DISCOS
Thundercat
The Golden Age of Apocalypse
· 18 Out 2011 · 09:37 ·
Thundercat
The Golden Age of Apocalypse
2011
Brainfeeder


Sítios oficiais:
- Thundercat
- Brainfeeder
Thundercat
The Golden Age of Apocalypse
2011
Brainfeeder


Sítios oficiais:
- Thundercat
- Brainfeeder
Nada de genial advém do excesso de gente a mexer nos botões da máquina do tempo.
Há música que sai de forma natural, espontânea como se há anos estivesse a aguardar uma simples oportunidade para se expressar sem constrangimentos. Há outras que surgem de forma pragmática, demasiado matematizada, que andaram meses a serem forjadas em busca de um propósito. Thundercat encaixa-se nesta última categoria. Apesar de um bom disco de estreia, ele é bom porque um competente produtor foi capaz de estabelecer prioridades e determinar o lugar certo para cada impetuosidade da escrita original. Não criemos ilusões: The Golden Age of Apocalypse é um disco estimulante muito provavelmente porque Flying Lotus arrumou as ideias díscolas de Stephen Brunner e criou um sincretismo competente que não condenasse toda a acção a um inconsequente exercício de estilo escrito na primeira pessoa do singular.

Stephen Brunner é conhecido essencialmente por em ocasiões ter cinzelado o baixo para os Suicidal Tendencies, Snoop Dog, Erykah Badu, Sa-Ra Creative Partners, Austin Peralta, J*Davey ou Flying Lotus. E além de ter sacado o nome para o seu projecto de um famoso desenho-animado dos anos 80 (o início do disco não esconde o fascínio), nada mais se sabe da biografia deste sujeito que, pelo que se ouve neste disco de estreia, revela grande reverência por uma particular linha de jazz de fusão que teve nos anos 70 grande relevância pelas mãos de Roy Ayers, George Duke, Herbie Hancock, Jaco Pastorius ou Billy Cobham.

The Golden Age of Apocalypse é o ditoso ponto de arranque de Brunner a solo; e voltando à ideia perfeitamente expressa no primeiro paragrafo, tudo seria diferente se o visionário Steven "FlyLo" Ellison não se predispusesse – talvez por consequência da admiração que nutre por Brunner e a sua técnica na manipulação das cordas do baixo – a assumir o controlo da orientação estética do disco. Há em The Golden Age of Apocalypse um lado académico, formal, esquematizado que é contrariado constantemente por uma outra atitude, a da espontaneidade. É ai que, por ironia, reside a natureza conflituosa e, simultaneamente, a força vital do alinhamento. No início, este disco suscita curiosidade pela dinâmica rítmica em campos do electro-funk, fascínio pelo manuseamento de um jazz progressista que abraça tudo e todos, admiração na ecléctica expressão da alma. Tudo muito cool, mas tudo algo precário ao fim de umas quantas escutas quando nos apercebemos de dicotomias.

Não se interprete mal a ideia que deve prevalecer: o disco é bom, capaz de genuínos momentos de prazer, espirituoso, deliciosamente cósmico. Onde tudo soa algo frustrante é no pormenor de não atingir o zénite muito pela consequência da luta interna, o conflito pessoal que revela com o seu "eu". Pode ser fria a desconsideração quando se afirma isto tentando convencer terceiros da qualidade de toda a acção, mas há coisas que são elementares:Cosmmograma era a visão conscientemente futurista de um homem, The Golden Age of Apocalypse é a soma de duas visões que oportunamente acasalaram em nome de um ideal revivalista.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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