DISCOS
Sven Kacirek
The Kenya Sessions
· 11 Jul 2011 · 10:57 ·
Sven Kacirek
The Kenya Sessions
2011
Pingipung / Kompakt / Flur


Sítios oficiais:
- Sven Kacirek
- Pingipung
- Kompakt
- Flur
Sven Kacirek
The Kenya Sessions
2011
Pingipung / Kompakt / Flur


Sítios oficiais:
- Sven Kacirek
- Pingipung
- Kompakt
- Flur
Entre o "field recording" no Quénia e a montagem num estúdio em Hamburgo.
Desde tempos imemoriais que as civilizações europeias atravessam o Mediterrâneo ou o Atlântico até alcançarem territórios africanos, em busca de matérias-primas. Não apenas escravos, petróleo e diamantes, mas também ritmos, instrumentos e melodias. Entre a pilhagem e a respigação, grande parte da música dita ocidental que consumimos presentemente vai beber muita da sua inspiração a elementos africanos: vozes, tradições, estilos. E vice-versa, tal como comprova a complexa relação entre o funk de James Brown e o afrobeat de Fela Kuti. Quem influencia quem?

Brian Eno e David Byrne inauguraram uma nova vaga de exploração do filão sonoro africano através do subliminal My Life in the Bush of Ghosts (1981), título de uma obra do escritor nigeriano Amos Tutuola. Desde então que proliferam as secções de “world music” nas lojas de discos do mundo ocidental, a par de clones dos Talking Heads que mesclam batidas africanas à Tony Allen em linguagem pop-rock de consumo rápido e indolor. Vampirismo puro e duro, para fins-de-semana num loft em Tribeca (embora soe melhor a referência a Brooklyn).

Posto isto, que escrever sobre Sven Kacirek? Produtor alemão e virtuoso baterista de jazz, não se limitou ao trabalho de corte e cola no seu estúdio climatizado em Hamburgo. Deixou para trás os computadores e demais parafernália electrónica e viajou até ao Quénia, onde percorreu centenas de quilómetros, munido de material de gravação, registando cânticos e instrumentalizações. Em registo “field recording”, imbuiu-se na cultura local, nas tribos, nas pequenas povoações, como que num roteiro, antes de mais, sociológico e antropológico. Um trabalho sério e meticuloso.

Recolhida a matéria-prima, retornou ao estúdio de Hamburgo, onde procedeu à montagem desse majestoso documento intitulado The Kenya Sessions (edição Pingipung/Kompakt). Partiu dos registos vocais e foi introduzindo instrumentalizações – percussão, marimba, piano. O resultado é algo de verdadeiramente maravilhoso. Sem quaisquer artificialismos, cacofonias, vampirismos. Todo um respeito absoluto pela envolvência cultural, pelos silêncios, pela sacralização dos cânticos que são a espinha dorsal das 15 composições. Há muito que não ouvíamos algo assim, tão autêntico, tão sublime. Nos antípodas de tanta música contemporânea que fusiona apenas por fusionar.
Gustavo Sampaio
gsampaio@hotmail.com

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