Gravar um disco a solo nunca será tarefa fácil. Gravar um disco de contrabaixo solo será sempre um desafio enorme. Apesar da imponência e magnitude sonora que é capaz de gerar, o contrabaixo tem um espectro sonoro limitado, o que condiciona a sua capacidade criativa. Apesar de mesmo internacionalmente ser pouco habitual, em Portugal temos bons exemplos de álbuns de contrabaixo a solo: Solo Pictórico de Carlos Barretto e Single de Carlos Bica (edição da saudosa BorLand). Em ambos os casos os discos registam a intensidade dos instrumentistas, dois músicos fora-de-série, que combinam melodismo e energia.

O contrabaixista polaco Wojtek Traczyk - membro do trio The Light, com Waclaw Zimpel e Robert Rasz – embarca nesta tarefa sem medos, enfrentando o desafio apenas com o contrabaixo, alternando entre o arco e o pizzicato. O disco arranca numa toada contemplativa, com o arco demorado a expressar um sombrio “exame de consciência” (título traduzido dessa primeira faixa). No tema seguinte o arco desenha paisagens mais coloridas, abrindo caminho a paisagens solarengas.

Ao longo do álbum surgem momentos de maior turbulência e inquietude (no arco nervoso em “Gloria”), há instantes de melodia luminosa, quase santificada (no quase-classicismo de “Sanctus”). E há pedaços de assumida brusquidão, como o pizzicato seco de “Benedictus”. Todos os títulos dos temas são referências religiosas cristãs, mas a música aqui apresentada não se coaduna com o conservadorismo típico da igreja católica apostólica romana. Antes pelo contrário, à medida que o álbum cresce vamos sendo continuamente surpreendidos, pela capacidade expressiva e imaginativa do contrabaixo. Traczyk teve a coragem de enfrentar o desafio e conseguiu superá-lo com distinção.