Os La Femme (como o nome deverá indicar, produto da belíssima escola francesa) deram-se a conhecer no ido 2010 com um EP de apenas quatro musiquinhas em que mostravam um forte apego pelo lado surf da música feita com guitarras e cujo maior ponto de interesse se situava não só na bonita "Sur La Planche" - que nesta primeira incursão pelo formato LP da banda parisiense conhece aqui nova formatação - mas também na capa do próprio disco, uma versão censurada d'A Origem do Mundo, de Gustave Courbet. Prova de que Paris e Braga não serão assim tão distintas, portanto.

Psycho Tropical Berlin não foge muito a esse registo surf, ancorando-se aliás nessa sonoridade com origem californiana na construção de agradáveis canções pop, respeitando por isso a mui nobre tradição francesa de saber escrever composições harmoniosas e alegres (não querendo com isto dizer que Psycho Tropical Berlin soe a Gainsbourg ou algo que o valha). Note-se "La Femme", canção igualmente oriunda dos seus primórdios e aqui repescada, que acrescenta ainda uns laivos psychobilly às melodias, desaguando num interlúdio bluesy que traz o deserto até aos subúrbios de nos frères.

Um pequeno ponto negativo será o facto do álbum durar quase uma hora - algo impensável, quiçá, para uma banda que se acaba de estrear num mundo cada vez mais acelerado e prenhe de ADD -, mas considerando o teor do mesmo provavelmente nem seria possível outra coisa. 14 faixas, 15 se se tiver em conta uma faixa bónus, Psycho Tropical Berlin bate-se melhor com os grandes desta vida quando é mais gingão ("Sur La Planche", não nos cansaremos de o dizer, é malha), aborrece um pouco ao enveredar pela timidez ("Time To Wake Up", espécie de influência Velvet do período com Nico, não aquece nem arrefece). Mas faz pelo menos acreditar que nos Bandcamps desta vida, independentemente do que diga David Byrne, podem surgir coisas bastante boas.