DISCOS
Iggy and the Stooges
Ready To Die
· 24 Jun 2013 · 15:10 ·

Iggy and the Stooges
Ready To Die
2013
Fat Possum Records
Sítios oficiais:
- Iggy and the Stooges
- Fat Possum Records
Ready To Die
2013
Fat Possum Records
Sítios oficiais:
- Iggy and the Stooges
- Fat Possum Records

Iggy and the Stooges
Ready To Die
2013
Fat Possum Records
Sítios oficiais:
- Iggy and the Stooges
- Fat Possum Records
Ready To Die
2013
Fat Possum Records
Sítios oficiais:
- Iggy and the Stooges
- Fat Possum Records
Estará mesmo?
"Velhos são os trapos", "a idade é um posto", "quanto mais velho, melhor". Ditados antigos que nos relembram sempre a importância da idade e do respeito que devemos ter por quem já andou por este mundo há mais tempo do que nós, por quem já aprendeu mais sobre este mundo do que nós, sábios da piada infinita que é o arrasto do tempo por este pedaço de lava e estrume circundando o sol. No que ao rock diz respeito, continuam a ser utilizados vezes sem conta: independentemente do estado actual que certos grupos de esfregonas com rugas pavoneiam em palcos e em rodelas de acrílico ou Spotifys perto de si, existe sempre quem nos recorde do álbum mágico editado em 1973, ou, em tom acusatório, dispare uns quantos "Beliebers" e "Directioners" em caixas de comentários Youtube e Facebookianas, defendendo a sua honra grisalha como se houvéramos, afronta das afrontas, insultado as suas famílias. Desengane-se portanto quem pense que o género está sob o jugo de uma perpétua juventude; os conservadores existem, e são imensos.
No caso de Iggy Pop e dos seus Stooges essa primeira vaga de insultos surgiu com The Weirdness, de 2007, álbum gravado por Steve Albini (ele próprio outro Buda no qual não se pode tocar), que, grosso modo, não era bem aquilo que os fãs de Fun House, Raw Power ou até mesmo Kill City estariam à espera, isto para não entrar em campos difamatórios e ordinários e pura e simplesmente escrever esse disco cagou uma torrente de merda na cabeça do legado dos Stooges, aborrecimento ríffico atrás de aborrecimento ríffico que foi, felizmente, guardado numa gaveta aquando das posteriores actuações ao vivo da mítica banda de Ann Arbor. Poder-se-ia então dizer que foram justificados? Afinal de contas, falamos de quem compôs a mais bela canção de amor do século XX ("I Wanna Be Your Dog") ou o hino geracional de centenas de milhares de punks ("No Fun"). Certamente que lhe poderíamos perdoar este vexame, certo? Não é como se tivesse entrado em anúncios de manteiga nem nada (sim, entrou num de um automóvel, mas os carros são eminentemente rock, I am a passenger, roadrunner, vertigem, born to be wild e esse género de coisas). Daí que, volvidos quatro anos, ali estivéssemos em Algés para testemunhar in loco que do alto da sua geriatria Iggy continuava a ser ele próprio, invejando o seu físico estranha e estupidamente torneado para alguém com quase setenta anos e um historial de abuso toxicómano. Para uns, o pai que nunca tiveram; para outros, o avô que gostavam de ter. Em uníssono: I'll stick it deep inside 'cause I'm loose...
Agora existe Ready To Die, quinto disco de uma carreira - enquanto banda - com mais de quarenta anos e inúmeras peripécias no seu enredo, para não falar dos amigos perdidos em combate, caso de Ron Asheton, que nos teve de deixar em 2009 para dar um "oi" a Jimi Hendrix e Morrisson onde quer que eles estejam. Atentemos no título: que fazer disto? Um statement por parte de Iggy e companhia? Um mero desabafo? Uma jogada esperta de marketing? Uma sátira, auto-depreciativa, de todas as bandas rock acusadas de "acabadas"? Nada destas coisas? Ficamos apreensivos, claro, e mais ainda ao escutar "Unfriendly World" e "The Departed", canções que parecem ter saído do catálogo de Leonard Cohen - outro que (e ainda bem que) se recusa a partir, especialmente no verso que sai de uma boca esmifrada:
I can’t feel nothing real, my lights are all burned out [...] yesterday’s a door that’s opening for the departed, so where is the life we started?
