DISCOS
Vista Le Vie
Don't
· 13 Dez 2003 · 08:00 ·
Vista Le Vie
Don't
2003
F Com


Sítios oficiais:
- Vista Le Vie
- F Com
Vista Le Vie
Don't
2003
F Com


Sítios oficiais:
- Vista Le Vie
- F Com
Os Vista Le Vie são resultado da união criativa entre "dois músicos apaixonados por rádio, protools e por sonoridades onde a fantasia e a estranheza pontuam". Um, Max, tem a cultura do skateboard cravada no coração, aprecia hip hop e hardcore. O outro, Gilles, tem o jazz, a soul e o som de Detroit como principais referências. O primeiro estudou percussão. O segundo estudou teclados e tem uma segunda grande paixão, o cinema. É, deste modo - vaga e misteriosamente -, que são traçados os perfis das duas metades do projecto no site da F Communications - a editora que lançou recentemente Don't, o primeiro sinal de vida registado pelos Vista Le Vie, e a mesma que alberga no seu catálogo artistas como Laurent Garnier, Alexkid, Ludovic Llorca, Fréderic Galliano, entre outros nomes na vanguarda da música electrónica europeia. Reza ainda a história de que o projecto teve berço na Radio Nova, na cidade de Paris, no final da década de 90.

Exceptuando estas parcas informações biográficas que do projecto circulam pela internet, sobeja apenas o seu trabalho que, aliás, devia ser o essencial. Vinte e sete minutos e oito segundos, em seis capítulos, da melhor música electrónica nascida em França é o que se pode aguardar de Don’t, um registo que acaba por revelar e, mais importante, por reformular as referências de cada um dos elementos do projecto, aqui confluídas num compêndio sólido e variado de apontamentos registados num laboratório onde não existem limites na criação. A nova matéria, essa, parece possuir a destreza suficiente para se manter viva e saudável.

«Refuse Resist» introduz o trabalho, por meio de uma sequência de beats reconfortantes de drum’n’bass. «Bamako», segundo instrumental, segue-lhe os passos, mas, neste caso, deixando contaminar-se pelos ritmos de uma trip de tecno experimental. Até aqui, nada de extremamente excitante, apesar de agradável e simpático. Eis que, de súbito, se faz ouvir uma voz. Barbara Silverstone é a massagista de serviço em «A Curse She Cannot Win», uma paisagem envolvente, melancólica, onde desejaríamos permanecer até um futuro indeterminado. «This is a wish for something new, for something different», diz Silverstone – não muito longe do registo quase falado de Ursula Rucker - a determinada altura, enquanto uma electrónica penetrante nos vai limpando os ouvidos. Em Don’t a sensação que mais se repete é a de limpeza, de massagem. Os Vista Le Vie são uma espécie de cotonete, macio, envolto num líquido purificante, que vai renovando a vida ao aparelho auditório de cada vez que é solicitado.

É esse mesmo sentimento que toma conta do ouvinte quando «Drunken Master» ecoa, sobre uma base rítmica lenta – quase dub – a dever algo ao universo experimentado pelos Massive Attack em Protection. Por sua vez, «Back In The Pit» remete-nos para novos ambientes, onde o jazz se encontra com o pós-rock num devaneio irreversível.

A fechar a viagem, Don’t proporciona-nos uma banda sonora belíssima e simultaneamente tristíssima para um filme imaginário. Há guitarras acústicas a esbaterem-se contra uma forte muralha de violinos e computadores em depressão. No final resta um vazio. Um vazio à espera de nova substância. Aguarde-se, então, pelo próximo ano para saber a continuação da história Vista Le Vie. Por enquanto, volte-se ao início desta bela curta, sempre que os ouvidos peçam limpeza.
Tiago Carvalho
tcarvalho@esec.pt

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