DISCOS
Moodymann
Moodymann
· 16 Jul 2014 · 12:40 ·
Moodymann
Moodymann
2014
Mahogani
Sítios oficiais:
- Mahogani
Moodymann
2014
Mahogani
Sítios oficiais:
- Mahogani
Moodymann
Moodymann
2014
Mahogani
Sítios oficiais:
- Mahogani
Moodymann
2014
Mahogani
Sítios oficiais:
- Mahogani
Um disco de um groove arrebatador. Ainda têm dúvidas?
Chamem-lhe Kenny Dixon Jr., KDJ, Moody ou Moodymann, já tanto faz. Deep house, soul, funk ou jazz? Outra vez, tanto faz. E não é por indiferença que teimamos no «tanto faz». Antes pelo contrário. O que há é uma honesta reverência por este cavaleiro do groove, e pelos seus andamentos. O nome que assina na capa dos discos é que é indiferente, tal como a tipologia a que se dedica. Kenny Dixon Jr. é um homem singular que tem a herança musical afro-americana a correr nas veias; um homem singular que, na certa, não faz o que faz porque acredite em imperativas homenagens ao passado, aos clássicos ou aos pioneiros. Kenny anula naturalmente a importância que todos damos ao mecanismo do tempo, à diferenciação passado, presente e futuro. E neste caso específico, há uma completa indiferença pelo substantivo nostalgia. E se pensarmos em Detroit – falida economicamente, mas em contrapartida com um espólio cultural monumental –, Moody não é o único com a mesma consciência e atitude: Theo Parrish é um patrício lealista, e se J Dilla ainda respirasse, seria mais um na marcha pelo espírito da intemporalidade da música como a mais genuína arte capaz de inspirar a Humanidade a feitos significantes.
O som de Moody é uma mescla de referências – usa samplers para complementar uma ideia, não para substituir a falta de substância. Depura o filão soul, mostrando a cada enxadada, que a tarefa do garimpeiro está longe de acabada. “I don’t make music for the masses to dance to, i make music for the small majority that listens." E a imensa minoria percebe quando é devidamente recompensada por uma experiência musical repleta de especulações estéticas orientadas para o prazer da alma. Mesmo que muitas vezes essa mesma minoria se sinta frustrada por não aceder a determinadas edições do autor. Theo Parrish parece partilhar dessa ideia de largar novidades autorais como bombas quando menos se espera e divertir-se a ver os fervorosos a gladiarem-se por um exemplar. Ver um álbum do misterioso Moodymann na estante de uma loja não é um facto adquirido de dois em dois anos, ou tipo. Edita quando quer, e o resto é constatar que uma edição de 500 exemplares de um aglomerado de novas "coisas" pode tornar-se numa exigente expedição por uma relíquia de significado quase religioso.
Fitar este homónimo foi um assombroso regozijo, isto porque desde 2004 que não havia um disco com um alinhamento digno de se poder chamar álbum. Quatro EP’s e uma dúzia de 12’’. Apenas isso. O longínquo Black Mahagoni tornou-se uma miragem, a dissipar-se. E ter um CD de KDJ na mão, tornou-se num delírio provocado pela desidratação.
Mas aí está, em 2014, a descomprometida música de Moodymann a respirar com uma assombrosa vitalidade; disco assinado em nome próprio; Kenny ladeado por uma mão cheia de talentosos cúmplices (Jose James, Lana del Rey, Andrés, Jeremy Greenspan ou Nikki-O); música para dançar, mas que não corresponde a qualquer caderno de encargos imposto pelo hype. Um objecto que, sendo um sumário do que o detroiter se tem dedicado depois da série Mahagoni, é um testemunho do espírito de Moody em relação à música, e como ele é uma extensão do passado em vez de uma ordinária homenagem saudosista. Repita-se a ideia, para que se encontre o ponto central do que faz deste disco um facto musical que perdurará: tempo e espaço são irrelevantes, há apenas uma realidade onde todas as almas – mesmo as do além – convivem para a derradeira celebração do groove.
Reouvindo o alinhamento – com um crescente prazer –, não se pode ignorar os intencionais interlúdios documentais (política, critica social?) em que Detroit é exposta ao mundo – em curioso contraste – como ponto de convergência do existencialismo dos afro-americanos (num tom humorístico), para, pouco depois, as estatísticas arrepiantes retratarem a cidade como sendo uma das mais violentas metrópoles na história dos Estados Unidos. A ironia e o idealismo também têm lugar num registo em que tudo é tratado de forma cool, nunca sobressaindo uma postura apolítica, desapaixonada com o que rodeia o produtor americano.
