DISCOS
The Afghan Whigs
Do To The Beast
· 23 Abr 2014 · 11:57 ·
The Afghan Whigs
Do To The Beast
2014
Sub Pop


Sítios oficiais:
- The Afghan Whigs
- Sub Pop
The Afghan Whigs
Do To The Beast
2014
Sub Pop


Sítios oficiais:
- The Afghan Whigs
- Sub Pop
No acreditar é que está o ganho!
Porque é que, pessoalmente, adivinhava que “Do To The Beast”, o primeiro álbum dos Afghan Whigs desde que editaram 1965 em 1998, teria tudo para ser um excelente disco? Porque acreditar nos Afghan Whigs enquanto, por exemplo, não se acredita noutras lendas como os Pixies, ou os New Order (para mais com as ausências de Kim Deal e Peter Hook)? Nos Whigs também falta o co-fundador Rick McCollum, afinal de contas. Será, porventura, porque o seu eterno líder, Greg Dulli, sempre compos músicas que, mais do que não ter idade, pareciam cantadas por uma voz que exprimia uma libido a que nos habituámos a não associar uma idade explícita?

Quando pensamos na sua trilogia gloriosa composta por ”Gentleman”, ”Black Love” e ”1965”, sentimos apenas que ouvimos o relato musical de um jogo de cabo de guerra entre desejo sexual, amor, crueldade, culpa, consequência e autodestruição, e até alguma euforia e vontade louca de viver como foi o caso do último. ”Do To The Beast” está mais próximo dos dois primeiros. Não é um álbum de New Orleans como foi 1965. Mas qualquer um deles é um disco com todas as marcas dos Afghan Whigs, autores de obras-primas. E aqui temos mais 10 canções para o cânone.

O que caracteriza o cânone de Dulli e comparsas são não apenas as letras a tocar nos pontos que referi (“If my desire for your company / Made this motherfucker point his gun at me” – “Matamoros” ; “If I would become what I dreamed as a child / I’d be fearless, devoted, alive” – “Royal Cream”), mas também o facto de, quer a voz, quer os restantes instrumentos, exibirem uma disciplina que os faz parecer estarem a percorrer lama grossa com vontade férrea de Navy Seals. Nao é a toa que Dulli e McCollum se uniram musicalmente por amor a soul. Este tipo de disciplina não engana. De um lado estão os Jesus Lizard e os Bad Seeds. Do outro estão os Funk Brothers (banda de estúdio da Motown Records).

Qualquer uma das 10 músicas de ”Do To The Beast” tem algo de memorável. Sejam as castanholas e o riff a “Ballad Of Cable Hogue” dos Calexico que inaugura o single “Algiers”. A alternância entre intimismo ao piano e partes mais cheias de “It Kills”. A riqueza da instrumentação da igualmente alternada “Lost In The Woods”. Os Afghan Whigs a serem Afghan Whigs de “The Lottery”, mesmo com uma guitarra quase-U2 no refrão. A última “These Sticks”, que parece “Street Spirit (Fade Out)” dos Radiohead depois de levantar halteres por algumas horas. A surpresa do piano e batida house para o final de “Can Rova”. Se já deu para perceber que podia perder parágrafos a fio a descrever todas, essa era a intenção. Greg Dulli, hoje em dia, é dono de um hotel. Mas aqui está no habitat em que primeiro o conhecemos. Fogoso, demasiado real, a trepar pelas paredes, possuidor de uma das grandes vozes soul do nosso tempo. E nele continua rei e senhor.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

Parceiros