DISCOS
Barn Owl / Evan Caminiti / Jon Porras
Shadowland / When California Falls Into the Sea / Undercurrent / Lost In The Glare
· 22 Set 2011 · 01:18 ·

Barn Owl / Evan Caminiti / Jon Porras
Shadowland / When California Falls Into the Sea / Undercurrent / Lost In The Glare
2011
Thrill Jockey / Handmade Birds / Root Strata
Sítios oficiais:
- Thrill Jockey
- Handmade Birds
- Root Strata
Shadowland / When California Falls Into the Sea / Undercurrent / Lost In The Glare
2011
Thrill Jockey / Handmade Birds / Root Strata
Sítios oficiais:
- Thrill Jockey
- Handmade Birds
- Root Strata

Barn Owl / Evan Caminiti / Jon Porras
Shadowland / When California Falls Into the Sea / Undercurrent / Lost In The Glare
2011
Thrill Jockey / Handmade Birds / Root Strata
Sítios oficiais:
- Thrill Jockey
- Handmade Birds
- Root Strata
Shadowland / When California Falls Into the Sea / Undercurrent / Lost In The Glare
2011
Thrill Jockey / Handmade Birds / Root Strata
Sítios oficiais:
- Thrill Jockey
- Handmade Birds
- Root Strata
Mais do que "fazer uma cena drone" ou tocar uns sininhos, os Barn Owl preocupam-se em fazer discos de guitarrada como poucos fazem. Com todos os benefícios e percalços da juventude do rock, mostram de certeza estar a querer alcançar uma Agartha que não é para ouvidos distraídos.
A priori, os Barn Owl seguem o perfil de uma banda com cinco anos existência: com catálogo auto-editado, bramido na Not Not Fun e na Digitalis, reavaliado na Root Strata, e recentemente engavetado na identidade que a Thrill Jockey assumiu nesta nova década.
Depois disso, os Barn Owl são também um duo de guitarras composto por Evan Caminiti e Jon Porras, oriundos de San Francisco, California. E é sobre isso que se quer escrever – a parte das guitarras, do duo, e dos músicos que o compõem. Se se quer entender qual o papel deste instrumento no rock dos últimos anos, podia ser este o contexto. Depois de meia década com uma reintrodução cultural da corda-como-indutora-do-drone-na cabeça-do-ouvinte, gente mais nova ( que o Ben Chasny, que os Sunburned, que o Jim o'Rourke, que os Spacemen 3... e a lista vai ganhando mofo, sim ) quer esforçar-se por consumar um decente leque referencial de pós colonialismo na sua abordagem do instrumento mais comum do lar ocidental. O primeiro destaque para os Barn Owl é terem mostrado recentemente que se preocupam genuinamente com as suas influências e que, pelos vistos, estão a fazer da música um métier – a procurar o drone noutros instrumentos, a transcender o chato classicismo do freak-rock de guitarras com e-bow, e a tentar procurar a sua música em abordagens diferentes das que se lhes conhecem, seja a solo, em duo, ou no meio de uma bigband a mando de Ellen Fullman.
2011 vê o lançamento de 5 ( cinco! ) discos do universo Barn Owl no espaço de 7 (sete!) meses. Depois do lançamento de The Headlands ( Important Records ), no qual integram um conjunto de músicos a interpretar peças/poemas para o Long String Instrument de Ellen Fullman, tocando dulcimer, guitarra, e gongos, devem ter aprendido uma valente lição.
Adiante, o que começa a interessar no âmbito da diatribe é o disco solo de Evan Caminiti, When California Falls Into the Sea ( Handmade Birds ). Abre com uma das melhores malhas do disco, senão a melhor. «Heavy Whisper» é a suma do disco: guitarra eléctrica com reverb e distorção quanto baste, a sair por amplificadores a válvulas – e esses nunca bastam. Nada de loops. Nada de gravação por pistas, com os harmónicos em sustain onírico. Aqueles loops bem suturados de Barn Owl e dos discos anteriores de Caminiti são substituídos por riffagem cosida ( com 's' ) com óbvias referências a Loren Connors, Tom Carter, e ao que é esparso e esquálido na poesia da guitarra americana mais ou menos mainstream depois do Dead Man do Neil Young e do Red Cross do John Fahey. Como tal, o disco prolonga-se em variações arpégicas com slide para os agudos, e uma saudável murkiness ( passando o oxímoro ). Com uns títulos de faixa devidamente sinestéticos, este disco dá uns passos para continuar competir à guitarra ser o intrumento que continua a elevar o pathos como conceito estável no rock de românticos.
