window LP - 2014pouco haveria a dizer se não tivesse Richard D. James como a alma por detrás do alter-ego; a assinatura. Há que ser sincero. Este disco, agora desenterrado, se não tivesse a assinatura de Richard D. James seria no máximo uma nota de roda de pé de um qualquer blog de um melómano a achar que encontrou uma pérola incompreendida por consequência do excesso de inventividade dos anos 90.
Dito isto, que fique desde já assente que este disco perdido é para mim completamente indiferente às voltas que deu para ver a luz do dia. No entanto, uma pergunta impõe-se: porque é que Richard e a “sua” editora Rephlex nunca levaram este disco para além da primeira (e única) prensagem em 1994? Uma dúzia de cópias andaram por aí, e a coisa começou a falar-se agora quando o senhor Minecraft comprou um dos exemplares. Tirando o crowdfunding na primeira metade deste ano para se conseguir cópias digitais originais para os investidores, tudo acabando no You Tube, torrents e pirataria generalizada, este surgimento mágico serviu exactamente para quê?
Caustic Window lançou dois EPs em 1993 e 1994; o momento alto da sua existência caustica foi quando “Cunt” foi oferecido ao alinhamento da mítica compilação da Volume, Trance Europe Express 3 – em 1994 – como uma coisa não muito importante.
Este Caustic Window LP - 2014 pode estar a ser encarado como uma obra perdida no imenso espólio de Richard D. James mas a verdade é que ela nunca esteve perdida. O próprio Aphex Twin considerou todo o alinhamento, à época, como uma colecção de restos de experiências que não estavam à altura do seu grande nome. A coisa passou; foram anos de indiferença. Restos?
Vou ser paradigmático: tempo volvido desde 1994, Caustic Window LP tem algo de pertinente para o nosso presente ou é música repleta de naftalina? O valor documental não pode ser ignorado; é fruto de uma geração: e o que poderá significar o lixo da época perante o vazio criativo do presente? As ironias são interessantes, e desconcertantes.
Quem conhece Surfing On Sine Waves, de Polygon Window, e ...I Care Because You Do de Aphex Twin, depressa concluirá que este Caustic Window foi apenas um tubo de ensaio para Drukqs (e que o assustador Richard D. James Album apareceu como uma indulgência conceptual imposto pelo mega-ego).
A inocência de Aphex Twin perdeu-se no meio da década de 90. A ideia de arquitecto empírico deu lugar a um académico obcecado, desligado da humanidade – a melodia quente deu espaço a retóricas frias e maquinais –, e que o levou a ser uma pálida sombra de si mesmo quando os aprendizes começaram a ser mais interessantes que o mestre. Este Caustic Window LP tem um sabor agridoce. Por um lado vem lembrar-nos do instante em que Richard se começou a perder na obsessão pela perfeição, por outro é um testemunho sério de um genuíno inventor – quantos destes temos hoje? – que conseguiu, a dado momento, imprimir tão forte impressão na electrónica que ainda hoje em dia paramos para perscrutar os restos>/i>. Sem ofensa para quem acha que encontrou uma obra de superior arte, este disco é apenas um documento que interessa aos fervorosos fãs de Richard D. James. A história já fez a contabilidade... e as medalhas já foram atribuídas. Resta agora esperar por SYRO para tentar perceber, ao final deste anos todos, quem Richard D. James é!
r_b_santos_world@hotmail.com
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