DISCOS
Chris Forsyth
Solar Motel
· 15 Jan 2014 · 11:42 ·
Chris Forsyth
Solar Motel
2013
Paradise of Bachelors


Sítios oficiais:
- Chris Forsyth
- Paradise of Bachelors
Chris Forsyth
Solar Motel
2013
Paradise of Bachelors


Sítios oficiais:
- Chris Forsyth
- Paradise of Bachelors
Rodela de sol.
Tem faltado o sol. Tem faltado algo que nos motive a sair lá para fora, a girar em torno de algo mais que a burrice abestunta de ficar parado em casa, a germinar ideias, planos e profecias que não desaguam em lado nenhum. Falta-nos um motel solar, uma força motriz com a força da guitarra de Chris Forsyth que parte sempre da melancolia certeira do blues para nos agarrar pela mão, com a sabedoria de quem sabe como nos contar a história de locais que acreditamos piamente terem existirem algures.

Solar Motel é assim. Quatro peças com caminhos solarengo, que mais do que conduzir a algum lado, são uma exposição prolongada ao torpor eléctrico. Apesar da elevada dose elevada de distorção e reverberação, a música de Forsyth tem muito de expressão americana, desde os canónics Crazy Horse aos primitivistas da nova geração. A isto junta-se-lhe uma expressão bem livre, própria de Forsyth e desenvolvida em colaborações com gente como Bill Orcutt. A única coisa que falta àquilo que o próprio chama de Cosmic American Music talvez seja uma voz proeminente. E se esta não existe, não de uma forma convencional, cantada e articulada, existe ainda assim uma voz muito própria. Uma voz que também nos chama e nos guia, com eloquência maestra, e concretizada pela guitarra-leme que empurra estas canções para um propósito final: a satisfação.

O terceiro disco de originais – o primeiro com banda – do guitarista é uma ode ao feedback textural, ao ruído mais ou menos selvagem, aos pedais, à reverberação e à distorção. Tudo embrulhado num pacote que está longe de conter jams sem aparente propósito e insuficientemente preenchidas. Não, as quatro peças de Solar Motel são talhadas a foice, apesar da arquitectura subitl e quase invisível. Mas talvez por isso tenham espaço para um teclado que aguenta tudo (e que mesmo sem parecer, está sempre lá – vide Part III) e fôlego para aguentar uma bateria que nos indica o caminho a trilhar e a que passo o trilhar.

Mas são as seis cordas, trabalhadas a meias com técnica e coração (os loops em camadas são mui preciosos) que fazem este disco soar a algo escrito e pensado para evocar uma época adormecida na memória, como que a querer levar-nos a paisagens que, de olhos fechados, afinal sempre conhecemos. Mas é quando desaguam em invariável e inevitável cacofonia, que percebemos que Solar Motel é um momento de consciência raro, feito para nos lembrar que a viagem em que todos embarcamos com destino marcados é, afinal de contas, efémera.
António M. Silva
ant.matos.silva@gmail.com

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