DISCOS
Danny Brown
Old
· 29 Nov 2013 · 20:43 ·
Danny Brown
Old
2013
Fool’s Gold Records
Sítios oficiais:
- Danny Brown
- Fool’s Gold Records
Old
2013
Fool’s Gold Records
Sítios oficiais:
- Danny Brown
- Fool’s Gold Records
Danny Brown
Old
2013
Fool’s Gold Records
Sítios oficiais:
- Danny Brown
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Old
2013
Fool’s Gold Records
Sítios oficiais:
- Danny Brown
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Quem és tu, Danny Brown?
3 comprimidos com Xs na ponta da língua eram a capa do disco anterior de Danny Brown, “XXX”. Disco que lhe granjeou uma fama até aí desconhecida, o fez poster-boy de um certo tipo de hedonismo alimentado a MDMA, electronica, hip-hop e sexo, e lhe proporcionou aparecer no Festival Pitchfork em 2012. Senhor de excelente reputação no que diz respeito a actuações ao vivo, a sua mais recente digressão foi como co-cabeça de cartaz com os Sleigh Bells. É um mundo estranho aquele que Daniel Dewan Sewell habita. O seu talento para a rima é inquestionável, e só um enormíssimo preconceito relativo a sua porta de entrada na consciência melómana global não o reconheceria. É talvez um arquétipo do artista hiphop cuja base de fãs não chega ao nível pop de um Jay-Z ou Eminem, mas que transcende os puristas do género, como tem feito nomes da era DatPiff/Facebook/Twitter como Action Bronson, A$AP Rocky ou Kendrick Lamar. E merece-o, pois é uma voz que, se tematicamente não tem muito de original, em termos de estilo de rima e voz, acampou num lugar até então desabitado. E trouxe consigo produtores comparsas que lhe dão o acompanhamento que necessita.
“Old” é um disco em que Danny podia mostrar-se hesitante entre manter a vida de festa constante, ou reflectir sobre a sorte que teve em poder ter deixado as ruas e viver de fazer música. Só que essa divisão não se encontra nas músicas em si. Vê-se, isso sim, no disco como um todo. Compare-se essa fantástica e praticamente horrorcore “Torture”, em que recorda momentos da vida passada que ainda hoje o afectam (“Was like 7 years old when I saw a fiend try to light a rock off a stove”), com as pupilas electro-dilatadíssimas de “Dip”, dedicada aos efeitos da “Molly”, sem subterfúgios. “Side B (Dope Song)” diz ser a última do género. E talvez tenha sido gravada depois das outras. Mas o que é certo é que o resto do disco abandona o tom reflexivo da primeira metade, e entra desvairado festa adentro. “Kush Coma”, com A$AP Rocky, é space-rap. Os Hawkwind em versao hiphop. “Smokin & Drinkin” faz-nos sentir as gotas de suor que caem da testa e pelas costas. “Way Up Here” faz-nos perceber porque terá tão boa reputação ao vivo. Não há cá desculpas esfarrapadas tipo Madonna. Esta festa não é de gente bonita em bikini tipo festivais EDM. É subterrânea, perigosa, desorientadora, cheia de luzes negras e ultravioletas, e dificuldade em encontrar a saída. Até as participações de Purity Ring e Charlie XCX evitam a pop óbvia quando cantam refrões.
Poderia estar a querer dizer que o lado hedonista é superior, mas não é de forma alguma o caso. “Side A (Old)” a abrir avisa logo como Danny mudou a vida para entrar no ”rap game, e sabe que as pessoas querem o Danny Brown de “XXX”. “The Return” admite que se não resultar, voltará a ter que vender droga nas ruas. “Dope Fiend Rental”, banger com a participacao de Schoolboy Q, enquanto fala de sexo, diz que espera que a filha nao venha a ser assim. “Wonderbread” lembra as cenas que via nas ruas na infância. “Gremlins” traz forte imagética criminosa, sobre uma produção de Oh No que parece influenciada por John Barry. Oh No, SKYWLKR, Paul White e Rustie são alguns dos nomes convidados para produzir “Old”. E trazem-lhe drones, blips, psicadelismo electrónico, tarolas de trap-sem-ser-trap, nas quais Danny Brown rima entre o assertivo e o double-time decifrável apenas com uma atitude de concentração durante a escuta.
