DISCOS
King Krule
6 Feet Beneath The Moon
· 12 Nov 2013 · 23:34 ·
King Krule
6 Feet Beneath The Moon
2013
XL Recordings


Sítios oficiais:
- King Krule
- XL Recordings
King Krule
6 Feet Beneath The Moon
2013
XL Recordings


Sítios oficiais:
- King Krule
- XL Recordings
Agasalhos que nao pertencem a nada twee
A Archy “King Krule” Marshall pouco parece interessar construir o típico pop-rock para cantar de copo de cerveja no ar da ilhas britanicas. Apesar das suas armas principais serem a voz e a guitarra, nada aqui é para ser cantado por milhares de vozes, nem pode ser considerado “antémico”. Na verdade, talvez seja, pelo menos em espírito, mais próximo de um Mike Skinner pré-fama, quando desenhava ”Original Pirate Material” em casa. As influencias que reclama também estao muito longe dos Oasis ou Manic Street Preachers, incluindo nomes como Fela Kuti. Claro que isto é uma visao limitada da riqueza da música britanica, que alguns insistem em confundir com os descendentes dos descendentes dos Beatles, ou com algo que nasceu e morreu com a formacao e separacao dos Stone Roses. Mas por vezes é bom usar clichés para desfazer expectativas. E de qualquer modo, se estao a ler o Bodyspace é porque tem mais nocao do que isso, certo?

As letras de King Krule nao sao facilmente perceptíveis, o que deriva da sua voz nasalada e sotaque londrino cerrado. Parecem girar em volta de momentos e pensamentos no quotidiano de um adolescente (Ele tem 19 anos), pequenos disparates como rocar a cabeca num guindaste (essa percebe-se), e, claro, raparigas. O que distingue, além da já mencionada voz, é o ambiente que cria em volta. Por vezes acompanhado só pela guitarra, outras com drum machines, baixos, ou até sopros, assemelha-se a uma versao descarnada dos The Jam a tocar sozinho numa estacao de metro a meia-noite, felizmente sem levar porrada de boneheads. “Cementality” tem um acompanhamento de orgao soturno, que nao ficaria nada mal num disco dos Bohren & Der Club Of Gore. E é logo seguida por “A Lizard State”, que ginga com sopros de filme de espionagem. Dentro do que parece uma palete reduzida, Marshall é capaz de por cá para fora uma quantidade apreciável de variacoes. Como todo o bom escritor de cancoes/criador de ambientes/produtor (com a colaboracao de Rodaidh McDonald, que também já produziu The xx, How To Dress Well ou Savages), foi capaz de criar um mundo próprio, do qual queremos partilhar, mesmo que nao saibamos bem do que é que ele está a falar. Mundo esse feito de intimismo na multidao que percorre ruas frias a noite, numa metrópole ou subúrbio de metrópole britanica qualquer. De arranjos que usam sadias nocoes de espaco e silencio. Nao nos espantaríamos, alias, que ele dissesse que derivam de dub ou dubstep, ou outra bass music. E simplicidade de acordes. E onde a voz, peculiar ou nao, nao se esquece de construir melodias.

“Easy Easy”, “Neptune Estate”, “Baby Blue”, “Out Getting Ribs” sao apenas algumas das óptimas cancoes de ”6 Feet Beneath The Moon”. É difícil dizer que tipo de carreira poderá Marshall ter a partir daqui. Afinal, Skinner fez “Dry Your Eyes” no segundo álbum como The Streets. Os The Jam sempre foram uma banda de hinos. E haverá sempre quem diga que Marshall tem voz de bebado (true story – mas isso nunca prejudicou Tom Waits, diferencas de génio a parte). Como parece ter vistas largas, mantenhamos a fé neste rapaz. Afinal, a noite é uma crianca. E ainda há tantas sombras de negro para explorar e manipular.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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