Já Jon Porras, com Undercurrent ( Root Strata ), mantém o bliss campestre que caracteriza os seus trabalhos no duo e em Elm. A sua guitarra prendeu-se à parede de som de um confesso gosto pelas exigências estéticas do black metal, e faz-se acompanhar de exercícios com loops de fita que fazem a cama para pomposas elegias de guitarra em oito semi-longas faixas. Tenho ideia de que foi um disco problemático – sofreu uns 7 ou 8 test pressings para o lançamento do vynil. A guitarra é declaradamente processada por pedais de efeitos ( por vezes Dois de cada! ), e a domesticação de melodias e nuvens eléctricas queda-se engasgada com a deriva botónica que estas malhas devem querer manifestar. Pelo meio é preciso tocar guitarra. Não em defesa de um purismo eléctrico, a crítica fica nesse registo; a fasquia é muito alta, e o aparato transcende, infelizmente, as intenções poéticas de um disco que encaixa no catálogo da Root Strata mas não soa a ter conseguido escapar ao drone consumado em trabalhos anteriores ou no que o seu colega consegue empratar com o seu último disco de Higuma.
Decantados os manifestos individuais, Caminiti e Porras procederam ao lançamento de Shadowland, o EP que sucedeu Ancestral Star na Thrill Jockey. Podemos assumir, em prol do argumento, que a maior lição que retiraram da experiência com Ellen Fullman se reflecte na decisão de dilatar o espectro de harmónicos no seu drone – conseguindo uma riqueza tonal que guia e desorienta o ouvido, muito mais que a estreiteza da stasis do disco anterior. O alcance não é como o título da última faixa ( Infinite Reach ), mas os sintetizadores e as guitarras dão conta de começar a sujar o som da banda. Destaco especialmente o valor que o loop-mantra tem neste disco: as duas faixas iniciais são palimpsestos de frases decentes – não as melodias mais imaginativas, por serem baseada em cadências agradáveis que são felizmente decoradas com longas rajadas de distorção.
Então, o que parece estar a dignificar o trabalho dos Barn Owl é o facto de estarem a abrir o espectros tímbrico e tonal – e a aceitarem a gravação como contexto de estabelecimento identitário do instrumento. Até Ancestral Star quiseram limpar o som, esconder os ataques do bypass da distorção, o cantarolar eléctrico da amplificação, até o palhetar e o reverb natural da guitarra. A música que fazem sofre de um mito contextual lixado; o problema da impressão cinemática nesta música é antigo: O cadastro cultural inclui etnotretas, minimalismuzak, e arquétipos de algibeira. O desenho do som cinematográfico é então culpado de muitos instrumentos deixarem de ser instrumentos e passarem a ser sons que ilustram e não sobrevivem sozinhos. Se a percepção do público se condiciona assim, é claro que se dizem postas como “este disco é a bso perfeita para um filme do tal-tal.” Mas o problema é vasto, porque até as editoras têm que vender os discos com um paleio desses.
No novo disco, Lost In The Glare, esta limpidez pela qual optam muitos músicos norte-americanos é posta de lado. Sem dúvida, apresentam-se oito malhas compostas por som auto-referencial – a paisagem fica para a capa, porque a música tem a patine que lhe permite estar Lá, a rockar. A majestade comedida da bateria na mistura é omnipresente do início ao fim, o tom devocional, descomprometido, atravessa todos os arranjos e – ainda bem – a riffagem está menos certinha, há espaço para encavalitar dedilhados imperfeitos e outras boas brusquidões. É verdade que senão fôsse isto, cada disco começava a importunar por dar impressão de ser uma coisa esquemática, de narrativa clássica para rock instrumental. Dessa escapam de raspão. A impressão de Popol Vuh'zada é já inevitável: guitarra acústica em arpejos quase fractais ( os “rendilhados” e “kaleidoscopias” de que se fala a eito ) e o arriscado mas desenrascado uso de gongos e tanpura. O Juno 60 já tinha dado provas de ser bem usado nos dois registos anteriores da banda.
