DISCOS
Diskjokke
En Fin Tid
· 18 Jun 2010 · 10:24 ·
Diskjokke
En Fin Tid
2010
Smalltown Supersound / Flur


Sítios oficiais:
- Diskjokke
- Smalltown Supersound
- Flur
Diskjokke
En Fin Tid
2010
Smalltown Supersound / Flur


Sítios oficiais:
- Diskjokke
- Smalltown Supersound
- Flur
Apadrinhado por Prins Thomas, Joachim Dyrdahl personifica a exploração do sucesso do nu-disco escandinavo.
Que adianta pegar num conceito revivalista que tem nos Kraftwerk, em Moroder ou em Arthur Russell a principal fonte de informação? E porquê fazer seu esse conceito depois de uma curta passagem por Detroit e Chicago? E qual o objectivo enrodilhar tudo na riqueza estética de um disco-sound híbrido nascido no fértil quintal de Lindstrøm & Prins Thomas? Certamente estas ideias não atingirão o zénite da originalidade. E nenhum mal vem ao mundo porque simplesmente é nesse emaranhado de referências que Diskjokke acaba por encontrar o sustento criativo que constrói – neste seu segundo disco – a ponte que o transporta da margem da indiferença estética até ao lado da pertinência narrativa. En Fin Tid é um jogo duplo a que se propõe sem grandes riscos, mas com proficiência e dignidade suficiente para não merecer ser ignorado.

Postas de parte as certezas da matemática que o alimentaram profissionalmente, o norueguês Joachim Dyrdahl decidiu definitivamente divagar pelas suposições da música sintética com suspiro humano. E rapidamente se conclui que joga com uma invulgar ambiguidade que transforma os defeitos em virtudes. En Fin Tid não é um desfile de vulgaridades, mas antes uma busca simples de respostas no passado para perguntas do presente.

Não haverá muito que o distinga dos demais que se dedicam à mesma arte na região escandinava, mas Diskjokke descodifica e simplifica a linguagem sem se perder excessivamente em redundâncias, chegando mesmo a tornar mais acessível essa mesma linguagem a quem normalmente se perde nos meandros mais complexos da escrita de autor de, por (grande) exemplo, Prins Thomas ou Lindstrøm. Esse facto poderia não abonar muito a seu favor, mas o seu jogo inteligente compensa, desviando o olhar do melómano do terreno perigoso que pisou para atingir o objectivo.

A tonalidade vai-se excitando ao longo de um disco que não receia que a inoculação do techno ou do acid-house arruíne todo o ambiente levítico que procura invocar. En Fin Tid não é um disco que se presta exclusivamente à contemplação deleitosa do cosmos. Em ocasiões, esta música proporciona também liberdade na pista de dança sem que um hedonismo exacerbado se apodere das almas errantes. As semelhanças com a música de Bjørn Torske (igualmente norueguês) também emergem quando esse equilíbrio entre ritmos másculos, sintetizadores reverberantes e melodias charmosas e efeminadas invadem o espaço sideral.

Joachim Dyrdahl não terá o mesmo poder de persuasão dos seus compatriotas, nem o mesmo desejo de liberdade transcendente. Esta música poderia parecer-se sempre com algo que já conhecemos de outras andanças, o que até poderia ser negativo ao ponto da desconsideração artística do seu autor. Mas não. En Fin Tid possui energia genuína que acaba por se transformar numa experiência positiva repleta de ingénua voluptuosidade que tanto preenche os requisitos mínimos para a deambulação da alma como para a agitação do corpo.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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