DISCOS
Dean Blunt & Inga Copeland
Black is Beautiful
· 03 Mai 2012 · 10:42 ·
Dean Blunt & Inga Copeland
Black is Beautiful
2012
Hyperdub


Sítios oficiais:
- Hyperdub
Dean Blunt & Inga Copeland
Black is Beautiful
2012
Hyperdub


Sítios oficiais:
- Hyperdub
Não há como vir ao engano, este é o novo álbum de Hype Williams.
Fiéis à sua natureza evasiva enquanto expressão em si mesma, o duo conhecido como Hype Williams toma neste Black is Beautiful a opção de adoptar os seus nomes artísticos, como que a lançar uma nova nuvem de fumo sobre a aparente revelação de uma personalidade mais tangível. Coisa que tem vindo a ser cultivada com alguma displicência esperta pelo duo, sem fazer disso uma bandeira e que incute a tudo aquilo que fazem uma certa aura tão intrigante como profundamente lacónica – basta ler alguma das suas poucas entrevistas para constatar isso mesmo. No fundo, um jogo de espelhos drogado, em que são atiradas bolas para o pinhal sem nunca se delinear uma narrativa ou significado para esse desnorte.

Acto contínuo, impossibilita a conceptualização de todo este corropio, na medida em que apesar de uma explicação vaga para esta mudança, assente em histórias pouco credíveis de um período conturbado para a banda – que incluem uma conversão ao islamismo e provas de captação para as Arsenal Girls – esta não passa de mais uma manobra desviante tão relevante quanto a obsessão pelo Drake que marcou os seus primeiros tempos enquanto duo. Como tal, resta apenas encarar Black is Beautiful como o novo álbum dos Hype Williams – mesmo que se trate de um one off do duo com estes nomes - sem perder muito tempo a mistificar todo este vazio ideológico. Resta a música.

O que numa perspectiva ingénua seria a forma preferencial – única? - de encarar um disco, como se a música qua música fosse um argumento viável numa altura em que estamos já todos minados por referências. Não é, e a era da hiper-informação vem apenas impossibilitar ainda mais essa demanda pela genuinidade. Curiosamente, no caso de Dean Blunt e Inga Copeland, o modo como a singularidade do seu som ressoa todo este não-mapa referencial, acaba por ser o único aspecto coerente da sua obra. Até porque, com maior ou menor incidência, essa nunca foi uma característica dominante nos seus discos – sejam eles álbuns mais sérios ou CD-R's invisíveis – num hit and miss constante entre o sublime e o dispensável. Black is Beautiful nada vem fazer para alterar essa situação.

“(Venice Dreamway)” é o único tema intitulado, e começa o disco com um surpreendente ataque de bateria devedor do free jazz mais incendiário, sobre o qual vai pairando uma névoa de teclado que resume o deslocamento dos Boards of Canada - “Ready Set Go” por exemplo – a uma nota insistente. Um poder de fogo que acaba por ficar refém da sua curta duração, tendo em conta a expansividade potencial desta dinâmica, mas cumpre o seu efeito de malha-de-abertura com uma convicção inabalável. Logo a seguir há uma reintrepretação sonâmbula de “Baby” de Donnie & Joe Emerson que apesar de projectar algum encanto alienante, fica a milhas de canções passadas como “Rise Up” ou “The Throning”.

Com as facetas devidamente expostas nesses dois momentos, Black is Beautiful vai progredindo por entre verdadeiras vignettes e temas curtos numa sucessão de momentos que ora alimentam de forma digna um fio condutor inconclusivo – as ambientais faixas 4 e 8 –, ora se espalham ao comprido como vestígios lo-fi de canções – 5 e 11. Enquanto elemento central e tangencialmente unificador, os temas 9 e 10 acrescem a duração para efeito distinto, mas igualmente fulcral.

A primeira começando com uma longa intro onde uma voz com o pitch alterado vai repetindo ”never look back” sobre sons citadinos distantes, antes de desembocar numa batida de hip-hop rasteira com direito a um breve rapping do Dean Blunt antes da voz alienada da Inga Copeland assumir os comandos com um certo desencanto melancólico. Logo a seguir, vem aquele que é o maior épico da banda desde a malha de abertura do Untitled : Ritmo vagamente dancehall a conduzir apontamentos melódicos soltos e vozes encharcadas em delay, algures entre a paranóia cool de “20 Jazz Funk Greats” dos Throbbing Gristle e as deambulações dos Excepter, mas com todo street wise do duo a direccionar energias. Momento verdadeiramente sublime de um disco que na sua obstinação deixa demasiadas pontas soltas sem capacidade de sobrevivência por entre os retalhos que verdadeiramente interessam. Por ora, o ratio ainda pende para o lado certo da balança.
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com

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