DISCOS
East India Youth
Total Strife Forever
· 07 Fev 2014 · 11:40 ·
East India Youth
Total Strife Forever
2014
Stolen Recordings


Sítios oficiais:
- East India Youth
- Stolen Recordings
East India Youth
Total Strife Forever
2014
Stolen Recordings


Sítios oficiais:
- East India Youth
- Stolen Recordings
Em busca do caminho marítimo.
É certo e sabido que estamos numa fase em que a música - e, porque não dizê-lo, toda a cultura pop - tem derrubado todas e quaisquer fronteiras, não só geográficas, como temporais, como mesmo no que diz respeito à rigidez de género; num minuto, os Vampire Weekend vão comer gelado de baunilha a Madagáscar e colocam milhares de meninos brancos a gingar a anca ao som daquelas guitarras e ritmos efusivos, no outro os The Ex espantam (no bom sentido) uma multidão de etíopes em concertos no meio da areia e sob um sol magnífico. E estamos só a entrar pelo lado indie da discussão - poderíamos pegar em "Gangnam Style" ou no twerking da Miley Cyrus, por exemplo.

Anarquistas que somos de coração não podemos senão elogiar todo este melting pot, ou melting pop, que se instalou à escala global. Muitos e belos discos se geraram com os cruzamentos interraciais dos últimos anos - culpem a "malvada" Internet -, herdeiros e parceiros das experiências dos Talking Heads e de Paul Simon, bisnetos do reinventar do blues por Hendrix, trinetos de Elvis... a polinização sempre existiu - é, aliás, aquilo que nos faz avançar enquanto espécie. Esta revolução existe e, ao contrário da maioria das revoluções, não coloca num pedestal uma figura em especial: coloca toda a raça humana, todos os tons de pele, todas as sexualidades, todos os géneros em primeiro plano.

William Doyle, que assina discos enquanto East Indian Youth, é precisamente um produto desses encontros civilizacionais. Total Strife Forever é o seu primeiro disco e encontramo-lo a pescar em águas tão diversas quanto as cores do arco-íris: electrónica, psicadelismo, pop/rock, experiências sonoras várias, punk e pós-punk... a paleta é extensa e aqui cabe o que quer que seja, o que faz com que Total Strife Forever se apresente, acima de tudo, como um disco inclassificável. Contudo, é exactamente essa a sua maior fraqueza e a que faz com que não estejamos perante um caso como os anteriormente referidos. Na sua ânsia por empacotar tudo no mesmo processo criativo, Doyle assina um disco demasiado esquizofrénico e não-linear para que detectemos aqui um fio condutor que nos guie magicamente ao ouro prometido; juntar as cores é maravilhoso, juntar todas as cores torna a pintura num borrão.

É assim que passamos dos sintetizadores de "Glitter Recession" e "Total Strife Forever I", que exploram de forma notória a blueprint de contemporâneos da electrónica como Daniel Lopatin, para uma canção a roçar o cliché AnCo ("Dripping Down"), à qual não faltam os coros da praxe, passando para o techno de "Hinterland" e para a pop kösmiche de "Heaven, How Long" que descamba num refrão a transpirar azeite... as referências são extensas mas podem resumir-se a uma palavra: demasiado. Se é verdade que a ideia é boa, não menos verdade é que a sua execução foi pobre. No meio de tal salganhada a única coisa que se safa é o glitch de "Song For A Granular Piano" e esses mesmos pontos de contacto, um pouco como encontrar palavras numa sopa de letras. Só serve para nos distrairmos durante uns minutos.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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