DISCOS
Wild Flag
Wild Flag
· 20 Out 2011 · 10:58 ·
Wild Flag
Wild Flag
2011
Merge


Sítios oficiais:
- Wild Flag
Wild Flag
Wild Flag
2011
Merge


Sítios oficiais:
- Wild Flag
Em equipa que já ganhou, as substituições devem ser feitas cuidadosamente. Aqui as jogadoras foram bem escolhidas.
Quando acabaram, em 2006, as Sleater-Kinney deixaram como herança final o seu melhor disco, The Woods. E se é verdade que quem dera a muitas bandas acabar com o seu melhor disco, também é verdade que quem dera a muitos fãs ter a oportunidade de saber se a banda poderia ao menos tentar superar o que tinha conseguido. Foi natural, pois, que a excitação se apoderasse dos fãs da banda de Olympia, Washington, quando se soube que duas S-Ks, a vocalista Carrie Brownstein e a baterista Janet Weiss (também tocou com Quasi, Go-Betweens e os Jicks de Stephen Malkmus), se iriam juntar à não menos consagrada Mary Timony, e à ex-Minders Rebecca Cole, nas Wild Flag. E o que se pode dizer é que, a haver alguma justiça no mundo, poucos sairão desiludidos da audição deste disco. Embora, talvez, ainda menos saiam depois dos concertos.

Será em concerto que as músicas de Wild Flag mais ganharão. Merecem ser ouvidas no meio dos claps das palmas de um público que faça Shake shimmy shake, como na faixa de abertura “Romance”. Merecem quantidades consideráveis de cinturas masculinas e femininas a rodopiarem hula-hoops imaginários, ao som de guitarras odaliscas como em “Endless Talk”. Merecem que se celebre o gosto em ver o sangue dos riffs, notas e acordes escorrer por sobre as melodias como ferida que derrama a ritmo lento. Merecem saltos e animação perante uma bateria que usa e abusa dos tom toms de tal forma que deixaria Meg White cansada, qual bala a fazer ricochete junto aos dedos dos pés. Já não é altura de se falar em coisas como riot-grrrl. Aqui não há outro manifesto que não seja a celebração do som pelo som. Feito por grrrls que sabem muito bem como colocar o prefixo à frente do rock, e este como prefixo à frente do pop.

No fundo, não existem grandes diferenças estilísticas entre as canções de Wild Flag. A toada tem os dois pés na garagem, e desloca-se ora perto do riff de “Sunshine Of Your Love” (“Boom”), por beat-pop e psicadelismo (“Glass Tambourine”), pelos anos 60 na significativamente baptizada “Electric Band”, ou no pára-arranca e extravagância de “Racehorse”. Isto, diga-se, tem sido só falar das guitarras e da bateria. Faltam as vozes. Ou talvez não faltem, se aqueles que estão a ler este texto souberem já da sensualidade que Carrie Brownstein e Mary Timony conseguem trazer a uma canção. Não estão ainda ao nível de Kim Gordon ou PJ Harvey – talvez ninguém esteja – mas fazem um óptimo trabalho de sussurros, ondulações, agudos e ligação à voltagem dos instrumentos. Tudo em sintonia e coesão, como se exige aos bons donos de garagens.

Claro que nem tudo é perfeito, e apetece desejar, talvez, que no futuro as Wild Flag saibam desenvolver o seu som, como as Sleater-Kinney conseguiram. Quando o registo está dentro de balizas bem definidas, por melhores que sejam é normal que por vezes a qualidade descaia. Faltará ver, por exemplo, se Mary Timony consegue trazer algo do seu excelente disco a solo The Golden Dove. Queixas espúrias, talvez. As Wild Flag são um prazer de escutar. E é com palmas que lhes dizemos Olá, Obrigado e Até Breve!
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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