Dignamente, conseguem reunir todo o seu corpo de trabalho num disco que mostra bem o que é fazer música que não se cola ao “fazer uma cena drone” ou “usar uns sininhos”. Como músicos que se arriscam a não ser ouvidos porque “ah, o outro já fazia isso antes”, a patente preocupação de estar a contribuir com algo novo num género que está para o rock como o cozido está num restaurante do Colombo, é, sem dúvida, Meritória.
Filipe FelizardoDepois disso, os Barn Owl são também um duo de guitarras composto por Evan Caminiti e Jon Porras, oriundos de San Francisco, California. E é sobre isso que se quer escrever – a parte das guitarras, do duo, e dos músicos que o compõem. Se se quer entender qual o papel deste instrumento no rock dos últimos anos, podia ser este o contexto. Depois de meia década com uma reintrodução cultural da corda-como-indutora-do-drone-na cabeça-do-ouvinte, gente mais nova ( que o Ben Chasny, que os Sunburned, que o Jim o'Rourke, que os Spacemen 3... e a lista vai ganhando mofo, sim ) quer esforçar-se por consumar um decente leque referencial de pós colonialismo na sua abordagem do instrumento mais comum do lar ocidental. O primeiro destaque para os Barn Owl é terem mostrado recentemente que se preocupam genuinamente com as suas influências e que, pelos vistos, estão a fazer da música um métier – a procurar o drone noutros instrumentos, a transcender o chato classicismo do freak-rock de guitarras com e-bow, e a tentar procurar a sua música em abordagens diferentes das que se lhes conhecem, seja a solo, em duo, ou no meio de uma bigband a mando de Ellen Fullman.
2011 vê o lançamento de 5 ( cinco! ) discos do universo Barn Owl no espaço de 7 (sete!) meses. Depois do lançamento de The Headlands ( Important Records ), no qual integram um conjunto de músicos a interpretar peças/poemas para o Long String Instrument de Ellen Fullman, tocando dulcimer, guitarra, e gongos, devem ter aprendido uma valente lição.
Adiante, o que começa a interessar no âmbito da diatribe é o disco solo de Evan Caminiti, When California Falls Into the Sea ( Handmade Birds ). Abre com uma das melhores malhas do disco, senão a melhor. «Heavy Whisper» é a suma do disco: guitarra eléctrica com reverb e distorção quanto baste, a sair por amplificadores a válvulas – e esses nunca bastam. Nada de loops. Nada de gravação por pistas, com os harmónicos em sustain onírico. Aqueles loops bem suturados de Barn Owl e dos discos anteriores de Caminiti são substituídos por riffagem cosida ( com 's' ) com óbvias referências a Loren Connors, Tom Carter, e ao que é esparso e esquálido na poesia da guitarra americana mais ou menos mainstream depois do Dead Man do Neil Young e do Red Cross do John Fahey. Como tal, o disco prolonga-se em variações arpégicas com slide para os agudos, e uma saudável murkiness ( passando o oxímoro ). Com uns títulos de faixa devidamente sinestéticos, este disco dá uns passos para continuar competir à guitarra ser o intrumento que continua a elevar o pathos como conceito estável no rock de românticos.
