DISCOS
Yuck
Yuck
· 06 Set 2011 · 10:26 ·
Yuck
Yuck
2011
V2 / CoOp
Sítios oficiais:
- Yuck
Yuck
2011
V2 / CoOp
Sítios oficiais:
- Yuck
Yuck
Yuck
2011
V2 / CoOp
Sítios oficiais:
- Yuck
Yuck
2011
V2 / CoOp
Sítios oficiais:
- Yuck
Velhas guitarras cheiram a novo.
A melhor maneira de descrever a ascensão quase-meteórica dos Yuck e o disco que acabam de lançar é utilizar o tÃtulo do novo livro de Simon Reynolds: Retromania. AÃ, Reynolds argumenta, e bem, que a reciclagem dos tempos idos não é nenhuma nova tendência, mas que o advento das novas tecnologias e da era da informação praticamente que esgotou esse filão chamado passado. Nos tempos que correm encontramos cópias atrás de cópias atrás de cópias, melómanos tão sedentos de novidade que estão dispostos a chamar chillwave à synthpop caseira de centenas de projectos que por aà circulam hoje em dia (sem desprimor para a sua qualidade), apenas e só na tentativa de criar uma "cena", de estabelecer um marco nos anos zero, algo que - a julgar pelo seu crescimento e expansão - apenas o dubstep conseguiu fazer, e mesmo este género surge pela evolução de um parente antigo.
Esta cultura retro, no que concerne à pop (mainstream ou não), tem encontrado o seu apanágio nos oitentas, discutivelmente a última grande década no que toca não só à indústria do entretenimento como à s mudanças socio-económicas que nela se verificaram; e igualmente interessante será notar que a geração da máxima interconectividade sente nostalgia por um tempo em que os computadores caseiros se começavam a disseminar. E, claro, este é um fascÃnio que se alastra aos noventas, a década da expansão da internet. Ou seja, este fascÃnio cultural alia-se sobretudo ao apelo tecnológico e à velha percepção de que uma evolução no campo da tecnologia resultará em novas formas de entretenimento, e claro está, em novas linguagens musicais. O que como se sabe não acabou por se verificar - o drum n´ bass, o penúltimo grande marco no campo da electrónica, não salvou o mundo como alguns proclamavam na altura. Em suma, assistimos a uma espécie de "nostalgia pelo futuro", ao sentimento de que se dermos dois passos atrás daremos quatro à frente; a tendência retro encontra o seu espaço na música, mas não se debruça tanto sobre a música como sobre um ideal perdido, que é o da novidade.
No que toca a esta e aos nineties, devolve igualmente um sentimento que é o de tristeza pela morte do último grande Ãcone rock, Kurt Cobain, e consequentemente pelo fim da banda que "reavivou" - entre aspas, porque proclamar mortes ou ressurreições de géneros musicais são e serão sempre conjecturas palermas - o rock nesse perÃodo e abriu caminho à s bandas independentes/underground que se lhe seguiram. Nesta perspectiva, os Yuck não criam mais do que o inevitável, algo que já se tinha em mente aquando da segunda vaga do shoegaze em meados da década passada: o retro de cabeça nos anos noventa, na ressaca do posterior glamour pop. Será mais aos Pavement que aos Nirvana, certo, que os Yuck resgatam ideias e guitarras para realizar a sua noção rock, mas o sentimento nostálgico está lá presente; parafraseando Pessoa, «saudades imaginárias da década que nunca viveram», pelo menos não como o desejariam. Resumidamente um paradoxo: adultos a desejar serem crianças adultas.
A grande questão será saber como encarar a banda e o disco. Devemos desprezar os Yuck como apenas mais um plágio? Devemos tê-los em conta como um nome fresco e sonante do revivalismo nineties ou até rock, assim como os Strokes o foram há dez anos? Tudo dependerá da posição que cada um tiver em relação a toda esta retromania. Se queremos ouvir o futuro, aqui e agora, os Yuck não passam de um bando de hipsters que andam a tocar covers dos Pavement e dos Dinosaur Jr. e que conseguiram enganar uma carrada de idiotas ao fazê-lo. Se queremos, como os Yuck, procurar regressar aos tempos idos da infância e/ou adolescência despreocupada, então estes podem muito bem ser a melhor banda do mundo neste momento e neste aspecto, porque conseguem recriar esse passado como muito poucos.
