M Ward percebe pouco de bola. Reza a história que em 2011 durante a final da Liga Europa entre o FC do Porto e o Braga, num famoso café da cidade do Porto, houve quem, mesmo não sendo o mais profundo conhecedor da matéria, tenha explicado ao norte-americano como funciona um fora de jogo, entre outras particularidades da modalidade desportiva. Essa pessoa é este que assina este texto.

Mas de uma coisa percebe M Ward: fazer discos. E ainda está para chegar o dia em que M Ward faça um mau ou próximo disso. Enquanto esse dia não chegar, celebremos a apuradíssima pop com raízes na música folk e country, as canções de peito cheio, o mapeamento conhecedor do território musical norte-americano, o domínio das subtilezas que transformam pequenas canções em algo relativamente memorável; maior que a vida em alguns casos. Celebremos a escrita de canções mais do que capaz e os arranjos que M Ward engendra.

O que dizer de “The First time I ran away� e das suas mil e quinhentas melodias entrelaçadas, ou do tema-título e da forma como se dilui na paisagem criada por si própria? Como resistir aos encantos de “Pure Joy� e das vozes arrastadas até ao limite da doçura? É complicado. É certo que este é um disco menos inocente e mais calculista que os do passado; mais pensado nos arranjos, mais contido até, menos espontâneo. Mas também é verdade que não podemos ser ingénuos para sempre. Algum dia a candura tem de acabar; mas nunca a beleza.