O alemão Alexander Schubert é um assumido experimentador interessado na ligação entre a música acústica e a electrónica. Um dos projectos onde está envolvido é o grupo Ember, meritório quarteto free jazz onde se destaca a vertente electrónica - da sua responsabilidade, claro. Com este projecto Sinebag Schubert promete apresentar-nos o seu lado mais pop. E se é verdade que não podemos dizer que ele nos engana (porque sempre andou nos territórios de experiência abrasiva), não se espere daqui qualquer matéria reconhecível em “pop” convencional.

O material base utilizado por Schubert provém essencialmente de gravações de diversos instrumentos (e até voz), recolhidas de actuações ao vivo, que aqui são manipuladas, redefinidas, transformadas. O resultado é um amálgama imensa, que primeiramente mostra uma ideia de confusão, mas à medida que evolui revela-se mais complexa. Apesar desta música soar globalmente fragmentada, sente-se uma estranha consistência nas peças, que ultrapassando a estranheza da forma nos vão seduzinho de modo dissimulado.

Neste oblíquo processo de conquista as peças vão evoluindo, passando de uma estranha visceralidade inicial, para um doce familiaridade. Vejamos um exemplo, ali na faixa “Wake up, Fly Ray”: de repente, esquecemos o burburinho sujo que emoldura o fundo sonoro e ficamos concentrados na guitarra acústica, dedilhada, que parece andar às voltas, envolvente. Mas o tema não se fica por aí e mais à frente voltamos a ser surpreeendidos, de forma brusca, para o final evoluir num inclassificável ritmo electrónico. E isto não é só um tema, é uma lição para a vida: mais do que o primeiro impacto, o que importante é evitarmos julgamentos precipitados e termos a paciência de esperar até ao fim, para conhecermos tudo melhor. Aqui está uma boa lição para as miúdas.