DISCOS
The Nels Cline Singers
Initiate
· 15 Jul 2010 · 22:05 ·
The Nels Cline Singers
Initiate
2010
Cryptogramophone
Sítios oficiais:
- The Nels Cline Singers
- Cryptogramophone
Initiate
2010
Cryptogramophone
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- The Nels Cline Singers
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The Nels Cline Singers
Initiate
2010
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Initiate
2010
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O guitarrista dos Wilco apresenta mais uma amostra do seu trabalho fora da casa-mãe. E mostra-se em grande, mais uma vez.
Nels Cline nunca foi um guitarrista de uma só paixão. Além dos Wilco, onde a sua guitarra inteligentemente controla a dinâmica do grupo, Cline tem explorado uma interessantíssima carreira a solo, que vai balançando entre os mundos do rock, do jazz e da improvisação, sem se deixar cair definitivamente em nenhum campo, deixando-nos também indecisos sem saber em que gaveta encaixar esta guitarra insubordinada.
Aqui há uns tempos vimo-lo ao vivo no Jazz Em Agosto (trio improv com a baixinha imprevisível Andrea Parkins e o seguro baterista Tom Rainey, foi em 2006) e entretanto tem editado uma série de discos acima da média: além do seu grupo Nels Cline Singers (Draw Breath, de 2007, é grande disco), ou encontros ad-hoc (como a gravação “Immolation-Immersion” de 2005, com Wally Shoup e Chris Corsano), trabalhou a brilhante revisão New Monastery (2006), onde deu uma nova vida ao disco clássico do pianista Andrew Hill, recentemente falecido – e esse disco/revisão foi um dos melhores álbuns desse ano para muita boa gente (diga-se, principalmente gente do jazz, sensível ao legado de Hill).
Posto isto, há que assumir que este novo disco, Initiate, quarta gravação assinada pelos Nels Cline Singers, não é trabalho de iniciado. Este disco é trabalho de gente que sabe daquilo que está a fazer, que conhece muito bem os caminhos que calcorreia, que conhece cada corda, cada pedal, cada riff, cada nota. Este é um disco duplo onde Nels Cline vai explorando sem medo as possibilidades sonoras do seu instrumento.
O disco arranca com uma subversiva espiral sonora (“Into It”), mas logo na segunda faixa um ritmo rock quadradão abre espaço para a guitarra inventar efeitos e no terceiro tema encontramos uma calmaria que lembra a música do skater Tommy Guerrero (do genialmente simples e hipnótico A Little Bit of Something). Três temas, completamente antagónicos, inconciliáveis.
E isto é apenas o início do primeiro disco (relembremos, são dois), onde Cline além de exibir a sua impressionante técnica, mostra dominar diversos domínios sonoros, quer estejam mais próximos de uma abordagem noise (que início filtrado é aquele da faixa “Red Line to Greenland”?) quer se aproximem de um hardrockismo mais padronizado, do qual Cline não se envergonha - não se pode destacar apenas um tema, esta foleirice está espalhada ao longo de varias faixas. Há ainda o dolente sentimentalismo de duas “Mercy” (“Supplication”, faixa 6, e “Processsion”, faixa 12, e também de “Zingiber”) e o dedilhar obsessivo, versão acústica, de “Grow Closer”. E isto foi apenas o primeiro disco.
A segunda rodela arranca em tempo lento (oito minutos que mais para o fim se transformam em inferno), mas logo na seguda faixa entra num excesso de notas (uma abordagem guitarra-jazz que Cline bem domina), para depois adormecer em coma e no final rebentar em excesso. É assim um disco de Cline, nunca sabemos aquilo que nos espera.
A mais clara ligação ao jazz em todo o disco acontece com “Blues, Too”, dedicada ao guitarrista jazz Jim Hall, que Nels Cline classifica como “genius of improvised music who happens to play the guitar” (palavras justas e simpáticas, a sério, ouçam o disco “Undercurrent”, a meias com o génio Bill Evans), e esta música é belíssima nos seus plenos sete minutos.
E quando estávamos à espera da linearidade, chega “Thurston County”, que surpreende na irregularidade (só pode ser homenagem a Moore). O disco encerra com “Boogie Woogie Waltz”, catorze minutos de boogie-groovie-qualquer-coisa, final enérgico para um disco que mostra um guitarrista capaz de desempenhar múltiplas funções, enérgico polivalente, qual Maxi Pereira, sempre capaz de surpreender pela intensa entrega em cada jogada.
