Somos um pós-país. Pós-25 de Abril, pós-entrada na CEE, pós-Troika, pós-Mourinho e, nos últimos anos, pós-rock: são inúmeros os projectos nascidos e/ou consolidados que têm abraçado o género, seja o ponto de partida os GY!BE ou os Mogwai, e a tendência parece continuar a crescer. Falta testículos à malta para se arriscarem a cantar? As vozes já não têm sustentabilidade nenhuma em termos de ideia num mundo contemporâneo? Ou o grasnar de uma guitarra eléctrica é mil vezes superior ao aparato vocal de um qualquer Iggy Pop da calçada?

Os la flag, "inventados" há uns tempos mas só agora se aventurando pelo lado discográfico da coisa, poderiam bem ser mais uma banda dentro desse espectro, mas optaram - graças a Deus - por ser "uma". Convenhamos que por vezes a oferta é tanta que a paciência escasseia (os nossos músicos de garagem nunca estudaram economia, ao que parece), mas o quarteto lisboeta chegou-se com os dois pés à frente num spargelzeit pleno de pancada boa, samples bem colocados aqui e ali e o groove de um "gatinho do ambiental", de acordo com a amável namorada.

Se a introdutória "zenith" nos prepara para o que ainda está por ouvir e o meio de "antonov" nos começa a fazer tirar os pés do chão e o rabo da cadeira, a colossal "dama de espadas" (e não nos referimos apenas à duração da canção) eleva a fasquia: um sample de voz retirada ao As Horas, uns licks emotivos a criar ambiente e um final caótico a piscar o olho ao gaze. Belo, mas depois ainda há as melodias fofinhas de "far" e "ophelia" para completar aquele que é um óptimo disco de estreia. Além do mais, conseguiram o impossível: fazer de um molho de espargos algo gostoso. Maior nojo de vegetal, caramba.