Moodymann é um objecto acessível logo ao primeiro toque; o deep house, a soul, o funk, o jazz, e tudo o que vem à rede, são geridos com uma proficiência enciclopédica. Moodymann está longe de ser um mero vendedor de compêndios de sabedoria, com os clássicos irrepreensivelmente ordenados por ordem alfabética. O sincretismo está lá mas o resultado final está longe de ser matéria de um puro académico. Para ele existe apenas o agora como extensão de tudo. Música como um todo. O Homem como um todo. Amálgamas perfeitas. Genuíno prazer, sem simplicidades. E é tudo isto que faz de KDJ um homem de peso impossível de ser encarado como um «tanto faz» no actual panorama.
Rafael SantosO som de Moody é uma mescla de referências – usa samplers para complementar uma ideia, não para substituir a falta de substância. Depura o filão soul, mostrando a cada enxadada, que a tarefa do garimpeiro está longe de acabada. “I don’t make music for the masses to dance to, i make music for the small majority that listens." E a imensa minoria percebe quando é devidamente recompensada por uma experiência musical repleta de especulações estéticas orientadas para o prazer da alma. Mesmo que muitas vezes essa mesma minoria se sinta frustrada por não aceder a determinadas edições do autor. Theo Parrish parece partilhar dessa ideia de largar novidades autorais como bombas quando menos se espera e divertir-se a ver os fervorosos a gladiarem-se por um exemplar. Ver um álbum do misterioso Moodymann na estante de uma loja não é um facto adquirido de dois em dois anos, ou tipo. Edita quando quer, e o resto é constatar que uma edição de 500 exemplares de um aglomerado de novas "coisas" pode tornar-se numa exigente expedição por uma relíquia de significado quase religioso.
Fitar este homónimo foi um assombroso regozijo, isto porque desde 2004 que não havia um disco com um alinhamento digno de se poder chamar álbum. Quatro EP’s e uma dúzia de 12’’. Apenas isso. O longínquo Black Mahagoni tornou-se uma miragem, a dissipar-se. E ter um CD de KDJ na mão, tornou-se num delírio provocado pela desidratação.
Mas aí está, em 2014, a descomprometida música de Moodymann a respirar com uma assombrosa vitalidade; disco assinado em nome próprio; Kenny ladeado por uma mão cheia de talentosos cúmplices (Jose James, Lana del Rey, Andrés, Jeremy Greenspan ou Nikki-O); música para dançar, mas que não corresponde a qualquer caderno de encargos imposto pelo hype. Um objecto que, sendo um sumário do que o detroiter se tem dedicado depois da série Mahagoni, é um testemunho do espírito de Moody em relação à música, e como ele é uma extensão do passado em vez de uma ordinária homenagem saudosista. Repita-se a ideia, para que se encontre o ponto central do que faz deste disco um facto musical que perdurará: tempo e espaço são irrelevantes, há apenas uma realidade onde todas as almas – mesmo as do além – convivem para a derradeira celebração do groove.
Reouvindo o alinhamento – com um crescente prazer –, não se pode ignorar os intencionais interlúdios documentais (política, critica social?) em que Detroit é exposta ao mundo – em curioso contraste – como ponto de convergência do existencialismo dos afro-americanos (num tom humorístico), para, pouco depois, as estatísticas arrepiantes retratarem a cidade como sendo uma das mais violentas metrópoles na história dos Estados Unidos. A ironia e o idealismo também têm lugar num registo em que tudo é tratado de forma cool, nunca sobressaindo uma postura apolítica, desapaixonada com o que rodeia o produtor americano.
Moodymann é um objecto acessível logo ao primeiro toque; o deep house, a soul, o funk, o jazz, e tudo o que vem à rede, são geridos com uma proficiência enciclopédica. Moodymann está longe de ser um mero vendedor de compêndios de sabedoria, com os clássicos irrepreensivelmente ordenados por ordem alfabética. O sincretismo está lá mas o resultado final está longe de ser matéria de um puro académico. Para ele existe apenas o agora como extensão de tudo. Música como um todo. O Homem como um todo. Amálgamas perfeitas. Genuíno prazer, sem simplicidades. E é tudo isto que faz de KDJ um homem de peso impossível de ser encarado como um «tanto faz» no actual panorama.
r_b_santos_world@hotmail.com
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