DISCOS
The Ex & Brass Unbound
Enormous Door
· 16 Dez 2013 · 22:24 ·
The Ex & Brass Unbound
Enormous Door
2013
Ex Records
Sítios oficiais:
- The Ex & Brass Unbound
Enormous Door
2013
Ex Records
Sítios oficiais:
- The Ex & Brass Unbound
The Ex & Brass Unbound
Enormous Door
2013
Ex Records
Sítios oficiais:
- The Ex & Brass Unbound
Enormous Door
2013
Ex Records
Sítios oficiais:
- The Ex & Brass Unbound
30 anos depois, a congotrónica.
Já sabemos ao que vamos quando levamos os ouvidos a passear ao parque jurássico do rock. Um passado imaculado, umas quantas canções cujos riffs e letras sabemos de cor e um dicionário de palavrões que não chega para o que nos apetece dizer do que cada uma daquelas bandas fez nos 10 ou 20 anos mais recentes. Mas há uma zona pouco frequentada do parque onde nos habituámos a ser surpreendidos.
Os The Ex estão aí. Surgiram do turbilhão punk de Amesterdão, em 1979, e ao longo destes mais de 30 anos, em que passaram por várias mudanças de formação e gravaram dezenas de discos, têm mantido até hoje um admirável grau de vitalidade e atualidade. Nunca tiveram a fama de outros – será por serem europeus continentais? – mas rodearam-se ou deixaram-se rodear pelos melhores: gravaram com os Mekons em 90, com o Tom Cora em 91 e 93, com os Tortoise em 98 ou com os Sonic Youth em 2002, entre vários outros que partilham do mesmo gozo pela expansão das fronteiras do rock. E a experiência mais recente é a que este Enormous Door documenta, onde os The Ex se juntam ao coletivo Brass Unbound, uma designação sob a qual se escondem, reparem só, os saxofonistas Matts Gustafsson e Ken Vandermark, entre outros. Tem que haver festa na ala mais interessante do parque jurássico.
“Enormous Door” mostra os The Ex em namoro com África, uma relação que já vem desde Turn, de 2004, disco gravado após a digressão europeia com os congoleses Konono Nº1. Neste, havia uma versão arrasadora de “Theme from Konono”, com guitarras elétricas distorcidas a fazerem a voz dos likembes amplificados. (Se, quando o fenómeno “congotrónico” surgiu, todos dizíamos que aqueles likembes ligados a caixas de distorção artesanais lembravam imenso as “nossas” guitarras elétricas, com os The Ex são estas que lembram o piano de polegares africano. Como se já não fosse o filho a tornar-se igual ao pai, mas o pai a ficar parecido com o filho. Ou vice-versa.)
Se em Turn a aproximação a África era sentida apenas num par de temas, agora a experiência é alargada a todo o álbum. Isto é o trabalho final do curso da disciplina de “congotrónica aplicada ao que tu quiseres desde que seja para tornar o mundo mais feliz”, onde os punks veteranos de Amesterdão e os amigos do jazz mais selvático do circuito mundial vão certamente passar com distinção. Ao longo do exercício, temos canções carregadas de ritmo. Temos muitas guitarras-likembe, muitas guitarras ásperas (os The Ex não perdem a sua identidade). Temos muitos chocalhos (e mais, e mais). Temos metais que ora são de fanfarra, sem qualquer vergonha, ora são de improvisação selvagem, Temos uma versão de uma das maiores vozes da Etiópia, Mahmoud Ahmed (“Belomi Benna”). E voltamos a ter “Theme from Konono”, a cuja designação acresce agora “no.2”, ainda mais irresístivel com os metais graves que agora carregam sobre as guitarras metralhantes e ainda fazem aproximar o tema da linguagem do afro beat, ao longo do seu desenvolvimento. É um final à antiga.
No press release de Enormous Door, há uma promessa curiosa: expect fireworks. A malta que vai a Sines anós após ano sabe bem o que significa esta expressão. Toda a gente dança ao som desta mistura explosiva de rock experimental e, como lhe chamaram, congotrónica.
VÃtor JunqueiraOs The Ex estão aí. Surgiram do turbilhão punk de Amesterdão, em 1979, e ao longo destes mais de 30 anos, em que passaram por várias mudanças de formação e gravaram dezenas de discos, têm mantido até hoje um admirável grau de vitalidade e atualidade. Nunca tiveram a fama de outros – será por serem europeus continentais? – mas rodearam-se ou deixaram-se rodear pelos melhores: gravaram com os Mekons em 90, com o Tom Cora em 91 e 93, com os Tortoise em 98 ou com os Sonic Youth em 2002, entre vários outros que partilham do mesmo gozo pela expansão das fronteiras do rock. E a experiência mais recente é a que este Enormous Door documenta, onde os The Ex se juntam ao coletivo Brass Unbound, uma designação sob a qual se escondem, reparem só, os saxofonistas Matts Gustafsson e Ken Vandermark, entre outros. Tem que haver festa na ala mais interessante do parque jurássico.
“Enormous Door” mostra os The Ex em namoro com África, uma relação que já vem desde Turn, de 2004, disco gravado após a digressão europeia com os congoleses Konono Nº1. Neste, havia uma versão arrasadora de “Theme from Konono”, com guitarras elétricas distorcidas a fazerem a voz dos likembes amplificados. (Se, quando o fenómeno “congotrónico” surgiu, todos dizíamos que aqueles likembes ligados a caixas de distorção artesanais lembravam imenso as “nossas” guitarras elétricas, com os The Ex são estas que lembram o piano de polegares africano. Como se já não fosse o filho a tornar-se igual ao pai, mas o pai a ficar parecido com o filho. Ou vice-versa.)
Se em Turn a aproximação a África era sentida apenas num par de temas, agora a experiência é alargada a todo o álbum. Isto é o trabalho final do curso da disciplina de “congotrónica aplicada ao que tu quiseres desde que seja para tornar o mundo mais feliz”, onde os punks veteranos de Amesterdão e os amigos do jazz mais selvático do circuito mundial vão certamente passar com distinção. Ao longo do exercício, temos canções carregadas de ritmo. Temos muitas guitarras-likembe, muitas guitarras ásperas (os The Ex não perdem a sua identidade). Temos muitos chocalhos (e mais, e mais). Temos metais que ora são de fanfarra, sem qualquer vergonha, ora são de improvisação selvagem, Temos uma versão de uma das maiores vozes da Etiópia, Mahmoud Ahmed (“Belomi Benna”). E voltamos a ter “Theme from Konono”, a cuja designação acresce agora “no.2”, ainda mais irresístivel com os metais graves que agora carregam sobre as guitarras metralhantes e ainda fazem aproximar o tema da linguagem do afro beat, ao longo do seu desenvolvimento. É um final à antiga.
No press release de Enormous Door, há uma promessa curiosa: expect fireworks. A malta que vai a Sines anós após ano sabe bem o que significa esta expressão. Toda a gente dança ao som desta mistura explosiva de rock experimental e, como lhe chamaram, congotrónica.
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