Na capa de Last American Hero há um pedaço de um Best Buy, uma cadeira de lojas de aparelhos electrónicos– é uma fotografia mal enquadrada, feia, sem preocupação de ser mais do que é, um qualquer Best Buy num qualquer ponto da América. No verso do LP há uma carrinha pickup, um robô futurista sacado de um qualquer filme manhoso e o parque de estacionamento de um Best Buy. Ferraro descreve a Best Buy como um templo de Gomorra moderno. O robô é um "gladiador" da era Depois do Google.

James Ferraro, um dos adormecidos e saudosos Skaters, é autor de um universo único, fragmentado e caleidoscópico, sem paralelo na música moderna. Assina discos em nome próprio ou com pseudónimos (a lista é enorme) a um ritmo impressionante. Neles, inventou sozinho uma via em que o noise e a música contínua esventram os despojos da cultura de massas (de Beverly Hills ao culturismo), envoltos numa nuvem de ruído de fita analógica.

Last American Hero, reedição em vinil de uma das muitas cassetes limitadíssimas de Ferraro, anda quase sempre em torno de guitarra bluesy a repetir frases, num lamento em modo AM, uma linha de baixo ora funk, ora dolente, incursões de sintetizador com efeito choir (vão lá ver ao sótão).

"Headlines (Access Hollywood)" imagina uma banda sonora de um filme com deserto e poeira, com ocasionais cortes abruptos já habituais em Ferraro. "F-150 Night Eros At The Highway's End" e "Blacktop Tumble Weed" são como irmãs gémeas: há, de novo, guitarras, como raras vezes ouvimos nos discos de Ferraro, progressivamente engolidas por um sintetizador barato.

Nunca há muito mais do que isto, mas o resultado é brilhante, um dos melhores discos do músico de São Francisco. Last American Hero é uma espécie de muzak mortiço, música aparentemente menor, mas com qualidades mais psicadélicas (imersão zen) do que mil e uma recriações do rock dos anos 60.