Dave Jones é um valor seguro para quem conheça relativamente o seu trabalho desde os distantes dias do clássico "Neighbourhood" (1999). Considerado, à semelhança de El-B, um dos pioneiros do UK garage e do dubstep por meia comunidade ligada à actual bass music, e definitivamente mais reverenciado como Zed Bias do que pelo nome de nascença, Jones tem percorrido nestes últimos 11 anos as estreita avenidas do garage mais obscuro, mas sempre enamorado, imiscuindo as suas linguagens com os seus próprios derivados, como o dubstep ou UK funky. Não se mantendo muito tempo no mesmo local, vai procurando progredir tecnicamente, transformando o seu som sem que se desvirtue a natureza soulful do UK garage. Talvez esse processo não seja tão perceptível quando assina como Zed Bias, mas quando se assume com Maddslinky a variedade estilística é mais evidente, tornando a abrangência num ditame que lhe permite outras formas exploratórias do ritmo.

Quem não se esqueceu do disco de estreia editado em 2002, o muito ignorado Make Your Peace – agora reeditado pela mão da Tru Thoughts –, recorda-se na certa do beneplácito que envolveu sobejas partes do UK garage e o broken beat numa fascinante promiscuidade que inspirou um grupo limitado de atentos produtores que, já na altura, desenvolviam os princípios elementares do que se viria a chamar dubstep. Mas Make Your Peace sobressaiu-se essencialmente pela luminosidade e pelo espaço menos condensado que criou para o broken beat que, como género, se lançava amiúde em especulações mais formais. Menos austero, de minudências soul, funk e jazz, Make Your Peace foi e – é ainda hoje – um tratado eloquente que o tempo não castigou com severidade. Isto apesar de ocasionalmente revelar algum erosão natural, consequência dos elementos que ditam as tendências do underground. Em comparação a outros produtos nascidos nos laboratórios da Laws of Motion – nomeadamente os grandes monumentos erguidos ao broken beat que foram, e também ainda o são, The Future Ain't The Same As It Used 2 B (1999) dos Neon Phusion e Feed The Cat (2002) de Agent K –, o primeiro disco de Maddslinky perdeu ligeiramente a opulência estética que envergava – como fruto fresco da novidade – sem nunca, no entanto, perder o sentido de pertinência que o ergueu.

Seis anos depois, e muitos trabalhos no pequeno formato como Zed Bias, Dave Jones voltou a vestir a pele de Maddslinky para editar Make a Change. E pegando na ideia deixada pelo título, é de alguma mudança que se trata face ao trabalho debutante. Especificamente na forma com larga a doutrina broken beat e expõe a UK garage a novas provações. Num claro reforço das linhas de baixo, herança distinguível do dubstep, numa nova firmeza rítmica, consequência da geração UK funky que atravessamos, e na intensificação do fluxo radiante de uma soul de “gargem�, Make a Change é a actualização possível em álbum de assinatura própria das novas linguagens urbanas, pelo menos as que interessam neste preciso momento. Perto de ser um resumo dos elementos que estimulam o underground londrino, compila com firmeza uma mão cheia de ideias, que não sendo transcendentais, expõem com rigor a proficiência de Dave Jones e o seu sincretismo capaz, uma vez mais, produzir um disco coerente a partir das mais distintas coordenadas da música urbana. Sem descartáveis, Make a Change, que alberga convidados (Mr.Scruff, Ghost1, Skream, Tawiah, Paul Randolph) que enriquecem toda a acção, é um dos mais consistentes discos UK funky e dubstep em longa duração nestes últimos tempos. Um facto raro que nos elucida bem sobre as capacidades dos dois géneros em gerar riqueza substancial para além dos 12" e dos EPs.