DISCOS
V/A
Future Sound of Jazz Vol. 12
· 26 Abr 2012 · 15:41 ·
V/A
Future Sound of Jazz Vol. 12
2012
Compost Records


Sítios oficiais:
- Compost Records
V/A
Future Sound of Jazz Vol. 12
2012
Compost Records


Sítios oficiais:
- Compost Records
Há regressos e regressos, e este faz sentido pelo sentido de oportunidade, não pela urgência da agenda do mercado.
Há regressos na música planeados que se comprometem a si mesmos mal se cheiram as ideias sustentadoras, mal se pressentem as forças motrizes que movimentam a operação. Os saudosistas, afogados em nostalgias, podem-se deixar fascinar pelo regresso no tempo a um som que lhes marcou uma idade, uma vivência. Quem mantenha os pés bem assentes na terra e contemple o passado e o presente numa linha única apontada ao futuro, estará consciente da falta de oportunidade de alguns regressos numa conjectura de crise criativa, com uma industria hipócrita que tritura tudo o que considera ideologicamente ultrapassado, datado, e cospe no primeiro instante permitido um novelo de pêlo como se de uma grande novidade se tratasse.

Ainda recentemente, a propósito do regresso de Orbital, Bruno Silva reflectia nestas páginas basicamente o mesmo quando escrevia: “Exceptuando uma ou outra excepção muito pontual, é sempre motivo de embaraço ver glórias do passado a tentar apanhar algum bandwagon mais recente como forma de reafirmar o seu papel precursor ou de se imiscuir por entre a tendência da semana.”

Depois de cinco anos sem qualquer acrescento ao número de volumes – e praticamente dez anos sem acrescentar nada de útil ao movimento nu-jazz, basicamente tendo "enchido chouriços" nos últimos tomos –, a Compost e Michael Reinboth decidiram reactivar a série Future Sound of Jazz conscientes que alguma desconfiança se iria gerar num período em que as novas tendências da música de dança não estão voltadas para um tipo de lounge music que teve o seu apogeu quando o século XX queimava os seus últimos dias.

O próprio Reinboth confessa no press-release deste 12º volume que entre 2007 e 2010 pouco ou nada existia que o estimulasse a elaborar mais uma compilação, compreendendo que a conjectura músical estava noutra fase, e ele próprio, enquanto DJ, mais interessado em divagar noutras tipologias. Em 2011 teve um déjà-vu enquanto tropeçava em material que a dupla de DJs holandesa Rupert & Mennert lhe propunha à degustação. Lê-se ainda no press-release, o próprio na primeira pessoa: “…a lot of great future jazzy tunes, very interesting projects are around these days, which are close to the asthetic of sound und feeling of the early and mid nineties, lot of reminiscence here and there.”

Haverá então algum sentido de oportunidade num novo tombo de uma série que ajudou à consagração de grandes nomes da electrónica dos anos 90 como Fauna Flash, The Mighty Bop, Nightmares On Wax, Sven Van Hees, Jazzanova, Truby Trio, Bjørn Torske ou Karma? Depois de escutar esta dupla edição de Future Sound of Jazz a resposta é afirmativa. Sim, porque, e à semelhança dos primeiros volumes, houve uma procura dos nomes mais pertinentes no que a um entendimento fusionista do jazz diz respeito; sim, porque de facto há indícios mínimos de alguma revitalização do nu-jazz; e sim, há magia no que se ouve sem se ficar com a impressão de estarmos reféns do tempo.

Os nomes que aqui se apresentam – tirando Sepalcure, Ensemble Du Verre, Der Dritte Raum ou Roberto di Giola – são, globalmente, desconhecidos de boa parte dos melómanos; nomes que se perderiam no emaranhado de edições não fosse este tipo de iniciativas. Jazz é o que os faz vibrar, de uma forma ou de outra. Não um jazz preso a uma qualquer vertente, é jazz aberto ao mundo e a novas ideias, devidamente estimulado pelas electrónicas. Não será o futuro som do género – porque isso seria pornograficamente pretensioso –, mas é o espírito aventureiro do jazz que se projecta para o amanhã, fazendo se sentir entre batidas house ou breakbeat, entre a pop convencional ou a bass-music, entre o blues ou o coração de África ou entre o electro ou o downtempo meloso. Há ambiências para todos os paladares sem se debruçar sobre qualquer moda.

São 24 temas – entre eles 5 exclusivos – que inteligentemente apelam ao corpo e ao espírito, nunca defraudando verdadeiramente um ou o outro – apesar de dois ou três temas em fora de contexto, uma velha tradição neste tipo de longas compilações. Future Sound of Jazz Vol. 12 é um conjunto variegado, seguro e honesto de deambulações etéreas, reflexões espartanas, rodos de eloquência, extravagâncias esotéricas e groove fantasioso como há muito a série não oferecia. Muito mais que preencher as necessidades absurdas do mercado, Future Sound of Jazz Vol. 12 é um regresso às raízes e um bem-aventurado retorno da Compost Records aos dias das antologias pertinentes.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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