Jack Hamill – e o seu Space Dimension Controller – já por aí anda há algum tempo em busca de um hipotético lugar junto dos grandes pulsares criativos da electrónica. E está lentamente a conquistá-lo com uma coerência estética difícil de ignorar. Já nos dias do EP The Love Quadrant (2009) Jack havia cravado os paradigmas essenciais da sua escrita criativa numa linguagem techno que devia mais a sua personalidade à essência do IDM britânico do início de 90 do que dos maneirismos do som de Detroit de finais de 80 – apesar do constante vaguear do espírito de Model 500, de Juan Atkins, em alguns quadrantes deste som. O EP Temporary Thrillz, editado no ano passado pela R&S Records, confirmou inequivocamente o rumo anteriormente estabelecido, com a expectativa em torno do disco de estreia a ganhar uma nova dimensão.

Enquanto o debutante – propriamente dito – não é editado, Jack Hamill a.k.a. Mr 8040 vai apresentando partes do universo que tem idealizado nos últimos tempos. É disso que se trata em The Pathway To Tiraquon 6: este disco é uma espécie de prequela em formato de mini-álbum que mais parece um álbum. E parece mais um álbum não simplesmente por ter um alinhamento constituído por 11 temas todos originais, mas porque possui uma coluna vertebral que sustenta ideias válidas do início ao fim que satisfazem o melómano pela transparência e convicção; se se preferir aprofundar a sua natureza, pode-se mesmo afirmar que é um registo conceptual tem a sua origem numa quimera futurista onde a raça humana vagueia pelo espaço em busca de um novo planeta que lhe sirva de casa. Ficção-cientifica sonora pura que todo o nerd irá adorar pela forma como despoleta a sua imaginação para as "profundezas" do futuro.

A divagação cósmica de The Pathway To Tiraquon 6 é uma constante nesta viagem sonora de 45 minutos que se ouve sem consciência da passagem do tempo. Sente-se o pulsar da kosmishe musik dos Popol Vuh, o exercício de desmultiplicação de fórmulas matemáticas dos Autechre, de Richard D. James ou – ladeado pelo future-jazz – de Spacetime Continuum ou o ambientalismo pastoril/ espacial dos The Orb, tudo memórias gratas na expressividade de uma programação exuberante e inteligente, repleta de evocações passadas que sabem preencher o espaço e o tempo sem invalidar a realidade que Jack Hamill pretende erguer com uma pujança capaz deixar marca no amanhã. Tarefa hercúlea a que se quer sujeitar, é certo; mas nada que outros visionários não se tenham submetido em nome de um ímpeto idêntico.

The Pathway To Tiraquon 6 é a consequência do admirável empenho na construção de cenários de grande escopo onde complexidade da máquina se cruza com a genuína beleza do sentimento humano. Um grande disco de techno futurista que sabe homenagear a ficção-cientifica, o legado da Artificial Inteligence da Warp e manter a vontade de explorar o universo para além dos limites do centro do ultraworld que tão bem conhecemos há 20 anos. Um híbrido obrigatório a ter em muita conta em 2011, especialmente quando se sente o aumento da brisa da electrónica dos anos 90 nos nossos dias musicais.