Evidentemente existe a terceira via, aquela destinada aos que se estão nas tintas para os problemas existenciais de hoje, de ontem ou de amanhã, e que querem simplesmente ouvir um grande disco. Sem procurar saber se estes se encontram na maioria ou minoria dos ouvintes, há que o dizer: Yuck é um grande disco. Sem dúvidas, sem merdas. Mesmo sendo, igualmente, um paradoxo; parece uma relÃquia fora do seu tempo, mas soa fresco e novo como há vinte anos soaram as suas influências. As melodias pop adolescentes, a emotividade nas canções, o fuzz, as dinâmicas quiet-loud: tudo aqui é trabalhado na perfeição, resultando num disco que, por muito que quiséssemos ser cÃnicos e enfiá-los no contentor da reciclagem, não tem uma única má canção. E isso, para um objecto destes, e até para os discos de hoje em dia, tornados quase obsoletos pela força que o single alcançou numa geração aparentemente infectada com ADD, é extraordinário.
"Get Away", logo a abrir, podia muito bem definir o disco no seu todo - punk ruminado, ruidoso, letra tipicamente teen e um gosto evidente pela melodia. Mas escolher um entre estes doze temas é uma tarefa dificÃlima. Tanto que logo a seguir entra "The Wall", com os coros que tanto amamos e que gajos fixes como Nathan Williams têm resgatado para nosso deleite, com os versos repetidos sem cansar: tryin' to make it through the wall, you can see me if you're tall... juntando-se-lhe os momentos melancólicos de "Shook Down", que já é bem capaz de se ter tornado num sucesso ou não seria ouvida num PA antes de um concerto de Joss Stone, ou o slowcore de "Stutter" e "Rose Gives A Lilly", e a amorosa "Suicide Policeman". E depois: "Holing Out", "Georgia" ou "Operation", todas elas malhas de saudável electricidade pop. Sem esquecer "Rubber", fecho de disco em modo arrastado, aceno natural ao shoegaze. Posto isto, cabe a cada qual, em cada audição, encontrar o seu ponto alto num disco que está repleto deles - até porque se ouve, em "Suck", que everybody makes love in their own way. Este escriba muito humildemente escolhe a incredibilidade romântico-fofinha de "Sunday", que é canção para se olhar a cara-metade nos olhos e sussurrar um determinado «amo-te», e que é demasiado doce para não ser mencionada nem para não estar no top dois (pronto, chega de tentar influenciar outras escolhas).
Haverá, contudo, um pensamento que não nos sai da cabeça: estes putos são mesmo de Londres? A pureza pop de Yuck consiste precisamente em conseguir ser mais Yankee que os Yankees, algo que se deve, voilá, à era da informação e consequentemente da quebra de fronteiras e pré-concepções. Como se já não bastasse ser mais nineties que os próprios. O nome pode levar para o campo da repulsa, mas Yuck é o contrário absoluto de meter nojo; é um suave embalo pelo campo do retro, quer queiramos quer não, quer sintamos esse apelo nostálgico quer não. E é disco suficiente para os colocarmos desde já no pelotão das boas coisas que sucederam na segunda década do século da regurgitação.
Paulo CecÃlioEsta cultura retro, no que concerne à pop (mainstream ou não), tem encontrado o seu apanágio nos oitentas, discutivelmente a última grande década no que toca não só à indústria do entretenimento como à s mudanças socio-económicas que nela se verificaram; e igualmente interessante será notar que a geração da máxima interconectividade sente nostalgia por um tempo em que os computadores caseiros se começavam a disseminar. E, claro, este é um fascÃnio que se alastra aos noventas, a década da expansão da internet. Ou seja, este fascÃnio cultural alia-se sobretudo ao apelo tecnológico e à velha percepção de que uma evolução no campo da tecnologia resultará em novas formas de entretenimento, e claro está, em novas linguagens musicais. O que como se sabe não acabou por se verificar - o drum n´ bass, o penúltimo grande marco no campo da electrónica, não salvou o mundo como alguns proclamavam na altura. Em suma, assistimos a uma espécie de "nostalgia pelo futuro", ao sentimento de que se dermos dois passos atrás daremos quatro à frente; a tendência retro encontra o seu espaço na música, mas não se debruça tanto sobre a música como sobre um ideal perdido, que é o da novidade.