Nels Cline é um impressionante guitarrista polivalente que nunca deixa de surpreender, que nunca se deixa ficar num só estilo, que controla o campo todo. Initiate, por estes Nels Cline Singers, é duas horas e quinze minutos de diversidade, de extraordinário virtuosismo, de genialidade diversificada, de um espectro estilístico incontrolavelmente alargado.
Nuno CatarinoAqui há uns tempos vimo-lo ao vivo no Jazz Em Agosto (trio improv com a baixinha imprevisível Andrea Parkins e o seguro baterista Tom Rainey, foi em 2006) e entretanto tem editado uma série de discos acima da média: além do seu grupo Nels Cline Singers (Draw Breath, de 2007, é grande disco), ou encontros ad-hoc (como a gravação “Immolation-Immersion” de 2005, com Wally Shoup e Chris Corsano), trabalhou a brilhante revisão New Monastery (2006), onde deu uma nova vida ao disco clássico do pianista Andrew Hill, recentemente falecido – e esse disco/revisão foi um dos melhores álbuns desse ano para muita boa gente (diga-se, principalmente gente do jazz, sensível ao legado de Hill).
Posto isto, há que assumir que este novo disco, Initiate, quarta gravação assinada pelos Nels Cline Singers, não é trabalho de iniciado. Este disco é trabalho de gente que sabe daquilo que está a fazer, que conhece muito bem os caminhos que calcorreia, que conhece cada corda, cada pedal, cada riff, cada nota. Este é um disco duplo onde Nels Cline vai explorando sem medo as possibilidades sonoras do seu instrumento.
O disco arranca com uma subversiva espiral sonora (“Into It”), mas logo na segunda faixa um ritmo rock quadradão abre espaço para a guitarra inventar efeitos e no terceiro tema encontramos uma calmaria que lembra a música do skater Tommy Guerrero (do genialmente simples e hipnótico A Little Bit of Something). Três temas, completamente antagónicos, inconciliáveis.
E isto é apenas o início do primeiro disco (relembremos, são dois), onde Cline além de exibir a sua impressionante técnica, mostra dominar diversos domínios sonoros, quer estejam mais próximos de uma abordagem noise (que início filtrado é aquele da faixa “Red Line to Greenland”?) quer se aproximem de um hardrockismo mais padronizado, do qual Cline não se envergonha - não se pode destacar apenas um tema, esta foleirice está espalhada ao longo de varias faixas. Há ainda o dolente sentimentalismo de duas “Mercy” (“Supplication”, faixa 6, e “Processsion”, faixa 12, e também de “Zingiber”) e o dedilhar obsessivo, versão acústica, de “Grow Closer”. E isto foi apenas o primeiro disco.
A segunda rodela arranca em tempo lento (oito minutos que mais para o fim se transformam em inferno), mas logo na seguda faixa entra num excesso de notas (uma abordagem guitarra-jazz que Cline bem domina), para depois adormecer em coma e no final rebentar em excesso. É assim um disco de Cline, nunca sabemos aquilo que nos espera.
A mais clara ligação ao jazz em todo o disco acontece com “Blues, Too”, dedicada ao guitarrista jazz Jim Hall, que Nels Cline classifica como “genius of improvised music who happens to play the guitar” (palavras justas e simpáticas, a sério, ouçam o disco “Undercurrent”, a meias com o génio Bill Evans), e esta música é belíssima nos seus plenos sete minutos.
E quando estávamos à espera da linearidade, chega “Thurston County”, que surpreende na irregularidade (só pode ser homenagem a Moore). O disco encerra com “Boogie Woogie Waltz”, catorze minutos de boogie-groovie-qualquer-coisa, final enérgico para um disco que mostra um guitarrista capaz de desempenhar múltiplas funções, enérgico polivalente, qual Maxi Pereira, sempre capaz de surpreender pela intensa entrega em cada jogada.
Nels Cline é um impressionante guitarrista polivalente que nunca deixa de surpreender, que nunca se deixa ficar num só estilo, que controla o campo todo. Initiate, por estes Nels Cline Singers, é duas horas e quinze minutos de diversidade, de extraordinário virtuosismo, de genialidade diversificada, de um espectro estilístico incontrolavelmente alargado.
nunocatarino@gmail.com
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