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Taking Pictures
Friends Are Ghosts
· 28 Jul 2003 · 08:00 ·

Taking Pictures
Friends Are Ghosts
2002
My Pal God
Sítios oficiais:
- Taking Pictures
- My Pal God
Friends Are Ghosts
2002
My Pal God
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- Taking Pictures
- My Pal God

Taking Pictures
Friends Are Ghosts
2002
My Pal God
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- My Pal God
Friends Are Ghosts
2002
My Pal God
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- Taking Pictures
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Não se sabe muito bem se este álbum de estreia dos Taking Pictures parece gasto ou apenas frugal. Ou então, se é um simples álbum de rock, daquele rock que dá mesmo ganas de tocar com os amigos numa garagem de paredes em ruínas, atafulhada de gear e velharias, preciosidades e lixo que se vai acumulando durante os ensaios. Disseram-me uma vez que o jazz parece dar ainda mais prazer a quem toca do que a quem ouve. Pois bem, se isso é verdade, então este álbum parece dar um prazer enorme a quem toca como a quem ouve - tem é de se ouvir num concerto em Agosto, daqueles que ouvimos e queremos descomprometidos e afáveis e leves e confortáveis e atentos. Não que a música do trio Mat Daly, Noah Leger e Matt Jencik (ou seja, os math rockers Hurl sem o guitarrista Dan Wilson) seja despreocupada e bidimensional. Mas é directa e angular, dura e cortante, através dos traços irregulares das guitarras, quais pinceladas expressionistas numa enorme tela. (O atelier estaria necessariamente sujo. Como a garagem de paredes em ruínas em que se imaginam os Hurl, em 1991, ano da formação, a dar os primeiríssimos passos). A exploração sonora parece ser tão natural e espontânea que a audição de "Friends Are Ghosts" nos coloca no lugar dos músicos, como se a descoberta dos acordes e das linhas de baixo fosse evidente - como se no quadro expressionista de que falo as tintas jorrassem directamente dos tubos numa fúria gestualista -, mas com o controlo e a complexidade que falta ao punk. A fúria é apenas aparente. Por trás, o trio de Chicago pode de certeza reconstruir estas canções quando quiser, porque são feitas de uma dinâmica explicável matematicamente, equações de acordes e, principalmente, picos de som que se transformam exponencialmente em momentos de zénite avassaladores. Nesses momentos, os Taking Pictures brotam rock por todos os poros, aquele rock tão orgânico como o próprio corpo, ou seja, guitarras como prolongamento dos braços, cordas como prolongamento dos dedos, o microfone como prolongamento da língua. O som torna-se a expressão fundamental, furioso, eufórico, intrincado. E nós indulgentes com as falhas das equações, porque a matemática que se aprende em Chicago não é certamente feita de axiomas castradores. Ela aprendeu com o ruído que provinha do punk e do grunge e que recomendava o caos e o acaso como ferramentas sonoras. Por isso, quando digo que os Taking Pictures podem reconstruir as canções, acrescentem que essa reconstrução depende sempre do momento do próprio corpo. Existem sempre muitos meios, muitos caminhos que se desbravam lentamente até nos apercebermos que existe um objectivo mais ou menos tangível, uma direcção que afasta a música de eventuais resultados inócuos e estéreis, apesar dos elementos que a compõem serem simples. Uma voz, a de Mat Daly, dura e incisiva, uma guitarra, uma Telecaster de sons metálicos e agudos, que se relaciona incrivelmente com os outros instrumentos, servindo de suporte e de rede de segurança para qualquer rumo que a música tome, um baixo algo treble(mais na sensação que fica do que no som em si) e de frases irregulares e autónomas que evitam a sustentação dos acordes da guitarra, e uma bateria (a de Noah Leger) com sintomas de hiper-actividade, dos pratos de choque à tarola, passando pelo constante rufar a antecipar e a alertar um refrão. E os coros - practicamente tão duros como a leading voice - que acrescentam tridimensionalidade nas duas dimensões possíveis: a da harmonia e a da dissonância.
E se nas imagens da capa as roupas repousam no chão de mosaico, como nas fotos de Olivero Toscani, embora trocando sangue e buracos de balas por suor e jeans coçados junto a um telefone - ficamos a saber que do outro lado deste existe apenas o fantasma, ou nem isso -, por trás do fotógrafo estará o palco, na mesma feito de suor e jeans coçados mas com o acrescento do prazer inebriante do próprio corpo.
Nuno CruzE se nas imagens da capa as roupas repousam no chão de mosaico, como nas fotos de Olivero Toscani, embora trocando sangue e buracos de balas por suor e jeans coçados junto a um telefone - ficamos a saber que do outro lado deste existe apenas o fantasma, ou nem isso -, por trás do fotógrafo estará o palco, na mesma feito de suor e jeans coçados mas com o acrescento do prazer inebriante do próprio corpo.
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