O Fenn O’Berg faz-se da sobreposição de três nomes, três apelidos de músicos que esbatem fronteiras. Christian Fennesz (laptopista favorito), Jim O’Rourke (geniozinho polivalente, com um All Kinds of People ~Love Burt Bacharach~ ainda fresco) e Peter Rehberg (AKA Pita, também patrão da Mego) são, cada um à sua maneira, construtores de universos sonoros bem demarcados, que por vezes ultrapassam até os seus próprios limites. Juntos Fenn, O’ e Berg desenvolvem uma música assente em estratégias de improvisação, tendo por base comum o manacial electrónico, trabalhado num sentido de unidade colectiva.

Este é o primeiro trabalho de estúdio e é bem notória a diferença para os anteriores registos gravados ao vivo – The Magic of Fenn O’Berg (1999) e The Return of Fenn O’Berg (2002). Menos intenso, menos directo, este som é também mais controlado, mais conciso, mais trabalhado. Sem a vivacidade que marca habitualmente qualquer actuação “live�, principalmente em regime improvisado como é o caso, o trio tem aqui a oportunidade de conduzir um som metodicamente pormenorizado, contribuindo com maior precisão nos detalhes.

A tensão está toda lá, mas podemos ser levados ao engano pela discrição, que poderá ser inocentemente confundida com pouca expressividade. Errado, este é um disco de maturidade, de segurança, que mostra que três músicos confiantes não precisam de abusar dos limites para provar a sua razão, que preferem jogar num terreno sólido, sem exageros desnecessários. A impecável elegância com que Fennesz, O’Rourke e Rehberg conduzem os 55 minutos desta sessão In Stereo é reveladora da sua enorme inteligência artística.