DISCOS
Fennesz / Daniell / Buck
Knoxville
· 17 Jan 2011 · 10:19 ·
Fennesz / Daniell / Buck
Knoxville
2010
Thrill Jockey / Mbari


Sítios oficiais:
- Thrill Jockey
- Mbari
Fennesz / Daniell / Buck
Knoxville
2010
Thrill Jockey / Mbari


Sítios oficiais:
- Thrill Jockey
- Mbari
Arrancaram às cegas mas encontraram a escadaria para o céu.
A convite do Big Ears Festival (de Knoxville, Tennessee) juntaram-se em palco Christian Fennesz, David Daniell e Tony Buck. Com estes músicos juntos pela primeira vez para uma actuação ao vivo, restava aos espectadores a certeza da incógnita. Esse primeiro encontro correu bem, ficou registado e é exactamente o disco que aqui temos. Este álbum encontra-se repartido em quatro momentos, quatro faixas que documentam a evolução e o crescimento do entendimento musical.

Sem planos prévios, esboços ou ideias predefinidas, a música que aqui tempos é fruto da improvisação em tempo real. Desenvolvida no palco, resultou da comunicação e interacção instrumental entre os três músicos. A primeira faixa “Unüberwindbare Wände” arranca com os três instrumentistas reservados, num registo de contenção e pesquisa, lançando cartas menores, guardando os trunfos. À medida que se vai percebendo um caminho comum os músicos encarrilam, lançam os ases, surge um nervoso crescendo de intensidade. Chegámos ao fim dos seus oito minutos e meio chamuscados por aquela lenta combustão (e o pós-rock morreu p'raí há uns dez anos).

É nessa espécie de lenta combustão que todo o álbum vive, aliás. Na segunda faixa já os músicos não estão perdidos, arrancam desde logo num sentido comum, desenvolvendo uma contínua tensão controlada. Repete-se a fórmula, o crescendo que não rebenta, o clímax que nunca chega. Ao terceiro tema, “Antonia”, as marés acalmam, as águas voltam a soar pacíficas; a turbulência fica guardada para depois, explode no tema final, após mais um crescendo, demorado, intenso, imenso.

A guitarra eléctrica de Daniell, os efeitos electrónicos e guitarra de Fennesz e a bateria de Buck formam uma massa sonora una, evitando aquele cliché de “cada um a tocar para o seu lado” (a típica frase parva, que raramente se aplica, mas aqui é ainda mais falsa). Isto é improvisação que desemboca num fim comum, num bloco sólido, numa verdadeira comunhão instrumental. Deste partilhado esforço nasceu um magnífico resultado: magnífica tensão, feita de contenção e controlo, rigor e disciplina, comunicação, criatividade imensa. Tudo isto transforma Knoxville num épico diamante raro, num marco da música criativa desta nossa época.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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