Já Jon Porras, com Undercurrent ( Root Strata ), mantém o bliss campestre que caracteriza os seus trabalhos no duo e em Elm. A sua guitarra prendeu-se à parede de som de um confesso gosto pelas exigências estéticas do black metal, e faz-se acompanhar de exercícios com loops de fita que fazem a cama para pomposas elegias de guitarra em oito semi-longas faixas. Tenho ideia de que foi um disco problemático – sofreu uns 7 ou 8 test pressings para o lançamento do vynil. A guitarra é declaradamente processada por pedais de efeitos ( por vezes Dois de cada! ), e a domesticação de melodias e nuvens eléctricas queda-se engasgada com a deriva botónica que estas malhas devem querer manifestar. Pelo meio é preciso tocar guitarra. Não em defesa de um purismo eléctrico, a crítica fica nesse registo; a fasquia é muito alta, e o aparato transcende, infelizmente, as intenções poéticas de um disco que encaixa no catálogo da Root Strata mas não soa a ter conseguido escapar ao drone consumado em trabalhos anteriores ou no que o seu colega consegue empratar com o seu último disco de Higuma.
Decantados os manifestos individuais, Caminiti e Porras procederam ao lançamento de Shadowland, o EP que sucedeu Ancestral Star na Thrill Jockey. Podemos assumir, em prol do argumento, que a maior lição que retiraram da experiência com Ellen Fullman se reflecte na decisão de dilatar o espectro de harmónicos no seu drone – conseguindo uma riqueza tonal que guia e desorienta o ouvido, muito mais que a estreiteza da stasis do disco anterior. O alcance não é como o título da última faixa ( Infinite Reach ), mas os sintetizadores e as guitarras dão conta de começar a sujar o som da banda. Destaco especialmente o valor que o loop-mantra tem neste disco: as duas faixas iniciais são palimpsestos de frases decentes – não as melodias mais imaginativas, por serem baseada em cadências agradáveis que são felizmente decoradas com longas rajadas de distorção.
Então, o que parece estar a dignificar o trabalho dos Barn Owl é o facto de estarem a abrir o espectros tímbrico e tonal – e a aceitarem a gravação como contexto de estabelecimento identitário do instrumento. Até Ancestral Star quiseram limpar o som, esconder os ataques do bypass da distorção, o cantarolar eléctrico da amplificação, até o palhetar e o reverb natural da guitarra. A música que fazem sofre de um mito contextual lixado; o problema da impressão cinemática nesta música é antigo: O cadastro cultural inclui etnotretas, minimalismuzak, e arquétipos de algibeira. O desenho do som cinematográfico é então culpado de muitos instrumentos deixarem de ser instrumentos e passarem a ser sons que ilustram e não sobrevivem sozinhos. Se a percepção do público se condiciona assim, é claro que se dizem postas como “este disco é a bso perfeita para um filme do tal-tal.” Mas o problema é vasto, porque até as editoras têm que vender os discos com um paleio desses.
No novo disco, Lost In The Glare, esta limpidez pela qual optam muitos músicos norte-americanos é posta de lado. Sem dúvida, apresentam-se oito malhas compostas por som auto-referencial – a paisagem fica para a capa, porque a música tem a patine que lhe permite estar Lá, a rockar. A majestade comedida da bateria na mistura é omnipresente do início ao fim, o tom devocional, descomprometido, atravessa todos os arranjos e – ainda bem – a riffagem está menos certinha, há espaço para encavalitar dedilhados imperfeitos e outras boas brusquidões. É verdade que senão fôsse isto, cada disco começava a importunar por dar impressão de ser uma coisa esquemática, de narrativa clássica para rock instrumental. Dessa escapam de raspão. A impressão de Popol Vuh'zada é já inevitável: guitarra acústica em arpejos quase fractais ( os “rendilhados” e “kaleidoscopias” de que se fala a eito ) e o arriscado mas desenrascado uso de gongos e tanpura. O Juno 60 já tinha dado provas de ser bem usado nos dois registos anteriores da banda.
Dignamente, conseguem reunir todo o seu corpo de trabalho num disco que mostra bem o que é fazer música que não se cola ao “fazer uma cena drone” ou “usar uns sininhos”. Como músicos que se arriscam a não ser ouvidos porque “ah, o outro já fazia isso antes”, a patente preocupação de estar a contribuir com algo novo num género que está para o rock como o cozido está num restaurante do Colombo, é, sem dúvida, Meritória.
ardo.zilef@gmail.com
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