Podia estar nesse controle sobre um flow que podia rivalizar com grandes tecnicistas a vantagem competitiva de Danny Brown. Mas ”Old” é disco para ser apreciado no todo. É rápido, passa por 19 músicas em menos de 58 minutos. E nunca se deixa tombar na indulgencia, recheando as músicas de ganchos, refrões, e frases citáveis. Não sabemos de tem apenas sexo, drogas e hiphop na cabeça, se apenas toma Vicodin para disfarçar a dor (”Float On”), se pensa na sua filha enquanto toma drogas porque não consegue outra coisa (”Clean Up), ou se daqui para diante vê-lo-emos com temáticas diferentes. Por agora, fez um disco excelente, sem pontos fracos visíveis. E merece sorrir, mesmo que lhe falte um dente na frente. Para os seus fãs, já é um ícone.
Nuno Proença“Old” é um disco em que Danny podia mostrar-se hesitante entre manter a vida de festa constante, ou reflectir sobre a sorte que teve em poder ter deixado as ruas e viver de fazer música. Só que essa divisão não se encontra nas músicas em si. Vê-se, isso sim, no disco como um todo. Compare-se essa fantástica e praticamente horrorcore “Torture”, em que recorda momentos da vida passada que ainda hoje o afectam (“Was like 7 years old when I saw a fiend try to light a rock off a stove”), com as pupilas electro-dilatadíssimas de “Dip”, dedicada aos efeitos da “Molly”, sem subterfúgios. “Side B (Dope Song)” diz ser a última do género. E talvez tenha sido gravada depois das outras. Mas o que é certo é que o resto do disco abandona o tom reflexivo da primeira metade, e entra desvairado festa adentro. “Kush Coma”, com A$AP Rocky, é space-rap. Os Hawkwind em versao hiphop. “Smokin & Drinkin” faz-nos sentir as gotas de suor que caem da testa e pelas costas. “Way Up Here” faz-nos perceber porque terá tão boa reputação ao vivo. Não há cá desculpas esfarrapadas tipo Madonna. Esta festa não é de gente bonita em bikini tipo festivais EDM. É subterrânea, perigosa, desorientadora, cheia de luzes negras e ultravioletas, e dificuldade em encontrar a saída. Até as participações de Purity Ring e Charlie XCX evitam a pop óbvia quando cantam refrões.
Poderia estar a querer dizer que o lado hedonista é superior, mas não é de forma alguma o caso. “Side A (Old)” a abrir avisa logo como Danny mudou a vida para entrar no ”rap game, e sabe que as pessoas querem o Danny Brown de “XXX”. “The Return” admite que se não resultar, voltará a ter que vender droga nas ruas. “Dope Fiend Rental”, banger com a participacao de Schoolboy Q, enquanto fala de sexo, diz que espera que a filha nao venha a ser assim. “Wonderbread” lembra as cenas que via nas ruas na infância. “Gremlins” traz forte imagética criminosa, sobre uma produção de Oh No que parece influenciada por John Barry. Oh No, SKYWLKR, Paul White e Rustie são alguns dos nomes convidados para produzir “Old”. E trazem-lhe drones, blips, psicadelismo electrónico, tarolas de trap-sem-ser-trap, nas quais Danny Brown rima entre o assertivo e o double-time decifrável apenas com uma atitude de concentração durante a escuta.
Podia estar nesse controle sobre um flow que podia rivalizar com grandes tecnicistas a vantagem competitiva de Danny Brown. Mas ”Old” é disco para ser apreciado no todo. É rápido, passa por 19 músicas em menos de 58 minutos. E nunca se deixa tombar na indulgencia, recheando as músicas de ganchos, refrões, e frases citáveis. Não sabemos de tem apenas sexo, drogas e hiphop na cabeça, se apenas toma Vicodin para disfarçar a dor (”Float On”), se pensa na sua filha enquanto toma drogas porque não consegue outra coisa (”Clean Up), ou se daqui para diante vê-lo-emos com temáticas diferentes. Por agora, fez um disco excelente, sem pontos fracos visíveis. E merece sorrir, mesmo que lhe falte um dente na frente. Para os seus fãs, já é um ícone.
nunoproenca@gmail.com
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