She Talks Silence é, essencialmente, um retrato do Japão. Ora se dedica ao sexo sujo e violento da electricidade das guitarras ecoando os gritos de gente como os Mainliner ou os desaparecidos Rallizes Dénudés, ora se desvia para o encanto da pop doce tal qual explanado por meninas como Maki Nomiya ou Kahimi Karie, ora mantém vivo o espírito do rock n´roll assim como os nobres Guitar Wolf. Uma verdadeira amálgama, então, que faz de Some Small Gifts, mini-álbum de 2011, um registo interessante q.b. de uma artista de quem pouco se sabe - pelo menos no alfabeto latino.

O gosto é pela melodia e pelo fuzz; "Not Hearing" abre o disco em registo apressado, com a bateria a entrar com um ritmo pós-punk e a guitarra mostrando-se solenemente enérgica (vêm à cabeça os primeiros discos de Mão Morta, sem querer fazer comparações estapafúrdias). Tudo se altera com "Bedflower", onde pela primeira vez se ouve a voz da moça, suave e pueril como nos afirmam os pré-conceitos que temos acerca das japonesinhas. O ponto alto deste mini-álbum encontra-se, contudo, em "Dead Romance", onde, sob os sussurros, já se detectam algumas palavras de inglês e a batida rock não deixa corpo algum indiferente.

Destacar ainda: o surf fragmentado de, precisamente, "Fragment", e a faixa homónima com que se encerra este conjunto de seis canções e pouco mais de vinte minutos. Não fugindo muito à premissa pop de rosto crespado, resvalando no entanto para terrenos mais ternos aqui e ali tendo por base a dinâmica quiet/loud, Some Small Gifts é um conjunto de canções que, facto, encontraríamos em qualquer cave em qualquer ponto do ocidente, mas que, facto, são igualmente agradáveis ao ouvido. É sempre de salutar quando assim é.