O quinto disco do poeta Anthony Joseph vem assinado em seu nome mas não viria mal nenhum ao mundo se ao lado do seu nome constasse o nome da baixista Meshell Ndegeocello, que assinou a composição, os arranjos e a produção. Time é claramente e sintomaticamente um disco de uma dupla: Anthony Joseph deu as palavras, Meshell Ndegeocello deu a música. Em partes iguais.

E a música é uma confluência de imensas músicas negras: o afrobeat, a música soul ou o jazz. Tudo entregue com uma certa sensibilidade pop e respeitando as regras do spoken Word. Com sorte (nossa), a música produzida para ser a base das palavras de Anthony Joseph é tão importante quanto a poesia (ouvir por exemplo a fabulosa “Hustle to live” e fazer as contas). Daí ser necessário reforçar a ideia que este disco é uma colaboração – e com todos os benefícios de uma colaboração.

Gravado em Paris ao longo de cinco dias, Time arrasta consigo a presença mais do que natural de Gil Scott Heron, falecido em 2011, tanto no conteúdo como na forma (ler “arranjos”). Apesar disso, urge dizer que Anthony Joseph tem uma voz própria e que o seu caminho se ilumina gloriosamente à sua frente. Pelo menos a ver pela relevância e urgência deste disco, que funciona como uma espécie de consagração. Será difícil que Time não venha a ser um dos melhores discos de 2014.