DISCOS
AraabMUZIK
Electronic Dream
· 15 Set 2011 · 10:00 ·
AraabMUZIK
Electronic Dream
2011
Duke


Sítios oficiais:
- AraabMUZIK
AraabMUZIK
Electronic Dream
2011
Duke


Sítios oficiais:
- AraabMUZIK
A salvação do trance.
Este é o ano das salvações. Bem, todos os anos encontramos discos que são apresentados como sendo de salvação de uma forma ou de outra, mas, talvez subconscientemente alimentados pela perspectiva de um fim de mundo mais próximo do que o costume, este 2011 já foi palco para críticos e ouvintes alike apregoarem a salvação do punk via Iceage, do r&b pelo narcotizado Weeknd e, claro está, do verão, através do novo disco do B Fachada. E, claro, vemo-nos sempre obrigados a responder num tom amargamente paternalista "não, pá, isso não salva coisa nenhuma, é só um disco bastante bom, yada yada yada" a quem não cessa de nos atirar com tais mostras de religiosidade à cara.

Assim, e porque se não posso vencê-los junto-me a eles, ou porque apropriar-me desta frase-feita para meu próprio deleite é um exemplo típico de ironia hipster (sejamos francos: somos todos hipsters, e assumi-lo é em si algo incrivelmente hipster, e quando damos por nós a nossa vida é o Inception), proclama-se o que foi indicado na introdução a este texto: o disco de estreia de Abraham Orellana, alias AraabMUZIK, que é um produtor ligado desde sempre ao hip-hop - já trabalhou, por exemplo, com Cam'ron e Busta Rhymes -, é a salvação do trance. O trance precisava de ser salvo? Provavelmente não, mas o responsável pela sua saturação merece sem dúvida e em bom português um balázio nos cornos.

Electronic Dream é um álbum voltado para as pistas. Ponto. Ao longo dos 35 minutos que correm como uma mixtape, não faltando a marca d'água propositada, Orellana alia a sua mestria aos comandos de uma MPC (aquilo que o tornou conhecido em primeiro lugar) aos sintetizadores e passagens melódicas do trance, transformando tanto os beats hip-hop como os samples de divas não poucas vezes irritantes em algo, talvez não de novo, mas sem dúvida de viciante. Caso para perguntar: onde estavas tu em '92 (no caso da minha geração, em '02)? O paralelo com a obra-prima de Zomby é inevitável pelas memórias que trará, mas musicalmente Orellana estará mais perto, por exemplo, do approach ao r&b do enormíssimo Star Slinger.

Assim: é Electronic Dream a salvação seja do que for? É óbvio que não. Mas "Streetz Tonight" e "Golden Touch", que vão variando entre a doce sonolência de um beat drogado e o êxtase dançável do 4/4, são malhas incríveis. "Underground Stream" torna-se numa faixa assustadora(mente boa) mal, a meio, a lembrança gabber nos atinge os tímpanos. Os sintetizadores épicos de "Lift Off" são o que mais se aproxima de "azeite" neste disco e ainda assim soa muito bem. E há ainda "Feelin' So Hood", quase a fechar, a dar asas ao torpor psicológico que House Of Balloons parece ter popularizado. Ao mesmo tempo dançável, melancólico e toxicómano, Electronic Dream é um disco para pôr gente a ouvir ou a reouvir trance. Ou para recordar que "Better Off Alone" foi a melhor coisinha que o nosso 9º ano nos deu.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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