É duro perceber se estamos prestes a ficar sem Iggy ou não. E é isso, juntamente com o facto de existirem aqui, ao contrário de The Weirdness, canções (i.e.: rockalhadas porcas, feias e más) para continuarmos a defender o legado dos Stooges, que confere um estatuto de interesse, mínimo ou máximo, a um disco desta banda de cacos (espetados no peito do pai do punk, quer ele goste da designação ou não) em pleno 2013. Em termos de sonoridade é claro que se sente o peso do anacronismo - Ready To Die soa a um casamento matusalénico entre alguém que prefere Raw Power e a fritaria do decibel e alguém que prefere Fun House e um pouco de jazz. Certo é que, no que à ordinarice diz respeito, Ready To Die não caga d'alto naquilo que os Stooges fizeram; prossegue-o refinadamente como o whiskey que envelhece lentamente e se torna mais gostoso ao palato. "Burn", "Job" e a homenagem a uma das sete maravilhas do mundo - o seio feminino - em "DD's" são coisas para não deixar indiferente até o menos fascinado dos fãs. E, na eventualidade de isso acontecer: que foi, preferem Justin Bieber?.
Paulo CecílioNo caso de Iggy Pop e dos seus Stooges essa primeira vaga de insultos surgiu com The Weirdness, de 2007, álbum gravado por Steve Albini (ele próprio outro Buda no qual não se pode tocar), que, grosso modo, não era bem aquilo que os fãs de Fun House, Raw Power ou até mesmo Kill City estariam à espera, isto para não entrar em campos difamatórios e ordinários e pura e simplesmente escrever esse disco cagou uma torrente de merda na cabeça do legado dos Stooges, aborrecimento ríffico atrás de aborrecimento ríffico que foi, felizmente, guardado numa gaveta aquando das posteriores actuações ao vivo da mítica banda de Ann Arbor. Poder-se-ia então dizer que foram justificados? Afinal de contas, falamos de quem compôs a mais bela canção de amor do século XX ("I Wanna Be Your Dog") ou o hino geracional de centenas de milhares de punks ("No Fun"). Certamente que lhe poderíamos perdoar este vexame, certo? Não é como se tivesse entrado em anúncios de manteiga nem nada (sim, entrou num de um automóvel, mas os carros são eminentemente rock, I am a passenger, roadrunner, vertigem, born to be wild e esse género de coisas). Daí que, volvidos quatro anos, ali estivéssemos em Algés para testemunhar in loco que do alto da sua geriatria Iggy continuava a ser ele próprio, invejando o seu físico estranha e estupidamente torneado para alguém com quase setenta anos e um historial de abuso toxicómano. Para uns, o pai que nunca tiveram; para outros, o avô que gostavam de ter. Em uníssono: I'll stick it deep inside 'cause I'm loose...
Agora existe Ready To Die, quinto disco de uma carreira - enquanto banda - com mais de quarenta anos e inúmeras peripécias no seu enredo, para não falar dos amigos perdidos em combate, caso de Ron Asheton, que nos teve de deixar em 2009 para dar um "oi" a Jimi Hendrix e Morrisson onde quer que eles estejam. Atentemos no título: que fazer disto? Um statement por parte de Iggy e companhia? Um mero desabafo? Uma jogada esperta de marketing? Uma sátira, auto-depreciativa, de todas as bandas rock acusadas de "acabadas"? Nada destas coisas? Ficamos apreensivos, claro, e mais ainda ao escutar "Unfriendly World" e "The Departed", canções que parecem ter saído do catálogo de Leonard Cohen - outro que (e ainda bem que) se recusa a partir, especialmente no verso que sai de uma boca esmifrada:
I can’t feel nothing real, my lights are all burned out [...] yesterday’s a door that’s opening for the departed, so where is the life we started?
É duro perceber se estamos prestes a ficar sem Iggy ou não. E é isso, juntamente com o facto de existirem aqui, ao contrário de The Weirdness, canções (i.e.: rockalhadas porcas, feias e más) para continuarmos a defender o legado dos Stooges, que confere um estatuto de interesse, mínimo ou máximo, a um disco desta banda de cacos (espetados no peito do pai do punk, quer ele goste da designação ou não) em pleno 2013. Em termos de sonoridade é claro que se sente o peso do anacronismo - Ready To Die soa a um casamento matusalénico entre alguém que prefere Raw Power e a fritaria do decibel e alguém que prefere Fun House e um pouco de jazz. Certo é que, no que à ordinarice diz respeito, Ready To Die não caga d'alto naquilo que os Stooges fizeram; prossegue-o refinadamente como o whiskey que envelhece lentamente e se torna mais gostoso ao palato. "Burn", "Job" e a homenagem a uma das sete maravilhas do mundo - o seio feminino - em "DD's" são coisas para não deixar indiferente até o menos fascinado dos fãs. E, na eventualidade de isso acontecer: que foi, preferem Justin Bieber?.
pauloandrececilio@gmail.com
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