A carreira de Tav Falco, nascido artisticamente na mesma época dos Cramps, pontua-se por algumas paragens mais ou menos longas. Esta última durou dez anos desde o último disco com os Panther Burns, a banda de sempre; Panther Phobia, datado de 2000. Desde então tem actuado principalmente na Europa, após ter-se mudado de armas e bagagens para Viena e após ter encontrado inspiração em Paris.

Mas é a Argentina que encontra um espaço nesta nova etapa dos Panther Burns. O ritmo rock n' roll que forma, naturalmente, a base da sua sonoridade mistura-se com influências do tango para criar um híbrido simultaneamente sujo e sofisticado, onde a garagem se dilui nos salões de baile (ou o contrário?), criando um contraste claro entre, por exemplo, "Administrator Blues", que é rock à séria, e "Tango Fatale", que é uma balada triste pontuada com acordeões, criando uma ponte entre Buenos Aires e Memphis. Soa estranho? De todo. O registo vocal de Falco, esse, é pungente como se pediria, como um uivo prolongado à lua do último dos lobisomens.

De entre outras canções que sobressaem do disco destacam-se "Sympathy For Mata Hari", riff bluesy repetido ao longo de toda a faixa, "Budapest" e "Garden Of The Medicis", onde a influência de Viena é notória numa valsa bonita marcada pelo grito de guerra de I never want to see another pretty face. É um regresso em grande? Tal é talvez um exagero, mas os fãs mais acérrimos não ficarão desiludidos. Acima de tudo prova que, como em tudo hoje em dia, a velhice já não é o que era.