DISCOS
Blundetto
Bad Bad Things
· 29 Set 2010 · 09:56 ·
Blundetto
Bad Bad Things
2010
Heavenly Sweetness


Sítios oficiais:
- Blundetto
- Heavenly Sweetness
Blundetto
Bad Bad Things
2010
Heavenly Sweetness


Sítios oficiais:
- Blundetto
- Heavenly Sweetness
Coisas más não se vislumbram neste saudável passeio pelos trópicos.
Por vezes um pouco de sol na música não faz mal nenhum. Luz e calor capaz de despoletar a escrita inteligente e – no mesmo golpe – inspirar vozes embaladoras de espíritos. Esse processo nem sempre possui uma receita de fácil gerência. Mas com engenho tudo é possível. Veja se o caso deste discreto registo do francês Blundetto que, não fosse Gilles Peterson com alguma insistência o divulgar nas suas passadeiras habituais, ficaria o resto da eternidade relegado ao desconhecido.

Bad Bad Things é o típico caldeirão modernista onde a fusão de várias coordenadas sonoras (afro-beat, funk, reggae, Jazz, dub, cumbia e soul) é o elemento motriz de toda a acção. Procurando um inevitável paralelismo, Quantic não deixará de ser um nome óbvio a saltar à memória dada a nova escola jazz/ funk que inteligentemente instituiu no início da década. Mas este disco não se fica por comparações simplistas.

Dir-se-ia que tudo começa em Kingston. O resto vai surgindo naturalmente. A abrangência passa de um simples interesse empírico para uma necessidade racional de fazer música do mundo para o mundo. Daí em diante África e América do Sul passam também a estar declaradamente acessíveis num mapa sonoro soul/jazz que não ignora uma pop que se expressa com maior eloquência a contemplar o pôr-do-sol.

De forma analítica, não haverá nada de novo na música de Bad Bad Things. Mas é aí que entra a luz do Sol para inverter os sentidos, porque é de acordes empenhados em fazerem-se sentir no centro emocional que se trata. A escuta é propositadamente uma experiência sem compromissos com o passado ou o presente – a releitura de "Nautilus" (1974) de Bob James é disso exemplo ao exalar nova vida sem comprometer a matriz original. Shawn Lee, Tommy Guerrero, Hindi Zahra, Chico Mann, Budos Band são preciosas colaborações na coloração cénica, reiterando uma universalidade que Blundetto procurou acarear, formalizando uma consistência capaz de proporcionar genuínos momentos de prazer.

Bad Bad Things expõe, recorrendo também a um sofisticado cocktail electrónico, uma envergadura poética na escrita criativa e irrompe pela alma com texturas vocais temperadas com afecto – aqui, Hindi Zahra é divinal –, design orquestral caloroso e mavioso e uma bem estudada geografia musical capaz da mais pertinente especulação. Tudo simples, sem rupturas, mas muito eficiente.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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