DISCOS
Lorelle Meets The Obsolete
Chambers
· 27 Mar 2014 · 14:14 ·
Lorelle Meets The Obsolete
Chambers
2013
Captcha Records


Sítios oficiais:
- Lorelle Meets The Obsolete
- Captcha Records
Lorelle Meets The Obsolete
Chambers
2013
Captcha Records


Sítios oficiais:
- Lorelle Meets The Obsolete
- Captcha Records
Expansionismo em doses concentradas.
Se tudo quanto soubéssemos do duo mexicano formado por Lorena Quintanilla e Alberto Gonzalez, fosse o facto do seu nome ser uma combinação do filme-que-só-existiu-em-Seinfeld Rochelle, Rochelle, e do episódio da Twilight Zone The Obsolete Man, isso já daria para, pelo menos, termos respeito pela sua imaginação. O que o seu terceiro álbum, Chambers adiciona a estas questões mais triviais, são 39 minutos de um rock que nos habituámos a ver esticar-se por canções mais demoradas, concentrado em durações mais próprias da pop, sem perder a eficácia de por cabeças a abanar, pés a bater, e a mente a viajar pela distorção e reverberações dos riffs.

Chambers é produzido pelo senhor Pete “Sonic Boom” Kemper, ex-membro dos Spacemen 3, e mentor de projectos como Spectrum e Experimental Audio Research. E um dos grandes méritos de Lorelle And The Obsolete é o facto de, embora nomes como Spacemen 3, A Place To Bury Strangers, My Bloody Valentine ou The Jesus & Mary Chain nos passarem pela cabeça, em nenhum momento possamos dizer que qualquer uma das 10 canções soa exactamente a um destes nomes mais conhecidos. A voz de Lorena nunca surge “limpa”, estando normalmente rodeada de espaço que proporciona uma sensação de vastidão, como uma esfera a ressoar dentro de outra maior e oca. As guitarras costumam dividir-se em duas partes. Uma tocando acordes em loop, outra prosseguindo por caminhos mais astronómicos. A secção rítmica forma-se de um baixo em volume alto, e uma bateria que aprecia os ensinamentos da motorika, e parece desprezar ideias mais complexas. A concisão das músicas – e a falta de um oscilador - diferencia-os das excursões intergalácticas de uns Comets On Fire, mas não será difícil imaginá-los a criar, ao vivo, o mesmo pandemónio que a banda de Ethan Miller e Ben Chasny.

Dentro dos moldes apresentados, Chambers é um disco variado. “The Myth Of The Wise” distingue-se da anterior “What’s Holding You” assumindo uma identidade mais dream-rock, com “ooooohs” e salpicos de tinta eléctrica. “Dead Leaves” arranca mais lentamente, a voz canta um lullaby enquanto os acordes da guitarra se assemelham a ondas concêntricas. Lentas mas constantes na maneira como contagiam tudo o resto. “Music For Dozens” aterra de imediato num solo que leva o classic rock para fora da Terra. “Grieving” é mais lenta, sem que lhe faltem mais “oooooohs” e distorções constelacionais. “Third Wave” é uma marcha que exibe eficácia na sua simplicidade. “13 Flowers” nasce desenvolvida, e aumenta gradualmente o volume, sem perder o controle sob a ameaça de se estilhaçar. Lentas, meio-tempo ou rápidas, o descanso fica para outra altura. Há demasiada energia cinética aqui para que isso seja sequer uma hipótese

Os Lorelle And The Obsolete não desenharam nem ergueram catedrais azuis. Mas isso acaba por ser uma questão de perspectiva. É que os alicerces e as fundações estão todas lá. E se o que for construído acabar por ser um bar no deserto, com bebidas geladas, um palco, uma pista de dança com espaço para umas dezenas de destrambelhados aos saltos, e umas doses de peyote atrás do balcão, que assim seja. Afinal, já dizia a música do ex-companheiro de Sonic Boom: “No God Only Religion”.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

Parceiros