DISCOS
Igor Boxx
Breslau
· 13 Dez 2010 · 10:39 ·

Igor Boxx
Breslau
2010
Ninja Tune
Sítios oficiais:
- Igor Boxx
- Ninja Tune
Breslau
2010
Ninja Tune
Sítios oficiais:
- Igor Boxx
- Ninja Tune

Igor Boxx
Breslau
2010
Ninja Tune
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2010
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Álbum de memórias de uma outra Polónia convertido em banda-sonora. Uma singular excursão por um tempo que já não volta.
História. Muitas vezes reduz-se tudo a ela, aos acontecimentos que marcaram o tempo. A infância tem muitas histórias. Umas mais felizes que outras, mas todas elas incapazes de nos deixarem indiferentes. E a nostalgia não deixará provocar sentimentos contraditórios quando o álbum de fotos é desfolhado em busca da memória semi-perdida. Há cheiros que marcam, sons que ficam, imagens que perduram, pessoas que nunca morrem, acontecimentos que nos moldam. Tudo é mais ou menos absorvido pela enorme esponja que é o cérebro de um infante/ adolescente que descobre o mundo a cada minuto.
Cada um na sua arte nunca poderá deixar de usar a memória para contar a sua história. Os mais hábeis saberão usar os fragmentos do seu passado para redigir novas narrativas, como se pegassem no velho álbum de fotos e as utilizassem para criar uma nova realidade. E é aqui que chegamos, particularmente, a Breslau o disco de estreia a solo de Igor Pudlo, aparentemente ex-Skalpel, agora com o código de guerra Igor Boxx.
Nascido e criado em Breslau, actualmente conhecido por Wroclaw, Polónia, Igor, apesar de não ter vivido os acontecimentos da invasão alemã e do grande cerco em 1945 do Exército Vermelho à cidade, cresceu (nos anos 60 e 70) num mundo conservador que dava os primeiros passos para o capitalismo dito ocidental, para liberalismo social e para o modernismo cultural. Foi nessa dicotomia em que a história da cortina de ferro marcava o passado e o livre pensamento tentava marcar o futuro que Igor cresceu.
Tanto influenciado pelo jazz, pelo punk, pelo krautrock e outras tendências sonoras psicadélicas que se ouviam nos cantos mais recônditos da cidade, Igor Boxx foi construindo o seu próprio álbum de memórias sonoras enquanto absorvia as peculiaridades sociais e politicas. Breslau é o culminar de vários anos de recolha de fragmentos, de montagens, colagens em que tenta sumarizar uma vivência de constantes descobertas.
As técnicas de manipulação dos samplers remetem para os trabalhos anteriores nos Skalpel. Nesse sentido não se sentem os impactos da diferença. Mas Breslau ganha o selo de excelência pelas sobreposições das camadas sonoras, pelo caldeirão fusionista em que o velho jazz polaco é submetido a terapias de choque rock, o encanto inocente do swing é encantado pelos delírios do dub, muito groove orgiástico, obscuro e nervoso a sodomizar-se por velhas bandas sonoras de arrepiantes filmes de terror russo ou pela irritante estática do vinil. Há muita ilusão do idílico enquanto se vive o medo de sermos torturados por agentes do KGB. Muitos filmes, muitos, indeed.
Há tensão latente em boa parte desta música, tal como há um conceito sociopolítico na forma como Igor Boxx reconstrói diversas imagens do passado. Não há palavras para fazer descrições, para fazer politica tal como a conhecemos. A mais-valia de Breslau é fazer-se valer de todos os sons, melodias, ritmos, assombros, temores profundos ou apreensões. São diversas partes de um puzzle sugestivo e subjectivo onde faltam sempre peças. É um disco conceptual que não se pode considerar difícil, mas também não é propriamente um disco de melodias óbvias. Agora que é um dos mais estimulantes discos deste ano pela forma como projecta, por vezes de forma violenta, imagens na mente, disso não há dúvidas. Para memória futura: excelente.
Rafael SantosCada um na sua arte nunca poderá deixar de usar a memória para contar a sua história. Os mais hábeis saberão usar os fragmentos do seu passado para redigir novas narrativas, como se pegassem no velho álbum de fotos e as utilizassem para criar uma nova realidade. E é aqui que chegamos, particularmente, a Breslau o disco de estreia a solo de Igor Pudlo, aparentemente ex-Skalpel, agora com o código de guerra Igor Boxx.
Nascido e criado em Breslau, actualmente conhecido por Wroclaw, Polónia, Igor, apesar de não ter vivido os acontecimentos da invasão alemã e do grande cerco em 1945 do Exército Vermelho à cidade, cresceu (nos anos 60 e 70) num mundo conservador que dava os primeiros passos para o capitalismo dito ocidental, para liberalismo social e para o modernismo cultural. Foi nessa dicotomia em que a história da cortina de ferro marcava o passado e o livre pensamento tentava marcar o futuro que Igor cresceu.
Tanto influenciado pelo jazz, pelo punk, pelo krautrock e outras tendências sonoras psicadélicas que se ouviam nos cantos mais recônditos da cidade, Igor Boxx foi construindo o seu próprio álbum de memórias sonoras enquanto absorvia as peculiaridades sociais e politicas. Breslau é o culminar de vários anos de recolha de fragmentos, de montagens, colagens em que tenta sumarizar uma vivência de constantes descobertas.
As técnicas de manipulação dos samplers remetem para os trabalhos anteriores nos Skalpel. Nesse sentido não se sentem os impactos da diferença. Mas Breslau ganha o selo de excelência pelas sobreposições das camadas sonoras, pelo caldeirão fusionista em que o velho jazz polaco é submetido a terapias de choque rock, o encanto inocente do swing é encantado pelos delírios do dub, muito groove orgiástico, obscuro e nervoso a sodomizar-se por velhas bandas sonoras de arrepiantes filmes de terror russo ou pela irritante estática do vinil. Há muita ilusão do idílico enquanto se vive o medo de sermos torturados por agentes do KGB. Muitos filmes, muitos, indeed.
Há tensão latente em boa parte desta música, tal como há um conceito sociopolítico na forma como Igor Boxx reconstrói diversas imagens do passado. Não há palavras para fazer descrições, para fazer politica tal como a conhecemos. A mais-valia de Breslau é fazer-se valer de todos os sons, melodias, ritmos, assombros, temores profundos ou apreensões. São diversas partes de um puzzle sugestivo e subjectivo onde faltam sempre peças. É um disco conceptual que não se pode considerar difícil, mas também não é propriamente um disco de melodias óbvias. Agora que é um dos mais estimulantes discos deste ano pela forma como projecta, por vezes de forma violenta, imagens na mente, disso não há dúvidas. Para memória futura: excelente.
r_b_santos_world@hotmail.com
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