DISCOS
Guther
I Know you Know
· 30 Out 2003 · 08:00 ·

Guther
I Know you Know
2003
Morr Music
Sítios oficiais:
- Guther
- Morr Music
I Know you Know
2003
Morr Music
Sítios oficiais:
- Guther
- Morr Music

Guther
I Know you Know
2003
Morr Music
Sítios oficiais:
- Guther
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I Know you Know
2003
Morr Music
Sítios oficiais:
- Guther
- Morr Music
Nem sempre é o mito romântico do músico de longos cabelos desgrenhados e casaco roçado em águas-furtadas a ameaçar a derrocada. Nem sempre existe a urgência. Os Guther de Julia Guther e respectivo partenaire Berend Intelmann devem ser encarados como um producto de fácil ingestão e digestão. Pop. Twee Pop.
A rapariga que dá nome ao grupo afirma: "We've chosen simplicity, even in respect to the lyrics. Most of the time, the sound of the words is more importante than their content." A primeira questão é: será que, ao pôr de lado a intenção, i.e., a necessidade da música arrancar determinados fantasmas, i.e., arte, e fazer transparecer quase apenas a dimensão formal do som - porque quanto ao conteúdo, estamos conversados, é uma sucessão de frases inócuas -, retira toda a validade de uma obra? Se pensarmos em correntes tão contemporâneas como o eletroclash/trash/whatever, nem por isso. Sobra sempre uma enorme necessidade de diversão, e os sons encarregam-se por si de passar para o corpo. E o conteúdo, por muito superficial que seja, transporta sempre um jogo semiótico muito profundo, principalmente no mundo da pop, que conjugado com a forma adquire significações muitas vezes inesperadas, imprevisíveis, de acordo com o nosso próprio discurso. Por outras palavras, uma parte do fascínio da música é a divergência entre quem faz e quem ouve. O director's cut, a percepção final, é nossa.
O verdadeiro nome deste álbum é "Variações sobre um tema: a canção pop". Não fica longe de Lali Puna. Ou de um "Searching for Mr.Right" dos Young Marble Giants mais sofisticada. É música transparente, harmoniosa, monocórdica, mas com matizes ainda menos variadas que os seus parentes da Morr Music. Ao deixar de parte qualquer tentativa de desvio da canção pop de voz em degraus (usada como as notas de um teclado), sintetizador, guitarra e a batida a carimbar cada compasso, os Guther parecem ficar satisfeitos com uma fórmula previsível. É curto, para quem tem formação clássica e para quem vem da Morr Music, mas sem deixar de ser um álbum simpático, giro, enfim, todos aqueles adjectivos que se colam à pop que se deita discretamente no caixote do lixo depois de mastigar. E que deixa um muito agradável sabor na boca, porque não resiste nem tem ruídos desagradáveis.
"I Know You Know" tem dois momentos verdadeiramente viciantes, daqueles que ficam em permanência em loops neuróticos a ecoar durante o resto da tarde. Tudo junto, "Trouble You Cause" e "Taglieben" são nove minutos a abanar ritmadamente os ombros e a cabeça, se conseguirmos sobreviver à apatia das cinco músicas anteriores, que formam uma mole informe. Quatro dessas músicas começam da mesma maneira, com a bateria a servir de prelúdio à guitarra ou ao sintetizador. É um paradigma da fronteira ténue em que balança este disco, entre o mediocre e o mediocre, quer dizer, o interessante.
Falta a urgência da arte, porque a única urgência que parece suportar a música do duo alemão (embora eles prefiram serem considerados uma banda) é a de contar histórias que, pela estruturação e pela riqueza da linguagem, se passaram provavelmente na adolescência, lugar donde Julia Guther parece não ter saído. Os eternos jogos rapazinhos versus rapariguinhas preenchem o imaginário das letras, e os Guther não ficariam mal numa festa obscura de secundário, onde qualquer romance se revê naturalmente em títulos como "Boys Do Not Think" ou "What She Felt". Daqui a uns anos, quem sabe?
Nuno CruzA rapariga que dá nome ao grupo afirma: "We've chosen simplicity, even in respect to the lyrics. Most of the time, the sound of the words is more importante than their content." A primeira questão é: será que, ao pôr de lado a intenção, i.e., a necessidade da música arrancar determinados fantasmas, i.e., arte, e fazer transparecer quase apenas a dimensão formal do som - porque quanto ao conteúdo, estamos conversados, é uma sucessão de frases inócuas -, retira toda a validade de uma obra? Se pensarmos em correntes tão contemporâneas como o eletroclash/trash/whatever, nem por isso. Sobra sempre uma enorme necessidade de diversão, e os sons encarregam-se por si de passar para o corpo. E o conteúdo, por muito superficial que seja, transporta sempre um jogo semiótico muito profundo, principalmente no mundo da pop, que conjugado com a forma adquire significações muitas vezes inesperadas, imprevisíveis, de acordo com o nosso próprio discurso. Por outras palavras, uma parte do fascínio da música é a divergência entre quem faz e quem ouve. O director's cut, a percepção final, é nossa.
O verdadeiro nome deste álbum é "Variações sobre um tema: a canção pop". Não fica longe de Lali Puna. Ou de um "Searching for Mr.Right" dos Young Marble Giants mais sofisticada. É música transparente, harmoniosa, monocórdica, mas com matizes ainda menos variadas que os seus parentes da Morr Music. Ao deixar de parte qualquer tentativa de desvio da canção pop de voz em degraus (usada como as notas de um teclado), sintetizador, guitarra e a batida a carimbar cada compasso, os Guther parecem ficar satisfeitos com uma fórmula previsível. É curto, para quem tem formação clássica e para quem vem da Morr Music, mas sem deixar de ser um álbum simpático, giro, enfim, todos aqueles adjectivos que se colam à pop que se deita discretamente no caixote do lixo depois de mastigar. E que deixa um muito agradável sabor na boca, porque não resiste nem tem ruídos desagradáveis.
"I Know You Know" tem dois momentos verdadeiramente viciantes, daqueles que ficam em permanência em loops neuróticos a ecoar durante o resto da tarde. Tudo junto, "Trouble You Cause" e "Taglieben" são nove minutos a abanar ritmadamente os ombros e a cabeça, se conseguirmos sobreviver à apatia das cinco músicas anteriores, que formam uma mole informe. Quatro dessas músicas começam da mesma maneira, com a bateria a servir de prelúdio à guitarra ou ao sintetizador. É um paradigma da fronteira ténue em que balança este disco, entre o mediocre e o mediocre, quer dizer, o interessante.
Falta a urgência da arte, porque a única urgência que parece suportar a música do duo alemão (embora eles prefiram serem considerados uma banda) é a de contar histórias que, pela estruturação e pela riqueza da linguagem, se passaram provavelmente na adolescência, lugar donde Julia Guther parece não ter saído. Os eternos jogos rapazinhos versus rapariguinhas preenchem o imaginário das letras, e os Guther não ficariam mal numa festa obscura de secundário, onde qualquer romance se revê naturalmente em títulos como "Boys Do Not Think" ou "What She Felt". Daqui a uns anos, quem sabe?
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