Não é tarefa fácil colocar em palavras um registo como Kani. Pelas suas características, é um objecto de fruição eminentemente pessoal e dificilmente transmissível. É um daqueles discos capazes de gerar opiniões extremadas, fruto da sua linha irredutível e decidida. É um disco para amantes do género e dificilmente para converter infiéis.

Porya Hatami é iraniano e dedica-se a expedições minimais e atmosférias com base segura na música electroacústica. É um projectista, arquitecto sonoro, engenheiro paisagista. E um dos bons. Os quatro temas de Kani são verdadeiros monumentos erguidos pela força criativa de um homem só; um monumento à auto-suficiência.

A beleza de Kani está no desenho todo mas também nos pormenores, nas pinceladas mais detalhistas, no pulso; está na intromissão de elementos naturais, nos teclados, na coloração, no ensejo. Com quase 30 minutos de duração, é uma imensa viagem que, embora possa deixar muitos passageiros para trás, cuida muito bem dos clientes habituais.