DISCOS
Oxygen
Symbiosis_ The Art Of Creating The Artificial
· 07 Nov 2003 · 08:00 ·
Oxygen
Symbiosis_ The Art Of Creating The Artificial
2003
Ed. Autor
Oxygen
Symbiosis_ The Art Of Creating The Artificial
2003
Ed. Autor
Symbiosis, do grego syn (conjuntamente) e biosis (modo de vida), nunca foi, e provavelmente nunca será, a arte de criar o artificial. Como entender, então, o nome que dá título ao álbum de estreia dos Oxygen? Numa perspectiva tão simplista quanto possível (e, quiçá, contemporânea), há determinadas miragens artísticas, digamos assim, que não precisam de ser entendidas: apenas tomadas como um todo conjunto, ao mesmo tempo que enxertadas por assimilação introspectiva no nosso maquinismo orgânico. As partes, por assim dizer, não são suficientes para conhecer na plenitude o todo. Confesso partilhar esta perspectiva. Acontece, no caso dos Oxygen, que as referências são bem mais vastas e transversais, cruzando por diversas vezes e de muitos ângulos aquela filosofia. Com efeito, a segunda faixa “Art _ificial” revela uma característica importantíssima da banda de Valongo: o entendimento da arte como algo de artificial. Mas não se trata de nada antagónico ou negativo: se é artificial tudo o que é criado pelo homem, então a arte é-o em todos os sentidos. Mas é, também por isso, “o escape perfeito e necessário para a abstracção do ser humano, é a maneira perfeita de despir a mente humana”, como afirmam os próprios. A música, por consequência directa e empírica, revela essa filosofia: uma mescla diversificada, um híbrido onde rock e electrónica, presente e passado, – aquilo que eles gostam de apelidar por simbiose - emergem num mundo que caminha para a beleza total. Pelo menos, é o que nos querem fazer crer.

“Symbiosis_the art of creating the artificial” é um disco conceptual que aborda a vida, o problema do contacto entre as pessoas – seres cada vez mais numéricos - e as ilusões de quem vive numa sociedade conturbada. É esse claro e lúcido campo da desumanização, a que todos se submetem no quotidiano cada vez mais banal, a mensagem mais categórica e sofrida contida na música dos Oxygen. Para além de tudo isto, parece haver uma importante atitude quanto aos complementos ao som: um arranjo gráfico trabalhado, uma filosofia consistente, uma apresentação textual coerente. É caso para dizer que a música portuguesa está esforçada em atingir objectivos claros. Claro que podemos esquecer isso. Os Oxygen são portugueses, mas podiam não ser. Podiam viver na floresta densa e vestir-se com peles, viver em cabanas e pescar o peixe do rio. No fundo, o que mudava era a forma, nunca o conteúdo. A clarividência da consciência humana que parecem transparecer permite isso.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net

Parceiros