No que toca a esta e aos nineties, devolve igualmente um sentimento que é o de tristeza pela morte do último grande Ãcone rock, Kurt Cobain, e consequentemente pelo fim da banda que "reavivou" - entre aspas, porque proclamar mortes ou ressurreições de géneros musicais são e serão sempre conjecturas palermas - o rock nesse perÃodo e abriu caminho à s bandas independentes/underground que se lhe seguiram. Nesta perspectiva, os Yuck não criam mais do que o inevitável, algo que já se tinha em mente aquando da segunda vaga do shoegaze em meados da década passada: o retro de cabeça nos anos noventa, na ressaca do posterior glamour pop. Será mais aos Pavement que aos Nirvana, certo, que os Yuck resgatam ideias e guitarras para realizar a sua noção rock, mas o sentimento nostálgico está lá presente; parafraseando Pessoa, «saudades imaginárias da década que nunca viveram», pelo menos não como o desejariam. Resumidamente um paradoxo: adultos a desejar serem crianças adultas.
A grande questão será saber como encarar a banda e o disco. Devemos desprezar os Yuck como apenas mais um plágio? Devemos tê-los em conta como um nome fresco e sonante do revivalismo nineties ou até rock, assim como os Strokes o foram há dez anos? Tudo dependerá da posição que cada um tiver em relação a toda esta retromania. Se queremos ouvir o futuro, aqui e agora, os Yuck não passam de um bando de hipsters que andam a tocar covers dos Pavement e dos Dinosaur Jr. e que conseguiram enganar uma carrada de idiotas ao fazê-lo. Se queremos, como os Yuck, procurar regressar aos tempos idos da infância e/ou adolescência despreocupada, então estes podem muito bem ser a melhor banda do mundo neste momento e neste aspecto, porque conseguem recriar esse passado como muito poucos.
Evidentemente existe a terceira via, aquela destinada aos que se estão nas tintas para os problemas existenciais de hoje, de ontem ou de amanhã, e que querem simplesmente ouvir um grande disco. Sem procurar saber se estes se encontram na maioria ou minoria dos ouvintes, há que o dizer: Yuck é um grande disco. Sem dúvidas, sem merdas. Mesmo sendo, igualmente, um paradoxo; parece uma relÃquia fora do seu tempo, mas soa fresco e novo como há vinte anos soaram as suas influências. As melodias pop adolescentes, a emotividade nas canções, o fuzz, as dinâmicas quiet-loud: tudo aqui é trabalhado na perfeição, resultando num disco que, por muito que quiséssemos ser cÃnicos e enfiá-los no contentor da reciclagem, não tem uma única má canção. E isso, para um objecto destes, e até para os discos de hoje em dia, tornados quase obsoletos pela força que o single alcançou numa geração aparentemente infectada com ADD, é extraordinário.
"Get Away", logo a abrir, podia muito bem definir o disco no seu todo - punk ruminado, ruidoso, letra tipicamente teen e um gosto evidente pela melodia. Mas escolher um entre estes doze temas é uma tarefa dificÃlima. Tanto que logo a seguir entra "The Wall", com os coros que tanto amamos e que gajos fixes como Nathan Williams têm resgatado para nosso deleite, com os versos repetidos sem cansar: tryin' to make it through the wall, you can see me if you're tall... juntando-se-lhe os momentos melancólicos de "Shook Down", que já é bem capaz de se ter tornado num sucesso ou não seria ouvida num PA antes de um concerto de Joss Stone, ou o slowcore de "Stutter" e "Rose Gives A Lilly", e a amorosa "Suicide Policeman". E depois: "Holing Out", "Georgia" ou "Operation", todas elas malhas de saudável electricidade pop. Sem esquecer "Rubber", fecho de disco em modo arrastado, aceno natural ao shoegaze. Posto isto, cabe a cada qual, em cada audição, encontrar o seu ponto alto num disco que está repleto deles - até porque se ouve, em "Suck", que everybody makes love in their own way. Este escriba muito humildemente escolhe a incredibilidade romântico-fofinha de "Sunday", que é canção para se olhar a cara-metade nos olhos e sussurrar um determinado «amo-te», e que é demasiado doce para não ser mencionada nem para não estar no top dois (pronto, chega de tentar influenciar outras escolhas).
Haverá, contudo, um pensamento que não nos sai da cabeça: estes putos são mesmo de Londres? A pureza pop de Yuck consiste precisamente em conseguir ser mais Yankee que os Yankees, algo que se deve, voilá, à era da informação e consequentemente da quebra de fronteiras e pré-concepções. Como se já não bastasse ser mais nineties que os próprios. O nome pode levar para o campo da repulsa, mas Yuck é o contrário absoluto de meter nojo; é um suave embalo pelo campo do retro, quer queiramos quer não, quer sintamos esse apelo nostálgico quer não. E é disco suficiente para os colocarmos desde já no pelotão das boas coisas que sucederam na segunda década do século da regurgitação.
pauloandrececilio@gmail.com
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