DISCOS
Mo Kolours
Mo Kolours
· 21 Jul 2014 · 11:05 ·
Mo Kolours
Mo Kolours
2014
One-Handed Music
Mo Kolours
Mo Kolours
2014
One-Handed Music
Podia ter feito mais?
Joseph Deenmamod é mais um produtor a somar à longa lista de aventureiros do MPC: mais um na excêntrica manipulação dos botões da "caixa de ferramentas" luminosa em curiosa expedição ao ventoso pólo da especulação sonora em busca de novos aromas capazes de perfumar a modernidade, amiúde desesperada por ideias originais. E ponto assente, do debutante de Mo Kolours, nada há que irá alterar a realidade dos melómanos que pacientemente aguardam pela a aurora de uma alta identidade – qual Messias – que rachará a hegemonia da permanente reciclagem do «mais do mesmo».

Mo Kolours nasceu para o mundo quando em 2011 se apresentou com o enviusado Drum Talking, onde se alinhavam o pastiche roots-dub-afro-soul “Bakiraq”, o abstracto tema que dava título ao EP, uma – e à falta de melhor adjectivação – dissertação atrofiada de um qualquer delírio tribal, e o contemplativo “Biddies”, onde o cheiro da terra molhada da savana elevava alma à estratosfera. Seguiram-se os EP’s Banana Wine (2012) e Tusk Dance (2013), ambos muito empenhados em extrapolações do ritmo africano, ocasionalmente em promiscuidade com o dub de Lee “Scratch” Perry, ou divagações electrónicas extraterrestres.

Want to get close to the session murmurou Deenmamode algures em Tusk Dance como que ambicionando – obsessivamente? – atingir o derradeiro objectivo da “sessão” como alusão a um altar de celebração de uma nova estirpe de um groove que venera África, o berço do ritmo, e logo a nascente de toda a música. Os EP´s fizeram-no, à sua maneira: especularam descomprometidos; nada pretensiosos; Mo Kolours rastejava no pântano ancestral para ganhar músculo… e cor.

Ao acolher o homónimo debutante, as reticências impõem-se, e um esgar de desconfiança traça-se no semblante do melómano – sim, esses seres que respiram música 24x7. Quando esperávamos Joseph Deenmamode distendesse a promiscuidade, o álbum acaba por ser um retrocesso no exercício de musculatura que os EP´s tão vigorosamente iniciaram. Mo Kolours perde o atrevimento e acaba convenientemente a divagar no canto onde Flying Lotus, Nightmares On Wax ou J Dilla se poderiam encontrar para beber um copo.

Os murmúrios soul de Deenmamode são de uma encantadora sedução, e daí advém um genuíno (apesar de curto) prazer de um disco que acaba por ser mais uma interessante soma de manipulações sonoras onde, infelizmente, contrasta a falta de punho para a verdadeira aventura de desconstrução dos paradigmas. Se fizéssemos um best of dos temas dos EP’s, devidamente alinhados e perfilados por forma a evidenciar a intensidade do carácter de cada cor e cheiro, teríamos em mãos uma obra de uma mescla singular. Com Mo Kolours temos apenas uma curte de meia hora de originais que deixam a assombrar a ideia de que algo mais poderia ter acontecido.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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